O setor bancário da América Latina se prepara para um 2026 marcado por um forte ciclo eleitoral e um ambiente monetário mais frouxo.
Segundo o Bank of America, o desempenho das ações financeiras dependerá principalmente do impacto das eleições sobre a volatilidade e a atividade econômica, bem como da trajetória de queda das taxas de juros na região.
Apesar da heterogeneidade macroeconômica entre os países, o banco norte-americano mantém uma visão seletiva, com apostas concentradas no Brasil, México, Argentina e algumas entidades andinas menores.
Nesse cenário, o início de um ciclo de flexibilização no Brasil, programado para dezembro deste ano, juntamente com políticas monetárias mais expansionistas já implementadas no México, Chile, Peru e Colômbia, poderia impulsionar o crédito e melhorar a qualidade dos ativos, embora com pressões sobre as margens financeiras.
A projeção do BofA(BAC) aponta para uma aceleração do crescimento dos lucros no Brasil e na Argentina até 2026, uma relativa estabilidade no México e uma desaceleração nos países andinos.
Segundo o Bank of America, o rumo das ações no próximo ano será influenciado principalmente por dois fatores. Por um lado, “os resultados das eleições (e das pesquisas), que podem gerar maior volatilidade e incerteza sobre o crescimento”.
Por outro lado, “novos cortes nas taxas, que poderiam afetar negativamente as margens de juros líquidos, mas devem apoiar um maior crescimento do crédito e uma melhor qualidade dos ativos”.
De outra perspectiva, a Credicorp Capital destaca que os bancos andinos já se beneficiaram em 2025 do ambiente monetário mais favorável, com pressões inflacionárias menores e custos de financiamento mais baixos.
Isso se refletiu na melhoria da lucratividade e no forte desempenho do mercado de ações, especialmente nos bancos menores. Entretanto, ele concorda que a próxima etapa será mais influenciada pelos acontecimentos políticos, com eleições importantes na Colômbia, Chile e Peru.
De acordo com o relatório,“a queda na inflação melhorou as métricas de risco, e o ciclo de flexibilização monetária reduziu os custos de financiamento para a maioria dos bancos“, observaram os analistas da Credicorp Capital.

Bancos com fundamentos sólidos
No Brasil, o Bank of America mantém as recomendações de compra para o Bradesco e o Itaú.
No caso do Bradesco, cujo preço-alvo implícito representa um retorno total de 37%, os analistas observam que “as potenciais melhorias operacionais e de lucratividade ainda não foram totalmente refletidas no preço da ação”.
Para o Itaú, com um retorno esperado de 15%, eles argumentam que “sua avaliação premium é justificada por uma estrutura de capital robusta, habilidades excepcionais de execução e lucros previsíveis”, de acordo com o documento.
No lado mexicano, a Gentera se destaca por seu crescimento projetado dos lucros de 19% em 2026, lucratividade de 25,1% e avaliação atraente. " A Gentera mostra uma sólida dinâmica de ganhos e a maior lucratividade da região, com forte crescimento de crédito, mantendo um custo controlado de risco e vantagens competitivas em relação aos bancos tradicionais e fintechs", disseram os analistas do BofA.
O banco tem uma recomendação de compra e um preço-alvo implícito de 2,1x P/BV. Também são dignos de nota o Banorte e Regional, com retornos totais estimados de 20% e 28%, respectivamente.
Nos Andes, o foco do BofA está nos bancos de médio porte, como o Davivienda (PFDAVVND) na Colômbia, IFS (IFS) no Peru e o BCI (BCI) no Chile, com potenciais de retorno de até 47% no caso do banco colombiano. “Dado o seu nível de avaliação atraente e o impulso positivo dos lucros”, disseram os analistas do BofA ao justificar essa preferência.
Do ponto de vista da Credicorp, o BCI é a melhor escolha no Chile, com uma recomendação de compra e um preço-alvo de CLP$ 51.000, um aumento de 21,4% em relação ao último fechamento. Os analistas argumentam que “ele tem o melhor perfil de risco-retorno”.

Uma visão favorável também é mantida sobre o Itaú Chile, com um preço-alvo de CLP$ 17.000, enquanto o Banco de Chile (CHILE) e o Santander Chile (BSAN), embora considerados sólidos, têm menos espaço para valorização no curto prazo.
Argentina e Colômbia: apostas com risco político
Na Argentina, o Bank of America adverte que o desempenho dos bancos dependerá em grande parte do resultado das eleições legislativas em outubro. Nesse contexto, ele recomenda ações de alta liquidez, como o Banco Macro(BMA) e o Grupo Galicia (GGAL).
O Banco Macro projetou um crescimento dos lucros de 136% em 2026 e uma meta de preço implícita que oferece um retorno total de 35% em ARS$. O Galicia, por sua vez, projeta um crescimento de 112% nos lucros, com um retorno estimado de 7%.
“O desempenho dos bancos argentinos deve estar ligado ao ambiente macroeconômico e às eleições legislativas em outubro, e é por isso que preferimos os nomes mais líquidos, como Macro e Galicia“, observaram os analistas do BofA.
Na Colômbia, o Credicorp Capital adverte que o alto déficit fiscal de 7,1% e uma possível reforma tributária que aumentaria a sobretaxa do setor bancário para 15% poderiam limitar a recuperação da margem e gerar incerteza.
Embora os analistas considerem improvável que a reforma seja aprovada nesses termos, eles reconhecem que “a incerteza permanece, e não podemos garantir que não haverá impacto sobre os bancos colombianos”.

Nesse ambiente, a Credicorp mantém uma postura cautelosa com recomendações de retenção para a PF Cibest (CIB), com um preço-alvo de COP$54.000, e para o Grupo Aval (AVAL), com um preço-alvo de COP$ 730. A Davivienda, que também está entre as ações preferenciais do BofA, tem um preço-alvo de COP$ 27.000.
Finalmente, no Peru, a IFS lidera as recomendações do BofA e do Credicorp, com um ROAE esperado de 17% e um retorno projetado de 28%, de acordo com o primeiro, e um preço-alvo de US$ 53.
“A IFS recuperou os números de lucratividade para níveis próximos a 16%, e esperamos que, com a aceleração da carteira de empréstimos e a reconstrução dos cartões de crédito, ela continue sua trajetória de recuperação nas métricas de ROAE“, explicaram os analistas da Credicorp Capital.
Em um ambiente regional marcado por alta sensibilidade política e transições macroeconômicas, os analistas concordam que a chave será identificar instituições com modelos de negócios estáveis, capacidade de execução e solidez de capital. “Com tendências mistas entre os países, continuamos seletivos”, conclui o relatório do Bank of America, que prevê um cenário desafiador em que nem todos os bancos serão igualmente resistentes.