Bloomberg — As gigantes globais de petróleo devem registrar seus menores lucros trimestrais em quatro anos, depois que a geopolítica sacudiu os preços e deixou alguns de seus operadores no lado errado da volatilidade.
O petróleo subiu 31% em um período de sete semanas em maio e junho, depois despencou para encerrar o trimestre 10% abaixo de onde começou, enquanto a guerra comercial do presidente Donald Trump e os aumentos de oferta da Opep+ superaram o impulso dos ataques israelenses e americanos ao Irã.
As oscilações bruscas causaram desempenhos divergentes na Shell e na BP, que têm divisões de trading maiores do que suas rivais americanas.
A Shell alertou no início deste mês sobre lucros de trading “significativamente menores”, enquanto a BP orientou para lucros “fortes” de seus operadores de petróleo, oferecendo um impulso muito necessário para o CEO Murray Auchincloss.
No geral, a previsão é de que os lucros combinados do segundo trimestre da Exxon Mobil, Chevron, Shell, TotalEnergies e BP caiam 12% em relação ao período anterior, para US$ 19,88 bilhões, segundo estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg.
“A volatilidade geralmente é boa porque significa mais lucros de trading, mas como foi liderada pelo risco geopolítico, foi mais difícil de capturar”, disse Michele Della Vigna, chefe de pesquisa de recursos naturais do Goldman Sachs para Europa, Oriente Médio e África, em entrevista à Bloomberg News. “Não foi desastroso, mas definitivamente foi um trimestre mais difícil”.
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Os balanços das gigantes globais de petróleo começam a ser divulgados na quinta-feira (24), quando a Total divulga seus números. A Shell apresenta seus relatórios trimestrais em 31 de julho, seguida pela Exxon e Chevron em 1º de agosto e pela BP em 5 de agosto.
A norueguesa Equinor reportou na quarta-feira (23) uma queda trimestral de 19% nos lucros devido à fraqueza nos preços do petróleo e uma interrupção prolongada em uma instalação de gás natural liquefeito.
Maiores suprimentos da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus parceiros (Opep+), junto com preocupações de que as tarifas de Trump reduzam a demanda global, mantiveram os preços médios do petróleo bruto abaixo de US$ 70 por barril no trimestre, dificultando para as maiores empresas de energia do mundo financiar os retornos aos acionistas que se tornaram um ponto focal para os investidores.
As cinco supermajors devem aumentar sua dívida líquida combinada neste trimestre para cumprir os pagamentos, mesmo depois que várias reduziram recompras ou gastos no início do ano.
“Isto não é mais 2023”, disse a analista do HSBC Kim Fustier em um relatório de research. “Após dois anos de distribuição excessiva, o espaço para financiar recompras através de dívida diminuiu.” As métricas médias de endividamento estão agora “ligeiramente acima dos níveis históricos de longo prazo”, na visão dela.
A fraqueza nos preços do petróleo e gás provavelmente será parcialmente compensada por melhorias nas margens de refino tanto nos Estados Undos quanto na Europa, já que a temporada de viagens de verão no hemisfério norte estimula demanda adicional.
BP e Shell
Exxon, BP e Shell registraram melhores ganhos no refino, embora o tamanho dos ganhos seja pequeno comparado ao tamanho de suas divisões de produção maiores.
O trading será de interesse particular neste trimestre. As ações europeias do setor petrolífero caíram no início deste mês depois que a Shell divulgou um desempenho mais fraco que o esperado de sua divisão de trading, geralmente um de seus centros de lucro mais confiáveis.
Mesmo assim, a Shell tem sido a empresa de melhor desempenho entre as cinco maiores empresas de energia este ano, com suas ações subindo cerca de 10%, apesar da queda de 8% no petróleo Brent.
O desempenho superior da Shell comparado ao da BP gerou especulações de que ela fará uma oferta para comprar sua rival sediada em Londres, que ficou para trás depois que sua mudança para energia de baixo carbono não deu resultado.
A major anglo-holandesa disse que não tem intenção de fazer uma oferta no final de junho, movimento que impede uma oferta por pelo menos seis meses sob as leis de valores mobiliários do Reino Unido. Mas o episódio provavelmente levará analistas a bombardear o CEO Wael Sawan com perguntas sobre sua estratégia de longo prazo.
Com uma iminente oferta de aquisição da Shell fora da mesa, o esforço da BP para refocalizar em suas raízes de petróleo e gás é crucial para reverter anos de desempenho ruim.
A major britânica em dificuldades, que está sob pressão da gestora Elliott Investment Management, com perfil ativista, nomeou o ex-CEO da CRH Plc Albert Manifold como seu novo presidente na segunda-feira, substituindo Helge Lund.
A BP espera reportar produção crescente e dívida líquida “ligeiramente” menor. Menor endividamento seria uma notícia bem-vinda, já que a empresa havia dito anteriormente que sua já grande pilha de dívidas aumentaria durante a primeira metade do ano, disse Della Vigna.
Chevron
A Chevron reduziu gastos em recompras no segundo trimestre, embora tenha se mantido dentro de seu guidance anual, conforme se ajustava aos preços menores do petróleo.
O CEO Mike Wirth fará questão de mostrar progresso nos planos de gerar US$ 10 bilhões em fluxo de caixa livre adicional a US$ 70 Brent, a partir de novos projetos no Cazaquistão e no Golfo americano e menores gastos de capital na Bacia do Permiano.
Wirth também deve destacar a recente aquisição da Hess por sua empresa, que ocorreu após vencer uma disputa de arbitragem com a Exxon. A vitória dá à Chevron uma participação em um campo de petróleo próspero que a Exxon opera na Guiana.
Exxon
Para a Exxon, o foco será uma lista de importantes startups de projetos. Em contraste com as rivais, a gigante petrolífera do Texas aumentou seus gastos de capital este ano, buscando impulsionar o crescimento de produção de baixo custo no final desta década e além.
Yellowtail e Bacalhau, desenvolvimentos petrolíferos offshore na Guiana e Brasil respectivamente, estão programados para a segunda metade deste ano. Golden Pass, uma usina de exportação de gás natural liquefeito no Texas, deve começar até o final de 2025.
Mas o crescimento tem um custo. Analistas esperam que a dívida líquida da Exxon aumente 18% para US$ 24,28 bilhões conforme ela financia a expansão além de seus dividendos e US$ 20 bilhões em recompras anuais.
Dividendos
A acessibilidade dos retornos aos acionistas, ampliada depois que o setor registrou lucros recordes em 2022, será um tema comum.
Pelo terceiro trimestre consecutivo, o fluxo de caixa livre combinado das cinco supermajors não será suficiente para atender ao valor que planejam pagar em dividendos e recompras, segundo estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg.
Chevron e BP já reduziram gastos com recompras, aumentando a perspectiva de que outras sigam o exemplo, especialmente com lucros esperados 66% menores que o recorde de 2022.
“Com petróleo em torno de US$ 70, acho que praticamente todas manterão as recompras”, disse Della Vigna.
“Se cairmos para US$ 60 ou menos, como esperamos na segunda metade, então acho que teremos mais diferenciação, com algumas empresas potencialmente cortando a recompra e outras mantendo-a.”
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