General Atlantic investe no futebol mexicano às vésperas da Copa do Mundo

Gigante de private equity concordou em comprar uma participação de 49% no grupo dono do América e do Estádio Azteca, que sediará a abertura da Copa; empresa será sócia do grupo Televisa, atual proprietária

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Bloomberg — A General Atlantic investirá centenas de milhões de dólares no futebol mexicano às vésperas da Copa do Mundo de 2026.

A empresa concordou em comprar uma participação de 49% no Grupo Ollamani, proprietário do Club América, um dos maiores times do México, além do Estádio Azteca, na Cidade do México, com capacidade para 88 mil pessoas, que será palco do primeiro jogo da Copa no ano que vem. O anúncio foi feito em comunicado conjunto das companhias.

A nova entidade conjunta se chamará Grupo Águilas e o valor da empresa é de US$ 490 milhões, segundo as companhias. A fatia da General Atlantic equivale a cerca de US$ 240 milhões.

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O grupo de telecomunicações e mídia Televisa criou a Ollamani em fevereiro de 2024 para separar ativos não relacionados à mídia, como o Club América e o estádio, e concentrar-se exclusivamente em seus negócios principais.

A Ollamani manterá os 51% restantes do Grupo Águilas, e o presidente do conselho da Televisa, Emilio Azcárraga Jean, assumirá como presidente executivo da nova empresa.

“Essa aliança estratégica nos posiciona de forma sólida para a próxima etapa de liderança, à medida que ampliamos nosso alcance e entregamos experiências ainda mais inesquecíveis aos torcedores no México e além”, disse Azcárraga Jean em comunicado.

A General Atlantic e a Ollamani também firmaram parceria com a Kraft Analytics Group, subsidiária da holding do bilionário Robert Kraft, para gestão de dados e consultoria. A empresa controladora de Kraft é dona do New England Patriots desde 1994, além de ativos relacionados, como o Gillette Stadium, em Massachusetts.

“Estamos entusiasmados em aprofundar nosso compromisso com o dinâmico mercado mexicano e com seu potencial internacional”, disse em comunicado Luis Cervantes, chefe do escritório da General Atlantic na Cidade do México.

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O Club América, adquirido pela Televisa em 1959, é o time mais vitorioso do México, com mais de 40 títulos nacionais e internacionais, além de uma grande base de torcedores no país e nos Estados Unidos.

O clube também é listado na bolsa mexicana, o que o torna um dos poucos times de futebol com ações negociadas em bolsa, ao lado de gigantes europeus como Manchester United e Juventus.

O icônico Estádio Azteca — agora chamado de Estádio Banorte após o grupo financeiro adquirir os direitos de nome — passa por uma reforma de US$ 106 milhões.

Além disso, a Ollamani é dona de uma divisão de jogos que opera 18 cassinos, enquanto seu braço editorial inclui publicações como a revista semanal de entretenimento TVyNovelas.

O mercado de futebol do México está maduro para investimentos depois que o conselho de proprietários da liga nacional decidiu que nenhum grupo pode deter mais de um time na Liga MX.

Atualmente, três grupos empresariais — incluindo um controlado pelo bilionário Ricardo Salinas Pliego, por meio do Grupo Salinas — possuem múltiplas equipes e precisarão vender ativos para evitar punições.

“Podemos avançar de fato no fim da multipropriedade com a entrada de novos investimentos estrangeiros”, disse Mikel Arriola, presidente da Liga MX, em entrevista concedida em novembro. “Hoje, a liga mexicana é extremamente atraente para investidores americanos.”

Comprar participação em clubes mexicanos é mais barato do que investir em uma nova franquia da Major League Soccer (MLS), com a vantagem de já contar com uma base de torcedores dos dois lados da fronteira.

O Charlotte Football Club e o San Diego FC, dois dos nomes mais recentes da MLS, custaram US$ 325 milhões e US$ 500 milhões, respectivamente, segundo registros da liga. Já o valor para adquirir um time da primeira divisão de uma das principais ligas europeias supera com folga US$ 1 bilhão.

Arriola afirmou ainda que o apetite por clubes mexicanos deve crescer à medida que o futebol ganhe espaço além de seu público hispânico tradicional nos Estados Unidos e que o entusiasmo da Copa do Mundo de 2026 se prolongue muito depois do fim do torneio.

“Temos dez fundos de investimento americanos procurando times no México”, disse ele na ocasião. “Ter esse volume de compras em 2025 é algo enorme.”

O futebol mexicano atraiu milhões de dólares nos últimos anos de investidores dispostos a apostar na obsessão do país pelo esporte. Em 2021, a atriz de Hollywood Eva Longoria e um grupo de investidores americanos, incluindo Al Tylis e Sam Porter, compraram 50% do Club Necaxa, um dos times mais antigos do país. O clube atualmente é tema de uma série de televisão produzida pela FX.

O Club Querétaro foi adquirido integralmente neste ano por US$ 120 milhões pela Innovatio Capital, gestora de investimentos sediada em Atlanta. Seu CEO, Marc Spiegel, tornou-se o primeiro estrangeiro a controlar um time da primeira divisão mexicana desde a criação da liga, há 82 anos.

O Atlas FC é um dos outros dois clubes que devem ser vendidos a investidores dos Estados Unidos nos próximos meses.

“Você começa a pensar: ‘OK, onde ainda existe um lugar em que o investidor consegue capturar um potencial de valorização que ainda não foi destravado, que não foi totalmente explorado por quem compra times da NFL e da NBA?’”, disse Sam Porter, diretor de estratégia da Apollo Sports Capital, em entrevista ao podcast Business of Sports, da Bloomberg, em outubro. “Acho que a Liga MX concentra muito desse apelo.”

-- Com a colaboração de Amy Stillman e Carolina Millan.

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