Guerra comercial já altera a logística na América Latina, diz CEO da DHL Supply Chain

Em entrevista à Bloomberg Línea, Oscar de Bok, CEO global da DHL Supply Chain, diz que o embate tarifário e o avanço das importações da China têm provocado mudanças nas cadeiras de suprimentos na região

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Bloomberg Línea — A guerra comercial e o avanço da China como parceiro-chave na região têm impulsionado uma transformação nas cadeias de suprimento da América Latina, com mais produção local, nearshoring e demanda por bens críticos, disse à Bloomberg Línea Oscar de Bok, CEO global da DHL Supply Chain.

O embate tarifário provocou uma disrupção global nas cadeias de suprimento e na logística global, a ponto de empresas e diversos setores econômicos terem começado a se preparar antes do cumprimento da prorrogação de 90 dias de Donald Trump para a imposição de novas taxas.

“Não diria que a cadeia de suprimentos foi afetada, mas sim que evoluiu em resposta aos requisitos e necessidades do mercado latino-americano, que estão mudando”, disse de Bok, que lidera a divisão da gigante de logística alemã.

Segundo o executivo, no contexto atual há um impulso para aumentar as capacidades de produção local na América Latina, o que em sua visão melhora a resiliência e reduz a dependência das importações.

“Existem oportunidades para realocar ou encurtar as cadeias de suprimento na América Latina”, disse de Bok. “Uma tendência é o nearshoring, onde as empresas estão transferindo a fabricação para mais perto dos mercados finais. Isso ajuda a reduzir os prazos de entrega e os custos de transporte.”

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Segundo o executivo, as empresas estão reavaliando suas estratégias de cadeia de suprimentos, com algumas considerando a diversificação.

“O omnisourcing deveria ser um fator-chave nas indústrias”, disse ele, se referindo à estratégia de investir em múltiplos pontos de fornecimento mais próximos aos grandes mercados de venda.

Na América Latina, isso poderia criar oportunidades para que os mercados locais fortaleçam suas capacidades de manufatura e atraiam investimentos estrangeiros.

Em sua opinião, os países da região poderiam ver um aumento na participação comercial ao se tornarem locais alternativos de abastecimento de suprimentos.

DHL vê maior dinâmica com a China

Em meio às tensões comerciais globais, a DHL indicou que houve um aumento na demanda de importações da China para a América Latina, considerando setores como o automotivo. Por exemplo, “no México vimos o estabelecimento de empresas automotivas nos últimos anos”, disse.

Outro caso é o da Argentina, onde as importações da China medidas em dólares cresceram no primeiro trimestre 77,3% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a Câmara Argentina de Comércio (CAC).

Oscar de Bok considera que é provável que as empresas busquem oportunidades de diversificação em suas cadeias de suprimento, o que converte a América Latina em “um mercado cada vez mais atrativo para as exportações e investimentos chineses”.

“A China expandiu significativamente suas exportações de tecnologias limpas, como painéis solares, baterias e veículos elétricos, para mercados emergentes, incluindo a América Latina”, disse o executivo.

Diante da dinâmica atual, a DHL projeta uma evolução positiva do comércio entre China e América Latina apesar das tensões globais atuais ou até mesmo devido a elas.

De acordo com cifras compiladas pela Associação Nacional de Comércio Exterior (Analdex), a China é líder no setor logístico em nível mundial, já que 32% da frota global de porta-contêineres foi construída no país asiático e contam com 7 das 10 empresas de navegação mais importantes do mundo.

Maior demanda de bens críticos

O executivo da DHL assinalou que nos últimos meses houve uma maior demanda de produtos sensíveis à temperatura, como vacinas e dispositivos médicos especializados.

De Bok explicou que vem se acelerando a necessidade de mover suprimentos médicos globalmente, uma tendência que vem sendo evidenciada desde a pandemia.

Segundo dados da Global Health Intelligence, citados pela DHL, de 2018 a 2023 as importações de dispositivos e equipamentos médicos chineses na América Latina cresceram 27% em unidades totais e 39% em valor total.

Além disso, a implementação de logística avançada de cadeia de frio se tornou essencial para garantir a integridade e a entrega oportuna de produtos críticos de atenção médica, permitindo às empresas adaptar suas cadeias de suprimento para satisfazer melhor as crescentes demandas do mercado.

“Estamos realizando investimentos significativos em infraestrutura logística na América Latina, incluindo 200 milhões de euros (cerca de US$ 229 milhões) destinados a expandir nossas redes de temperatura controlada e estabelecer novos Pharma Hubs para agilizar a distribuição”, explicou De Bok.

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