ASA vê mercado favorável ao Brasil até o 2º trimestre na ausência de choque externo

Em entrevista a jornalistas, o head de investimentos, Rogério Freitas, disse avaliar que a eleição será um ‘divisor de águas’ para a política econômica e para os preços de ativos do país

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Bloomberg Línea — A instituição financeira ASA enxerga um ambiente favorável para o mercado brasileiro em 2026, à medida que o país se aproxima das eleições presidenciais, evento encarado por parte dos investidores como uma espécie de divisor de águas para a política econômica e para os preços dos ativos.

Segundo Rogério Freitas, head de investimentos da instituição financeira fundada e comandada por Alberto Safra, o cenário global atual tem sido marcado por um quadro que “empurra” investidores para mercados emergentes.

“O ambiente de repressão financeira favorece compressão de prêmio de risco, elevação de equity, elevação de bolsa, elevação de fechamento de spread de high yield e de high grade”, afirmou em conversa com jornalistas nesta quarta-feira (3).

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Segundo o estrategista, se não houver um choque externo, esse movimento deve continuar ao longo dos próximos meses até o segundo trimestre de 2026, quando o cenário eleitoral deve ganhar mais peso nos mercados.

Com base nessa avaliação, o ASA já vem ajustando suas posições desde meados deste ano.

Freitas contou que a instituição financeira reduziu a exposição a títulos pós-fixados e aumentou o peso de NTN-Bs de médio e longo prazo – como são chamados os títulos do Tesouro indexados à inflação.

A decisão reflete tanto a perspectiva de um carrego atrativo quanto o caráter híbrido do ativo, capaz de funcionar em diferentes cenários.

Paralelamente, a casa ampliou a participação em fundos multimercados e elevou a exposição à Bolsa, ainda que de forma gradual.

A visão também embute uma expectativa sobre a política monetária.

Para Freitas, o Banco Central tende a iniciar um ciclo de cortes em março, e não antes disso, como prevê parte dos analistas e dos economistas do mercado. Isso porque, para ele, ainda há espaço para uma valorização do real, o que pode ajudar o Banco Central a completar a desaceleração da inflação.

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“O carry é muito importante aqui nesse momento. O mundo está reduzindo os juros. Se o Brasil continuar sendo duro, vai favorecer muito a moeda”, afirmou. “Vai ajudar muito o trabalho do Banco Central. Aí em março ele corta com tranquilidade.”

O estrategista disse enxergar a possibilidade até de a autoridade monetária decidir por cortes de juros de 0,50 ponto percentual a cada reunião, a partir de março, até reduzir um total de 2,50 a 3,00 pontos percentuais da Selic até o fim de 2026. Hoje a taxa básica de juros está em 15% ao ano.

Na leitura do ASA, uma trajetória de afrouxamento monetário ao longo de 2026 reforça a atratividade de ativos de duração intermediária e adiciona sustentação ao mercado acionário.

‘Evento binário’

A partir do segundo trimestre, porém, a eleição tende a ganhar mais peso. Freitas descreveu a eleição como um “evento binário”, cuja consequência para os preços de ativos pode ser extrema em qualquer direção.

O tema central é a política fiscal. Se o próximo governo der passos concretos para reduzir o ritmo de crescimento das despesas públicas, o prêmio de risco estrutural do país pode cair abruptamente.

“Em um cenário de uma mudança de política econômica, com implementação de reformas e endereçamento do problema do crescimento do gasto público, a taxa de juros real cair 5 ou 6 pontos percentuais”, afirmou o estrategista.

Nesse cenário positivo, Freitas afirma que o Ibovespa poderia alcançar até 300.000 pontos em dois anos a partir de 2026, a partir do atual patamar de 160.000.

Por outro lado, se o país não avançar em reformas e houver uma continuidade da política econômica, o efeito pode ser negativo para a bolsa. A liquidez global ainda tende a fornecer algum suporte, mas o Brasil perderia a chance de reduzir seu prêmio estrutural e ficaria para trás em relação a outros emergentes.

Por isso, Freitas trata a bolsa brasileira como o ativo de maior assimetria. “É o melhor ativo no cenário bom e o pior no cenário ruim”, disse.

Diante dessa avaliação, a instituição financeira prefere fortalecer posições que funcionam tanto no curto prazo quanto diante de um eventual cenário eleitoral negativo – caso das NTN-Bs.

“À medida que tivermos uma visibilidade maior dessas probabilidades do cenário eleitoral, a ideia é aumentar a posição em bolsa”, disse.

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