Eurasia vê diálogo difícil do Brasil com Trump por cobrança política ‘inegociável’

Alegação do presidente americano ligada ao julgamento de Jair Bolsonaro cria desafio para negociação comercial e oportunidade de exploração do caso pelo governo Lula, disse o diretor para as Américas, Christopher Garman, à Bloomberg News

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Bloomberg — As tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump ao Brasil foram maiores do que o esperado e vão exigir uma “negociação bem difícil” por parte do governo brasileiro, disse Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da Eurasia.

“O desafio é que a justificativa é política, sobre julgamento do ex-presidente Bolsonaro e redes sociais. Não são temas negociáveis”, disse Garman em entrevista à Bloomberg News.

Em uma carta publicada em sua conta na rede social na qual anunciou tarifas de 50% aos produtos brasileiros na quarta-feira (9), Trump disse que estava fazendo a mudança “em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”.

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O diretor da Eurasia, uma das consultorias de risco político mais prestigiosas e respeitadas do mundo, afirmou que não vê um caminho para negociações fáceis entre os dois países.

Ele ainda observou que há a possibilidade de o governo brasileiro e o PT, partido do presidente Lula, aproveitarem para explorar a situação internamente, como aconteceu em outros países.

“O PT e o governo podem ver como oportunidade de dizer que o Bolsonaro está se alinhando a quem está tirando empregos do Brasil”, disse. “Algumas experiências internacionais mostram isso”, afirmou. “O incentivo não é para baixar a bola.”

Na noite de quarta-feira, Lula afirmou no X que qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida com reciprocidade.

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse que Trump teme o fortalecimento das relações comerciais do chamado “Sul Global” e que o país não será refém nem do presidente americano “nem de Bolsonaro”.

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As exportações para o mercado americano representam 12% do total exportado pelo Brasil e cerca de 2% do PIB, segundo o diretor da Eurasia.

“Tarifas de 50% são um ponto fora da curva para um país que tem déficit com os EUA”, afirmou. Em geral, os países estão recebendo taxas menores, disse Garman. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.

A imposição das tarifas pelos EUA levou a um aumento do sentimento de aversão ao risco por parte de investidores nos mercados domésticos no fim do dia na quarta-feira, causando uma disparada do dólar e dos juros futuros.

O Ibovespa, que já estava fechado na hora do anúncio, terminou o dia em queda de mais de 1%. As ações de exportadoras, destacadamente Embraer e WEG, caíram com declaração de Trump, mais cedo, sinalizando que o anúncio sobre tarifa mais elevadas ao Brasil ocorreria até o fim do dia ou a quinta-feira.

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