Bloomberg Línea — As ações da América Latina listadas em Wall Street refletem o interesse do mercado em 2025, em um contexto de normalização monetária internacional e rotação parcial para ativos emergentes. O desempenho em bolsa das principais empresas da região evidencia contrastes em fundamentos, margens e estratégias de expansão.
Entre as empresas de maior capitalização e cobertura estão MercadoLivre (MELI), Petrobras (PTR4), Itaú Unibanco (ITUB4), Nu Holdings (NU), América Móvil (AMX) e Walmart de México (WALMEX*), esta última com presença regional crescente por meio de suas operações no país.
As decisões de investimento nessas companhias são guiadas pela capacidade de geração de caixa, exposição setorial e respostas a ambientes regulatórios complexos.
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A Bloomberg Línea analisou as 10 empresas latino-americanas com maior valor de mercado listadas nos EUA. Veja o consenso dos analistas e os principais catalisadores que orientam o posicionamento sobre essas ações.
Digitalização e serviços financeiros
Mercado Livre mantém sua posição de liderança no e-commerce e em soluções financeiras digitais na América Latina. Segundo um relatório do JPMorgan (JPM), “a empresa tem uma perspectiva de longo prazo muito promissora, com o comércio eletrônico ainda pouco penetrado na região”.
Poonam Goyal e Sydney Goodman, da Bloomberg Intelligence, acreditam que “o Mercado Livre está bem posicionado para continuar sendo o fornecedor dominante de e-commerce na América Latina” e que “sua unidade fintech oferece uma vantagem competitiva e continuará gerando crescimento de vendas de dois dígitos”.
Segundo dados da Bloomberg, entre os 34 analistas que cobrem a ação, 93,1% recomendam compra, 5,9% manter e apenas 1% venda. O preço-alvo médio é de US$ 2.535,46, o que implica um potencial de valorização de 11,2% frente ao preço de quarta-feira (US$ 2.280,86).
Goyal e Goodman acrescentam que “a expansão da rede de mídia de varejo do Mercado Livre representa uma oportunidade para aumentar a receita publicitária e melhorar a lucratividade”, com receitas de US$ 946 milhões ao final do 3º trimestre de 2024.
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Itaú Unibanco também está entre as ações favoritas do setor financeiro regional, sendo a segunda maior empresa em valor de mercado da região em Wall Street. O papel fechou terça-feira a US$ 6,31, com alta de 20,3% nos últimos 12 meses. O preço-alvo médio é de US$ 6,44.
Segundo a Bloomberg, 85,7% dos analistas recomendam compra, 14,3% manter e nenhum sugere venda, o que indica um potencial de valorização moderado de 2%.
No caso da Nu Holdings, a recente aprovação de sua licença bancária no México representou um avanço estratégico. O CEO e fundador David Vélez afirmou que a fintech já superou os 10 milhões de clientes no país e investiu mais de US$ 1,4 bilhão desde o início das operações.
A reação do mercado, no entanto, foi cautelosa. O Bank of America (BAC) reconheceu o avanço como positivo, mas manteve recomendação neutra ao apontar “riscos de execução que podem limitar a monetização do negócio no curto e médio prazo”.
O Citi (C) também reconheceu o avanço regulatório, mas alertou para a “volatilidade macroeconômica, desafios operacionais e exigências regulatórias” que podem restringir o impacto nos resultados consolidados.
Com a ação a US$ 11,75 na terça-feira, o preço-alvo de consenso é de cerca de US$ 11,50. O Bank of America projeta US$ 14, enquanto o Citi estima US$ 9. Entre os analistas, 50% recomendam compra, 30% manter e 20% venda.
Energia, telecomunicações e consumo
Com a queda nos preços do petróleo, a Petrobras gera visões divergentes. O Bradesco BBI criticou a guinada estratégica rumo à Índia, e disse que “o país não é um produtor tradicional de petróleo” e que “adicionar risco excessivo ao portfólio atual não parece adequado ao cenário de preços vigente”.
Analistas alertam que “o ponto de equilíbrio do fluxo de caixa livre pode passar de US$ 28 para cerca de US$ 40 com os gastos de manutenção”.
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Por outro lado, Sylvia Anjos, diretora de Exploração e Produção da Petrobras, afirmou que “os projetos da companhia são resilientes mesmo com o petróleo a US$ 28” e que “cenários de instabilidade são a regra, não a exceção”.
O Bank of America destacou que a produção doméstica da estatal alcançou 2.214.000 barris por dia, uma alta trimestral de 5,9%.O consenso de mercado é majoritariamente otimista: das 17 casas que cobrem a ação, 76,5% recomendam compra, 23,5% manter e nenhuma vender. O preço-alvo médio em 12 meses é de US$ 15,40, o que representa um potencial de valorização de 33,7% sobre a última cotação.
A América Móvil se consolida como uma das principais apostas no setor de telecomunicações. A Bloomberg Intelligence estima que “as receitas com serviços podem crescer 5,3% em moeda constante, excluindo o Chile”, e que o Ebitda de 2025 deve avançar 7,3%, impulsionado por sinergias e aumento do ticket médio por usuário.
John Butler e Hunter Sacco, da Bloomberg Intelligence, alertam que “uma desaceleração da economia mexicana devido a tarifas dos EUA pode limitar os ganhos dessas forças positivas”.
Entre os analistas, 75% recomendam compra, 18,8% manter e 6,3% venda. O preço-alvo médio é de US$ 18,58, frente aos US$ 17,16 atuais – um potencial de retorno de 8,3%.
O Walmart, com forte presença no México, mantém sua estratégia de expansão internacional com foco em negócios de alta margem.
David Bellinger, analista da Mizuho Securities, afirmou que “as ações ainda podem ter bom desempenho em uma economia moderada e, com as iniciativas em andamento, representam um ativo essencial no setor de consumo”.
O Bank of America aponta que, no primeiro trimestre, a Walmex teve resultados operacionais fracos, pressões de margem e crescente competição no varejo de proximidade.
A análise, liderada por Robert Ford, destacou que “o calendário tirou cerca de 200 pontos-base do crescimento, e a empresa enfrentou uma base comparativa elevada devido ao gasto público no mesmo período do ano anterior”.
A companhia também lida com maior pressão competitiva, com rivais como Tiendas 3B, Baras, Supercitos e Waldo’s prevendo abrir cerca de 1.000 lojas de pequeno porte em áreas onde a Walmex atua.
Dos analistas, 91,7% recomendam compra, 6,3% manter e 2,1% venda. O preço-alvo médio é de US$ 106,83, contra um preço atual de US$ 96,04 — potencial de retorno de 11,2%.
Vale (VALE3), Grupo México (GMEXICOB) e Ambev (ABEV3) completam o top 10 das empresas latino-americanas de maior capitalização em Wall Street.
Segundo o consenso de analistas da Bloomberg, 53,8% recomendam compra para Vale, 58,8% para Grupo México e 30% para Ambev. Em todos os casos, o preço-alvo médio indica potencial de valorização acima de 15%.
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