Em um ano marcado por fluxos que impulsionaram os mercados latino-americanos, a Bolsa de Valores do México se consolidou como um dos mercados de ações com melhor desempenho do continente.
O índice S&P/BMV IPC acumulou um retorno de mais de 25% até o momento em 2025 e, quando medido em dólares, o retorno total sobe para 42,8%.
Esse número coloca o México como o segundo mercado com melhor desempenho na América Latina, atrás apenas da Colômbia.
A recuperação foi impulsionada por uma combinação de fatores macroeconômicos, mudanças na política monetária, melhorias operacionais em nível corporativo e um ambiente internacional que favorece a relativa atratividade dos mercados emergentes.
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Janneth Quiroz Zamora, diretora de análise econômica da Monex, destaca entre os motivos “uma temporada de relatórios corporativos atraente durante o primeiro semestre do ano, com crescimento médio da receita e do Ebitda de 10,0% e 10,35%, respectivamente, números que refletem melhorias operacionais“.
Uma onda de impulso no mercado de ações
O desempenho do S&P/BMV IPC não foi robusto apenas no nível do índice, e vários de seus emissores registraram ganhos extraordinários em 2025.
A Peñoles encabeça a lista com um crescimento de 190,5% diante de um ambiente favorável aos metais e de uma recuperação em seus níveis de produção.
A Gentera (GENTERA*) subiu 89,1%, enquanto a Megacable(MEGACPO) avançou 73,9%. Outras ações que subiram mais de 50% foram a Televisa(TLEVICPO) e a Cemex (CEMEXCPO), que completam os cinco primeiros lugares com aumentos de 63,4% e 62,3%, respectivamente.
Esses rendimentos foram acompanhados por uma melhora gradual na percepção de risco. De acordo com o BBVA, a expectativa de um ciclo de cortes pelo Federal Reserve permitiu um ambiente financeiro externo mais favorável para os mercados emergentes, como o México.
Em nível local, o Banxico reduziu o ritmo de seus cortes sem alterar sua orientação futura, o que ajudou a manter as expectativas de inflação ancoradas.
“O primeiro grande fator, em nossa opinião, tem sido o ciclo de cortes de taxas pelo Banco do México. Vemos uma correlação inversa de 0,83 na última década entre o preço utilitário que o mercado está disposto a pagar e a taxa da dívida soberana de 10 anos“, explicou Andrés Cardona, analista do Citi.
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“Essa taxa atingiu níveis de 10,5%, e hoje a vemos em níveis abaixo de 9%, o que explica uma expansão do múltiplo de níveis de 9,9x, para 12,7x“.
Em outras palavras, Cardona argumenta que, quando as taxas de juros de longo prazo no México caem, os investidores se mostram mais propensos a pagar mais por cada peso de lucro que as empresas geram no mercado de ações.
Essa relação inversa entre taxas e avaliação é comum nos mercados: taxas mais baixas reduzem o custo de oportunidade e aumentam a atratividade relativa das ações. Na prática, isso reflete um apetite renovado pelo risco e uma maior disposição de pagar por expectativas futuras.
Para Quiroz, a força do peso (USDMXN) também tem sido um fator de apoio para os emissores com dívidas ou insumos dolarizados.
Além disso, o lançamento do contrato futuro do S&P/BMV IPC na Chicago Mercantile Exchange (CME) em 18 de agosto representou um marco para a integração do mercado local com os fluxos internacionais.
Do ponto de vista de Quiroz, isso deve“melhorar a liquidez e o acesso aos investidores internacionais” e consolidar a posição do México como um dos destinos favoritos dentro do bloco emergente, atrás apenas do Brasil.
Cardoña acrescentou que há também uma percepção menor do risco tarifário. “O outro fator importante foi a fraqueza do dólar, que favorece a diversificação para mercados como a Europa e os mercados emergentes”, acrescentou.
O elemento corporativo
Entretanto, a alta também levantou questões sobre possíveis níveis de supervalorização.
Quiroz adverte que “no mercado em geral, há uma certa supervalorização em relação ao múltiplo médio dos últimos anos, mas não em todos os ativos“. Ele acrescenta que parte desse prêmio aparente é explicada pela correção que o índice sofreu no segundo semestre de 2024, que agora foi completamente revertida.
“Ao mesmo tempo, o risco que vemos é que, após o bom início do ano nos relatórios, também vimos alguns ajustes nas expectativas para a segunda metade do ano, mas particularmente para 2026, que indica uma possível supervalorização em relação aos fundamentos“, explicou o analista.
O Citi, no entanto, acredita que a avaliação atual é justa, dada a trajetória das taxas de juros. “Contra uma avaliação histórica para o IPC da S&P/BMV , poderíamos dizer que ele ainda está abaixo de seus níveis históricos, no entanto, também diríamos que eles são justos, dados os níveis das taxas de dívida do soberano“, comentou Cardona.
Além das avaliações, o Bradesco BBI fornece uma leitura setorial. A corretora brasileira observa que “o desempenho foi liderado pelos setores mais cíclicos e sensíveis a taxas de juros, e prejudicado pelos produtos básicos de consumo”.
Ele atribui esse último atraso a um ambiente desafiador para o consumidor, exacerbado pelas pressões fiscais. “Acreditamos que isso tem a ver com o ambiente mais desafiador para o consumidor, além dos recentes ventos contrários dos impostos sobre consumo que provavelmente continuarão a pesar sobre o setor” ,escreveram os analistas Rodolfo Ramos e Juan Ponce.
O componente corporativo também tem sido fundamental. O Banorte, em seu relatório de resultados do segundo trimestre, observou que, embora o lucro líquido tenha sido menor do que o esperado, afetado por perdas cambiais em casos como o da Femsa, houve uma recuperação em setores como aeroportos, fibras, telecomunicações e infraestrutura.
Gentera, Grupo Aeroportuario del Pacífico(GAPB), Fibra Plus, La Comer(LACOMUBC) e Alsea (ALSEA*) foram destacadas como surpresas positivas pela equipe de pesquisa do banco.
Antonio Hernández, analista de consumo da Actinver, observou que, apesar da desaceleração das receitas em vários setores,“os resultados trimestrais ficaram em linha ou acima das estimativas de consenso e das próprias empresas“.

Para Hernández, há também o fato de que “o contexto de taxas mais baixas torna o mercado de ações mais atraente, especialmente para ações que pagam bons dividendos“.
Um ponto ideal com riscos
O JPMorgan(JPM), por sua vez, acredita que o México está em um “ponto ideal de curto prazo”, apoiado pela estabilidade macroeconômica, um ciclo monetário favorável e avaliações que, apesar da alta, ainda parecem atraentes em comparação com outros mercados emergentes.
Em seu último relatório sobre o país, os estrategistas da empresa destacaram que ele é um dos poucos mercados emergentes que recebeu fluxos líquidos positivos para ações em 2025.
Entretanto, a trajetória até 2026 dependerá de vários catalisadores. A Monex estima um crescimento econômico de 1,54% no próximo ano, uma melhora em relação aos 0,36% estimados para 2025.
No entanto, os desafios comerciais permanecem, incluindo as tensões sobre as exportações mexicanas para os Estados Unidos e as definições sobre a política de migração e segurança.
“Alguns dos desafios estarão relacionados à questão comercial, especialmente as tarifas sobre automóveis, aço, alumínio e outras exportações mexicanas. Possíveis mudanças na política de imigração e segurança”, disse Quiroz.
Na mesma linha, Cardona identifica a contínua fraqueza do dólar, uma renovação favorável do T-MEC e uma trajetória descendente das taxas soberanas como elementos fundamentais para sustentar o impulso do mercado acionário.
Para o analista, o mercado permanecerá na expectativa da renegociação do T-MEC, da desaceleração da economia e da percepção de inflação controlada.
Hernández, da Actinver, que continua a ver o mercado acionário mexicano como atraente a múltiplos abaixo da média dos últimos anos, acrescentou aos riscos uma desaceleração econômica e de consumo no México ou uma desaceleração nos EUA que tenha impacto no mercado mexicano (por meio do consumo, remessas, investimento, entre outros).
Entretanto, um catalisador positivo seria um resultado melhor do que o esperado para o segundo semestre do ano, com dados de vendas e lucratividade melhores do que o esperado e preços favoráveis de commodities.