Bloomberg — O Paraguai aposta que laços mais estreitos com o Brasil permitirão ao país resistir melhor à guerra comercial entre Washington e Pequim, disse o ministro da Economia e Finanças, Carlos Fernández, em entrevista à Bloomberg News nos bastidores das reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, em Washington.
O Paraguai está entre os países cujos produtos agora pagam uma tarifa de 10% para entrar nos Estados Unidos, enquanto suas ligações diplomáticas com Taiwan significam que não pode vender diretamente a soja e carne bovina do país para a China.
“Se há um problema no comércio do Sul para o Norte, temos que começar a pensar em negociar do Sul para o Sul”, disse Fernández na quinta-feira, enquanto comparava o Brasil como a China da América do Sul. “Estamos apostando muito na relação comercial com o Brasil.”
A economia de US$ 47 bilhões do Paraguai já depende mais do comércio com os vizinhos Argentina e Brasil, que juntos representaram cerca de 63% de suas exportações no ano passado, do que com o restante do mundo.
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O Brasil é um mercado especialmente importante para o crescente setor industrial do Paraguai, comprando quase dois terços dos bens produzidos sob seu regime de manufatura para exportação.
O presidente de centro-direita, Santiago Peña, tem buscado impulsionar o comércio e os investimentos no Paraguai ao construir pontes com governos de todo o espectro político.
Peña, que tem viajado pelo mundo, mantém boas relações com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, e também com o chefe de estado da Argentina, Javier Milei.
“Temos que trabalhar com o Brasil, com os EUA e com a Argentina, independentemente de quem esteja no poder”, disse Fernández.
O Paraguai é uma das economias que mais crescem na América Latina.
O Banco Central prevê um crescimento de 4,4% neste ano. Fernández projeta um crescimento superior a 5% este ano, mesmo com o governo buscando cortar o déficit para 1,5% até o final de 2026.
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Fernández quer diversificar ainda mais uma economia ainda fortemente dependente da pecuária e da agricultura, promovendo o país como destino para investimentos em data centers. O Paraguai já é um polo global de mineração de criptomoedas, graças à energia hidrelétrica abundante e barata.
“No curto prazo, isso é bom. Mas, no médio prazo, queremos data centers”, disse Fernández.
Autoridades do governo abordaram o Google, da Alphabet, e a Amazon, entre outros potenciais investidores, disse.
“Estamos trabalhando com Taiwan para aumentar a visibilidade do Paraguai como o lugar para investir se você realmente estiver procurando fazer inteligência artificial”, afirmou.
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O Paraguai conquistou sua primeira nota de crédito de grau de investimento no ano passado, quando a Moody’s Ratings elevou a classificação do país de Ba1 para Baa3, com perspectiva positiva, graças a uma economia em crescimento e finanças públicas sólidas.
Neste ano, a S&P Global Ratings e a Fitch Ratings elevaram sua perspectiva para o país de estável para positiva e confirmaram suas notas BB+, um nível abaixo do grau de investimento.
Os títulos de dívida do Paraguai já estão sendo negociados como se o país tivesse mais de uma classificação de grau de investimento, disse Fernández.
“Estamos fazendo a coisa certa e quando você faz a coisa certa, os resultados aparecem mais cedo ou mais tarde”, afirmou.
O governo Peña pediu aprovação do Congresso para emitir até US$ 1,44 bilhão em títulos nacionais e internacionais como parte do projeto do orçamento de 2026.
O Paraguai planeja acessar os mercados internacionais de dívida em janeiro ou fevereiro, com emissão de títulos denominados em dólares dos EUA e em moedas locais, acrescentou Fernández.
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