Salário mínimo na América Latina: reajustes de 2025 buscam recuperar poder de compra

Aumentos concedidos neste ano mostram esforços para cobrir ao menos a inflação do período anterior, mas analistas alertam que novo valores ainda não cobrem o custo básico de vida

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Bloomberg Línea — Do Chile à Bolívia, vários governos da América Latina atualizaram o salário mínimo no decorrer do ano de 2025 - até aqui - com o objetivo de recuperar o poder de compra dos trabalhadores, em meio a choques macroeconômicos locais e globais.

A esses países se somaram Argentina, Paraguai, Bolívia, El Salvador e Nicarágua, que também realizaram ajustes no salário mínimo.

Enquanto isso, outros, como a Venezuela, mantiveram o salário mínimo congelado até junho de 2025 apesar das pressões financeiras enfrentadas pelas famílias com o aumento do custo de vida.

No Brasil, o reajuste foi definido no fim do ano passado, quando entrou em vigor o valor atual de R$ 1.518 - um aumento de R$ 106 ou 7,5% em relação a 2024 - por meio de um decreto.

Em abril, p aumento foi aprovado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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De forma geral, “os salários mínimos, em quase toda a região, estão abaixo do valor necessário para cobrir o custo de vida básico [de alimentos, moradia, transporte]”, disse à Bloomberg Línea a economista Clara Inés Pardo, professora da Universidade de Rosário, na Colômbia.

“As disparidades se explicam pela combinação de nível de desenvolvimento econômico, inflação, taxa de câmbio, estruturas tributárias e grau de informalidade do trabalho.”

Ela exemplifica que um salário mínimo de US$ 726 na Costa Rica não garante um alto poder de compra se os preços de moradia, transporte e alimentos também forem elevados.

“Em países de menor renda, os salários são mais baixos, mas geralmente também é mais baixo o custo de vida.”

Um dos principais aspectos a se considerar é que os reajustes salariais muitas vezes não acompanham a inflação.

Alguns dos desafios comuns identificados nos países da região incluem o alto custo total para os empregadores (salários mais encargos sociais), o que restringe a flexibilidade para elevar salários, especialmente nas pequenas empresas.

Também influenciam a informalidade, as políticas públicas e a capacidade de negociação, bem como o nível de desenvolvimento institucional, a força de sindicatos nas negociações e o pacto social.

Nesse contexto, a Bloomberg Línea fez um levantamento sobre os salários mínimos em alguns dos principais mercados da América Latina até a metade do ano, tomando como referência os valores definidos para o salário mínimo em cada país, e não os salários ou rendas médias, caso existam salários por setor.

O levantamento não tem o objetivo de ser um ranking nem uma comparação direta, pois a situação econômica de cada país é distinta, e a definição dos salários parte de parâmetros diferentes considerados por governos, empresas e sindicatos.

Essas foram as mudanças nos salários mínimos na América Latina até agora em 2025:

Salários mínimos com reajuste em 2025:

Argentina

O governo decretou aumentos escalonados para o Salário Mínimo Vital e Móvel (SMVM), que passou para 313.400 pesos argentinos (US$ 259,01) em junho e será de 317.800 pesos (US$ 262,64) em julho.

Brasil

Subiu de R$ 1.412 (US$ 254) para R$ 1.518 (US$ 273) em 2025, um aumento de 7,5% - ou 2,5% acima da inflação. O aumento foi aprovado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025, sancionada pelo presidente Lula em abril. O valor, no entanto, já estava em vigor desde 1º de janeiro de 2025 por meio de um decreto.

Chile

O Congresso aprovou o aumento do Ingresso Mínimo Mensal (IMM) de 510.000 pesos chilenos para 529.000 pesos chilenos (de US$ 545 para US$ 565) a partir de 1º de maio. Numa segunda etapa, o salário mínimo subirá para 539.000 pesos chilenos em 1º de janeiro de 2026 (US$ 576).

Bolívia

Em abril, o governo aumentou o salário mínimo em 10%, para 2.750 bolivianos (US$ 398 na taxa oficial), apesar dos alertas dos sindicatos sobre os impactos econômicos da medida.

Paraguai

Aguardando o decreto do Executivo, espera-se que o salário mínimo suba a partir de 1º de julho para 2.899.048 guaranis (cerca de US$ 362) por mês, e o salário diário para 111.501 guaranis (US$ 13,90), após reajuste de 3,6% com base no IPC. Atualmente, é de 2.798.309 guaranis (US$ 350).

El Salvador

O salário mínimo aumentou 12% a partir de 1º de junho, segundo decisão unânime do Conselho Nacional do Salário Mínimo (CNSM). Para comércio, serviços, indústria e usinas, subiu para US$ 408,80; para têxtil e confecção, de US$ 359,16 para US$ 402,25; no setor agrícola, pesca e outros, subiu para US$ 272,53.

Nicarágua

Em fevereiro, a Comissão Nacional do Salário Mínimo aprovou aumento de 4% para trabalhadores do setor privado, governo e sindicatos. O salário médio entre os nove setores ficou em 8.887,32 córdobas (cerca de US$ 241,64).

México

O salário mínimo subiu 12% a partir de 1º de janeiro, de 248,93 pesos mexicanos para 278,80 pesos por dia (de US$ 13,10 para US$ 14,60). Na Zona Livre da Fronteira Norte, foi de 374,89 pesos (US$ 19,60) para 419,88 pesos (US$ 22,10).

Colômbia

O salário mínimo aumentou 9,5% e ficou em 1.423.500 pesos colombianos (US$ 349). Quem ganha entre um e dois mínimos recebe mais 200.000 pesos (US$ 49,20) como auxílio transporte.

Peru

A presidente Dina Boluarte anunciou em dezembro um aumento de 105 sóis no salário mínimo a partir de 2025, que passou de 1.025 sóis para 1.130 sóis (de US$ 286 para US$ 316).

Uruguai

O governo anunciou em janeiro um aumento de 6%, elevando o salário mínimo para 23.604 pesos uruguaios (US$ 586).

Equador

O Ministério do Trabalho fixou o salário básico unificado em US$ 470 para 2025, após aumento de US$ 10.

Guatemala

Desde 1º de janeiro de 2025, o salário mínimo para atividades agrícolas e não agrícolas subiu 10%, e para indústrias de exportação (maquila), 6%. O salário agrícola (na região 1) é de 3.723,05 quetzais (US$ 484), o não agrícola também, e o da indústria de exportação (maquila) é de 3.097,21 quetzais (US$ 402).

Países com reajustes em 2024 ou antes:

Costa Rica

Em outubro, o Conselho Nacional de Salários aprovou reajuste geral de 2,37% para 2025. Para ocupações não qualificadas, o salário ficou em 367.108,55 colóns costa-riquenhos (US$ 726).

Panamá

O governo aumentou o salário mínimo em 4,5% em janeiro de 2024, fixando-o a partir de US$ 341. O salário mínimo varia por região e profissão, e o valor médio nacional é de US$ 636,80 por mês. O próximo ajuste será em janeiro de 2026.

Honduras

Em Honduras, o reajuste do salário mínimo de 2025 foi acordado pela mesa tripartite formada por representantes dos empregadores, dos trabalhadores e do governo.

Os aumentos variam dependendo do tamanho da empresa, indo de um mínimo de 5,5% (para empresas com 1 a 50 funcionários) até um máximo de 7% (para empresas com 151 funcionários ou mais).

É indicado apenas como referência o salário mínimo para o setor de agricultura, silvicultura, caça e pesca (de menor porte), que é o mais baixo.

Venezuela

O salário mínimo segue congelado desde 2022 (130 bolívares, ou US$ 1,23), embora o presidente Nicolás Maduro tenha anunciado aumentos em bonificações associadas, especialmente no bônus de Guerra Econômica.

Diferenças no salário mínimo

Sebastián Balsells, professor de economia da Faculdade de Ciências Empresariais da Universidad Austral, na Argentina, afirma que os salários mínimos na América Latina apresentam heterogeneidade, tanto em termos nominais quanto em seu poder de compra real.

Ele aponta que uma forma precisa de comparar sua capacidade de compra é expressá-los em dólares ajustados por Paridade de Poder de Compra (PPC), o que corrige as distorções geradas pelas taxas de câmbio e pelas diferenças de preços entre os países.

Essa metodologia permite estimar com certa precisão qual nível de consumo pode alcançar uma pessoa que recebe o salário mínimo em seu país.

Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para 2024, citados pelo acadêmico, os salários mínimos mensais em Paridade de Poder de Compra (PPC) variam amplamente na região.

No extremo inferior está o Suriname, com apenas US$ 283 em PPC, enquanto Costa Rica (US$ 1.054) e Equador (US$ 1.022) encontram-se na faixa mais alta, aproximando-se do patamar de referência dos Estados Unidos (US$ 1.257).

“Essa ampla dispersão revela profundas assimetrias nas condições de trabalho e no poder de compra dos trabalhadores formais”, disse.

Em outras palavras, o salário mínimo médio na América Latina gira em torno de US$ 772 em PPC, o que representa aproximadamente 60% do salário mínimo dos Estados Unidos.

Mesmo os países com nível relativamente mais alto não alcançam o patamar de referência dos EUA, e muitos se mantêm abaixo dos 50% do valor, o que indica sérias dificuldades para cobrir os custos básicos de vida, segundo Sebastián Balsells.

De acordo com o professor, as mudanças nos salários mínimos refletem tanto condições econômicas quanto prioridades políticas e modelos de desenvolvimento divergentes.

Nos países em que o salário mínimo cresceu significativamente em termos reais e em paridade de poder de compra, pode-se observar uma intenção de dinamizar o consumo interno.

Em contraste, países com aumentos mais moderados tendem a priorizar a estabilidade macroeconômica, o controle da inflação ou a competitividade via custos.

Além disso, diz Balsells, em alguns casos, “o salário mínimo cumpre uma função mais simbólica ou política, sem fazer parte de uma estratégia econômica coerente, especialmente quando faltam mecanismos eficazes de atualização”.

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