‘You are fired!’ Trump demite diretora de estatísticas após dados negativos

Presidente disse que orientou a demissão de Erika McEntarfer, que lidera o Bureau of Labor Statistics, horas depois de relatório que mostrou queda na geração de emprego; seu nome havia sido aprovado no Senado por 86 votos a favor e 8 contrários

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Bloomberg — O presidente Donald Trump disse que ordenou a demissão Erika McEntarfer, a comissária que comanda o Bureau of Labor Statistics (BLS), horas depois que um novo relatório mostrou que o crescimento do emprego nos Estados Unidos diminuiu drasticamente nos últimos três meses.

“Orientei minha equipe a demitir essa nomeada política de Biden, IMEDIATAMENTE”, disse Trump nas redes sociais nesta sexta-feira (1 de agosto), acusando-a, sem apresentar provas, de politizar o relatório de empregos.

“Ela será substituída por alguém muito mais competente e qualificado. Números importantes como esse devem ser justos e precisos, não podem ser manipulados para fins políticos.”

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O novo relatório de empregos, o payroll, mostrou que as folhas de pagamento geraram criação de 73.000 vagas em julho, abaixo do consenso das estimativas compiladas pela Bloomberg, que apontavam para 104.000.

Os dados dos dois meses anteriores, maio e junho, foram revisados para baixo em quase 260.000 postos de trabalho. Nos últimos três meses, o crescimento do emprego foi, em média, de apenas 35.000 vagas - o pior desde a pandemia.

O BLS não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Bloomberg News.

O ex-presidente Joe Biden nomeou McEntarfer para chefiar a agência de estatísticas em 2023. Ela foi confirmada em janeiro de 2024, um ano eleitoral, por uma votação de 86 a 8 no Senado, com o então senador JD Vance, hoje vice-presidente dos EUA, votando “sim”.

William Wiatrowski, vice-comissário do BLS, atuará como chefe interino do BLS por enquanto, disse a secretária do Trabalho, Lori Chavez-DeRemer. Seu departamento supervisiona o BLS.

Embora a função de comissário seja indicada pelo presidente, o BLS descreve seu trabalho como “independente” e “não partidário”.

Economistas e estatísticos dizem que essa imparcialidade é fundamental para que o público e o mercado confiem nos dados, uma vez que trilhões de dólares podem ser negociados com base nesses números a qualquer momento.

Os EUA são frequentemente apontados como um destaque nesse aspecto, sendo comumente chamados de “padrão ouro” para estatísticas econômicas.

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“Se isso [a demissão] se confirmar, e presumo que sim, será um grande problema. Não poderíamos ter muita confiança na integridade dos dados daqui para frente”, disse Julia Coronado, fundadora da empresa de pesquisa MacroPolicy Perspectives. “Esses dados são um serviço público de enorme valor, e sua integridade é essencial.”

Revisões recentes

A revisão para baixo dos dois meses anteriores foi em grande parte resultado do ajuste sazonal para a educação dos governos estaduais e locais, disse o BLS em comentários anteriores à Bloomberg News.

Esses setores aumentaram substancialmente o emprego em junho, apenas para serem amplamente revisados para baixo um mês depois.

Mas os economistas dizem que as revisões também apontam para uma questão mais preocupante e subjacente de baixas taxas de resposta.

O BLS consulta as empresas na pesquisa de folha de pagamento ao longo de três meses, obtendo um quadro mais completo à medida que mais empresas respondem.

Mas uma parcela menor de empresas tem respondido à primeira pesquisa. As taxas de coleta inicial têm caído repetidamente abaixo de 60% nos últimos meses - abaixo dos cerca de 70% ou mais que eram a norma antes da pandemia.

Além das revisões contínuas das folhas de pagamento feitas pelo BLS, há também uma revisão anual maior que é publicada todo mês de fevereiro para comparar os números com uma fonte de dados mais precisa, porém menos oportuna.

O BLS divulga uma estimativa preliminar do valor dessa revisão com alguns meses de antecedência e, no ano passado, essa projeção foi a maior desde 2009.

Trump fez alusão a essas revisões em seu post na sexta-feira, que também foi condenado pelos principais senadores republicanos.

A diretriz de Trump para demitir McEntarfer recebeu críticas de democratas. A senadora Elizabeth Warren criticou o presidente por não ajudar “as pessoas a conseguirem bons empregos” e, em vez disso, demitir “o estatístico que relatou dados ruins sobre empregos que não agradam ao rei”.

E Ernie Tedeschi, que liderou o Conselho de Consultores Econômicos de Biden, elogiou o compromisso de McEntarfer com os dados e o serviço público.

“Trabalhei em estreita colaboração com Erika. Não conheço nenhuma economista que seja mais focada em dados e dedicadA à verdade nas estatísticas”, disse Tedeschi em um post no X.

“Ela nunca se esquivou de falar a verdade ao poder quando os dados eram decepcionantes. Nada seria pior para a credibilidade dos EUA do que a interferência política em nossos dados econômicos.”

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