Bloomberg — Um grupo de empresas brasileiras está divulgando sua exposição ao Banco Master após a liquidação da problemática instituição e a prisão de seu principal executivo e controlador em meio a uma ampla investigação de corrupção.
A Oncoclinicas informou possuir R$ 433 milhões em depósitos a prazo (CDBs) do Master. A empresa provisionou perdas de cerca de metade desse valor em seu último resultado e disse que tomará “medidas apropriadas” para cobrir o restante - que representa um pouco menos da metade da posição de caixa da empresa no final do terceiro trimestre.
A empresa de tratamento oncológico, que viu suas ações caírem para uma baixa recorde, talvez seja a mais proeminente exposta ao colapso da Master - mas não a única.
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A Empresa Metropolitana de Águas e Energia, ou Emae, também informou que detinha CDBs emitidos pelo Letsbank, de propriedade do Master, que totalizavam cerca de 5,9% de seus ativos consolidados em 30 de setembro.
A Cedae, empresa de água e esgoto do estado do Rio de Janeiro, detém CDBs emitidos pelo Master, sem fornecer mais detalhes sobre sua exposição.
O fundo de pensão do estado do Rio de Janeiro, o Rioprevidência, disse que detém cerca de R$ 960 milhões em notas do Banco Master, acrescentando que agora está negociando a substituição desses investimentos.
O Banco Master atraiu o escrutínio do Banco Central nos últimos anos ao emitir dívida garantida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e ao carregar um volume elevado ativos de risco e de baixa liquidez.
Durante meses, o Master esteve em busca do tão necessário capital novo - incluindo uma possível fusão com o Banco de Brasília (BRB), que foi barrada pelos órgãos reguladores.
Um acordo de resgate de última hora foi anunciado no fim da tarde de segunda-feira (17), com um consórcio com a Fictor e um grupo não identificado de investidores dos Emirados Árabes Unidos, poucas horas antes de o Banco Central anunciar sua liquidação e de a Polícia Federal prender o CEO do Master, Daniel Vorcaro, e cinco outras pessoas sob alegação de corrupção.
Apesar da turbulência, o colapso da Master não é visto como um caso de risco sistêmico, uma vez que dependia em grande parte de financiamento segurado pelo fundo de resgate do sistema bancário, o FGC.
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O mecanismo de proteção, semelhante ao FDIC nos Estados Unidos, oferece proteção a clientes que têm exposição a um banco que quebra, incluindo um seguro de até R$ 250 mil por pessoa em CDBs.
O Master e as outras instituições liquidadas tinham cerca de 1,6 milhão de credores com direito a receber cerca de R$ 41 bilhões, disse o FGC em um comunicado.
Ainda assim, isso se soma a uma lista cada vez maior de colapsos de crédito em todo o Brasil, desde os rombo nos títulos de empresas como Braskem e Ambipar até a queda na dívida da joint venture de açúcar e etanol Raízen.
A Fitch Ratings comparou as emissões ao início de 2023, quando a implosão da centenária varejista Americanas praticamente “fechou” os mercados de crédito locais.
“O Banco Master é outro exemplo que acrescenta preocupações ao mercado”, disse Sergio Rodriguez Garza, diretor de crédito do grupo para empresas e instituições financeiras da América Latina na Fitch.
“Se vocês se lembrarem do que aconteceu com a Americanas e do fechamento dos mercados, até agora não foi semelhante, mas estamos vendo alguns desdobramentos que podem levar a preocupações.”
“A pressão está aumentando. Qual será o ponto de ruptura para que os investidores do mercado local exijam rendimentos mais altos ou participem menos? Não sei, mas estamos monitorando isso”, disse ele.
Exposição corporativa
De acordo com Alexandre Chaia, professor do Insper, em São Paulo, o Banco Central vai agora elaborar uma lista de bancos e detentores de instrumentos do Master, como CDBs e notas bancárias conhecidas como Letras Financeiras.
Empresas de capital aberto não são obrigadas a divulgar sua exposição, mas precisarão provisionar as perdas em suas demonstrações financeiras, já que os CDBs não serão mais considerados equivalentes de caixa, disse ele.
No caso da Oncoclinicas, a empresa e a Master concordaram em seguir um novo cronograma para resgatar os valores investidos nesses CDBs em outubro.
A prestadora de serviços de saúde também informou que planeja exercer sua opção de recompra de ações de dois fundos de investimento que detêm parte da empresa.
“Se o Banco Master ficar inadimplente, a empresa poderá exercer essa opção, enquanto o processo de liquidação verá um liquidante nomeado pelo tribunal vendendo ativos e pagando os credores de acordo com a prioridade legal”, escreveram os analistas do JPMorgan liderados por Joseph Giordano em uma nota aos clientes.
Os analistas do JPMorgan disseram que a fraca posição de caixa da Oncoclinicas poderia ser ainda mais prejudicada se nenhum dos CDBs for recuperado, um cenário que o banco vê como “provável”, segundo a nota.
A Oncoclinicas tinha um saldo de caixa de R$ 495 milhões em 30 de setembro. A empresa, que presta serviços médicos ambulatoriais e=m oncologia, enfrenta pressões de fluxo de caixa e altos níveis de endividamento.
“Em uma política de investimento sólida, eles não deveriam estar colocando seu dinheiro em uma operação como essa”, disse Chaia, falando sobre empresas expostas de forma mais ampla.
“O banco estava artificialmente alavancado, levantando uma grande quantidade de dinheiro por meio de CDBs com altas taxas de juros.”
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