Daycoval Asset aposta em opções como proteção a tarifas, diz chefe de fundos macro

Em entrevista à Bloomberg News, Fabio Zaclis diz que o cenário de sanções financeiras ao Brasil é improvável, mas avalia que a probabilidade desse risco está ‘em um nível que nunca vi’

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Bloomberg — As incertezas com o cenário para tarifas ao Brasil levaram a uma corrida dos investidores para tentar proteger o portfólio. Na Daycoval Asset Management, a aposta foi se utilizar do instrumento de opções em diferentes ativos, disse o gestor e chefe de fundos macro Fabio Zaclis, em entrevista à Bloomberg News.

Zaclis trabalha com um cenário de entrada em vigor das tarifas, conforme anunciado pelo presidente Donald Trump, embora admita que parte do mercado esperava um recuo dos Estados Unidos na questão.

A julgar pela experiência recente, o gestor acredita ainda que o mandatário americano pode inclusive engrossar o tom e fazer ameaças extras ao Brasil para aumentar a pressão e o poder de barganha.

O pior cenário, diz ele, seria sanções financeiras ao país, que poderiam levar os ativos a se desvalorizarem até 40%.

“É um cenário improvável, mercado não precifica hoje nenhum cenário de desespero, mas a probabilidade desse risco de cauda está num nível que nunca vi”, disse o gestor, pontuando que cerca de 1/5 do fluxo estrangeiro que entrou no ano já foi embora.

De janeiro a junho R$ 26,4 bilhões em fluxo estrangeiro entraram na B3. Em julho, até o dia 28, R$ 5,8 bilhões saíram.

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Os fundos da asset, que historicamente são mais defensivos e trabalham com baixa volatilidade e risco, estão ainda mais conservadores.

Enquanto os fundos de ações estão bem alocados em utilities e replicam o peso de commodities do Ibovespa com maior destaque para siderurgia, o fundo multimercado foca em ouro, implícitas e está zerado tanto em bolsa local quanto americana.

Zaclis diz esperar a conclusão das principais negociações comerciais lá fora para voltar a se posicionar em treasuries e índices nos Estados Unidos.

Proteger patrimônio

A asset do Banco Daycoval, que possui mais de R$ 20 bilhões em ativos sob gestão, planeja o lançamento de fundos que tenham prazo de resgate mais longo e aprofundar o volume na gestão de fundos alternativos, como de crédito e imobiliários.

A ideia é permitir a blindagem dos ativos sob gestão e, ao mesmo tempo, que os gestores tenham um horizonte mais longo de execução da estratégia para entregar retorno aos clientes, disse Roberto Kropp, diretor de investimentos da asset, em uma outra entrevista à Bloomberg News.

“Em dezembro, quando o cenário macro doméstico piorou, vimos algum efeito nos resgates”, disse Kropp.

Os fundos de prazos de resgates mais longos serviriam para clientes mais longevos, “melhorando a base para, assim, não haver tanta oscilação nos ativos sob gestão”, especialmente em períodos de volatilidade do mercado, completou ele.

Kropp diz que quer dobrar o patrimônio para R$ 200 milhões de um fundo que aplica em fundos de direitos creditórios, os chamados FIDCs — o Classic Estruturado, que opera com resgate D+60.

A gestora também está elevando a oferta de fundos imobiliários, com o objetivo de captar clientes mais dispostos a manter recursos investidos por mais tempo, disse o gestor da área, Martim Fass, que chegou na Daycoval Asset em outubro.

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