Bloomberg Línea — O tema da inteligência artificial se tornou inescapável quando se trata das tendências de investimentos – e já pode ser considerada a maior transformação da indústria nos últimos anos, segundo avaliação de Bruno Barino, CEO da BlackRock no Brasil.
“Nós consideramos que a IA é uma transformação muito maior que as outras revoluções industriais”, afirmou o executivo durante o painel “Tendências de investimentos em 2026″ do Bloomberg Línea Summit 2025, realizado no fim de outubro.
Barino participou do painel ao lado de Marina Tennenbaum, sócia, COO e Head de Sales no Brasil do Patria Investimentos, e Sylvio Castro, Head de Global Solutions e Fund of Funds no Itaú.
Segundo o executivo da BlackRock, os números atuais de investimento já sustentam essa avaliação.
“Estamos falando de volume de investimento de US$ 700 bilhões por ano até 2030 nos Estados Unidos, depois ficando na faixa de US$ 1 trilhão. É um nível de transformação muito material para a economia”, afirmou.
A maior gestora do mundo não tem ficado alheia às transformações.
Um dos exemplos mais recentes se deu em outubro, quando um grupo de investidores formado por BlackRock, Microsoft e Nvidia comprou a Aligned Data Centers (ALGN), uma das maiores operadoras de data centers do mundo, em um negócio avaliado em US$ 40 bilhões – um dos maiores investimentos em infraestrutura já realizados pela gestora.
Infraestrutura e crédito privado
E é nessa intersecção entre IA e infraestrutura que Marina Tennenbaum, sócia do Patria Investimentos, enxerga potencial de ganhos para a América Latina.
Com a demanda global por data centers projetada para triplicar até 2030, Tennenbaum disse acreditar que a região apresenta uma oportunidade de investimento estrutural.
O Brasil, em particular, reúne condições favoráveis para se destacar nesse movimento: disponibilidade de terra, energia renovável que representa 89% da matriz energética nacional e conectividade adequada.
A região, no entanto, enfrenta um descompasso entre a demanda por dados e sua capacidade de processá-los. “Hoje, 7% do volume de dados global vem da América Latina, mas a capacidade instalada é de apenas 2%.”
Tennenbaum destacou que o investimento do Patria em infraestrutura é uma tese central que acaba sendo transversal em relação a diversos outros setores.
“Temos conseguido atrair o investidor estrangeiro para a região. Recentemente captamos US$ 2 bilhões para investimento em infraestrutura”, afirmou.
A BlackRock também reforçou seu posicionamento no setor de infraestrutura ao adquirir, no ano passado, a gestora de crédito privado HPS, plataforma de crédito privado, por cerca de US$ 12 bilhões.
O executivo da BlackRock destacou ainda o potencial de indexação desses ativos. “Uma coisa de que falamos bastante, olhando para trás, é que o alfa de ontem se tornou o beta de hoje. Portanto, se conseguirmos indexar o mercado de infraestrutura e de crédito privado, aí mudamos totalmente o jogo de patamar”, disse.
A BlackRock é referência global em fundos de índice (ETFs).
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Internacionalização e valuation
Ao tratar das perspectivas de mercado, os profissionais identificaram ainda uma oportunidade historicamente negligenciada por investidores brasileiros: a internacionalização de portfólios.
Para Castro, do Itaú, cuja área totaliza mais de R$ 450 bilhões sob gestão e conta com uma equipe com 70 pessoas no Brasil e nos Estados Unidos, o percentual de investimento dos investidores no exterior ainda é extremamente baixa.
O gestor destacou que não há justificativa técnica para o viés doméstico excessivo. “É preciso lembrar que menos de 2% do mercado de capitais global é relacionado a empresas brasileiras”, observou.
Castro também criticou o que chamou de peso excessivo do valuation nas decisões de investimento no exterior. Isso porque, com índices globais de ações em patamares recordes, muitos investidores hesitam em aumentar a exposição internacional por considerarem os ativos caros.
“O valuation é importante, mas não como indicador antecedente”, disse.
Em sua avaliação, o valuation funciona melhor como ferramenta de gestão de risco, indicando o potencial de elasticidade de ganhos ou perdas, mais do que como sinalizador de quando entrar ou sair da tese de investimento.
O executivo reconheceu que os valuations atuais estão “esticados”, mas ressaltou que isso não significa necessariamente uma bolha.
“Para os próximos anos, vemos uma tendência secular de aceleração do lucro das empresas, especialmente em tecnologia e infraestrutura. Mas a hora que isso virar, provavelmente vai pegar aqueles investidores mal posicionados. Portanto é preciso um cuidado para ir se aproximando da porta de saída”, disse.
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