Exportações da China para os EUA caem 34% em um ano sob efeito da guerra comercial

Apesar do recuo expressivo nos embarques para os EUA, as exportações chinesas avançam 5% em maio, impulsionadas pela demanda externa

Por

Bloomberg — As exportações da China para os EUA caíram 34,4% em um ano, de acordo com cálculos da Bloomberg News, a maior queda desde fevereiro de 2020, quando a primeira onda da pandemia fechou a economia chinesa.

Isso ocorreu apesar do acordo firmado em 12 de maio, que concedeu alívio temporário às importações da China, que teriam enfrentado taxas de até 145%.

Em relação aos dados de maio, as exportações chinesas aumentaram menos do que o esperado, já que a pior queda nos embarques para os EUA em mais de cinco anos neutralizou a forte demanda de outros mercados.

Leia também: China amplia controle sobre rendimentos no exterior para arrecadar mais impostos

As exportações aumentaram quase 5% em relação a um ano atrás, chegando a US$ 316 bilhões em maio, mais lentamente do que a previsão dos economistas de um crescimento de 6%.

A diferença reflete a natureza de duas velocidades da economia chinesa, com forte produção industrial e demanda externa, mas fraco consumo interno privado.

A demanda externa, que representou quase 40% do crescimento no primeiro trimestre, ajuda a compensar a lentidão dos gastos dos consumidores no país.

Mas isso também torna o país mais dependente da manutenção de laços estáveis com parceiros comerciais como os EUA, com quem Pequim iniciará outra rodada de negociações na segunda-feira.

O índice CSI 300, referência para ações onshore, reduziu os ganhos após a divulgação dos dados comerciais e subiu 0,3% após o intervalo do almoço.

“As perspectivas comerciais permanecem altamente incertas nesta fase”, disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint.

Ele acrescentou que a antecipação deve ajudar a sustentar o ímpeto das exportações em junho, mas pode enfraquecer nos próximos meses.

As importações caíram 3,4%, tendo caído em quatro dos últimos cinco meses.

Cumulativamente, o superávit comercial aumentou para quase meio trilhão de dólares de janeiro a maio, segundo dados divulgados no início do dia.

A queda na demanda dos EUA pode ter sido um fator que convenceu Pequim a se reunir com os negociadores comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump, em Genebra, no mês passado, e concordar com uma trégua tarifária.

Esse declínio acentuado mais do que compensou um aumento de 11% nas exportações para outros países, mostrando o peso da maior economia do mundo, mesmo quando Pequim reduziu sua dependência de remessas diretas para lá após a guerra comercial durante o primeiro mandato de Trump.

As remessas para o Vietnã aumentaram 22%, ficando acima de US$ 17 bilhões pelo terceiro mês consecutivo, já que as empresas chinesas continuaram a fazer remessas por meio de outros países para tentar evitar as tarifas dos EUA.

Entretanto, esse fluxo está aumentando o déficit comercial dos EUA com o Vietnã e outras nações, complicando ainda mais as negociações com os EUA sobre suas próprias tarifas.

O que diz a Bloomberg Economics:

“A demanda na Asean e na UE continuou a amortecer o golpe nas exportações da China em decorrência do golpe dos EUA, mas não o suficiente para evitar uma desaceleração geral.”

- David Qu, economista

No segundo semestre do ano, a China poderá enfrentar um obstáculo ao crescimento caso os riscos ao comércio global se materializem, com a expectativa de que a expansão desacelere rapidamente a partir do próximo trimestre.

A mediana das previsões para o crescimento nos últimos três meses do ano é de 4%, o que seria o mais lento desde o final de 2022, quando a rápida disseminação da Covid em todo o país fez com que o crescimento caísse para 3%.

Ajustar as mudanças nos preços tornaria esse aumento ainda mais fraco. O país está preso em uma deflação que não mostra sinais de acabar em breve, apesar de o governo e o banco central terem implementado algumas medidas de estímulo.

Isso foi ressaltado com a divulgação, na segunda-feira, de dados de inflação que mostram que a deflação continuou em maio. Os preços de fábrica caíram pelo 32º mês consecutivo.

Os preços ao consumidor também caíram em relação ao ano passado, provavelmente continuando a pressionar para baixo os preços das exportações.

Os volumes de exportação cresceram mais rápido do que os valores todos os meses desde fevereiro de 2023, indicando que os preços estão caindo.

Embora isso torne os produtos chineses mais competitivos globalmente, também prejudica os concorrentes de outros países e fez com que um número crescente de nações impusesse sanções comerciais, inclusive tarifas sobre os produtos chineses.

Os EUA estão ameaçando aumentar as tarifas sobre muitos países a partir do início de julho e sobre a China a partir de agosto.

Isso poderia reduzir ainda mais a demanda por produtos chineses destinados diretamente aos EUA e também usados como insumos em produtos manufaturados de outros países.

Mesmo que a China e outras nações consigam chegar a um acordo com o governo Trump, a demanda dos EUA e de outros países ainda poderá enfraquecer, já que as empresas desacelerarão suas compras frenéticas com o objetivo de superar as tarifas.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

HSBC: força na China e tecnologia para produtos reforçam expansão, diz CEO no Brasil