Trump pressiona o Irã a fazer a paz e ameaça mais ataques dos Estados Unidos

Em pronunciamento na televisão, presidente americano falou que ainda ‘há muitos alvos restantes’ se o Irã não buscar a paz

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Bloomberg — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump afirmou em pronunciamento que os ataques americanos “aniquilaram completa e totalmente” as três principais instalações nucleares do Irã, e ameaçou novas ações militares caso Teerã não aceite fazer a paz com Israel.

“Isso não pode continuar. Haverá ou paz, ou uma tragédia para o Irã, muito maior do que a que vimos nos últimos oito dias”, disse Trump na noite de sábado (21), em um discurso de três minutos feito a partir da Casa Branca.

“Lembrem-se, ainda há muitos alvos restantes”, acrescentou o presidente. “O de hoje à noite foi, de longe, o mais difícil de todos, e talvez o mais letal. Mas se a paz não vier rapidamente, vamos atingir os outros alvos com precisão, velocidade e habilidade.”

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Trump afirmou que as forças dos Estados Unidos atingiram instalações nucleares em Natanz, Fordow e Isfahan, chamando os ataques de “um sucesso militar espetacular”.

“As principais instalações de enriquecimento nuclear do Irã foram completamente e totalmente destruídas”, disse o presidente. “O Irã, o valentão do Oriente Médio, agora precisa fazer a paz. Caso contrário, os próximos ataques serão muito maiores — e muito mais fáceis.”

Logo após o pronunciamento, Trump publicou em uma rede social um aviso ao Irã: “QUALQUER RETALIAÇÃO DO IRÃ CONTRA OS ESTADOS UNIDOS SERÁ RESPONDIDA COM FORÇA MUITO MAIOR DO QUE O QUE FOI PRESENCIADO ESTA NOITE. OBRIGADO! DONALD J. TRUMP, PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS.”

Trump estava acompanhado do vice-presidente JD Vance, do secretário de Estado Marco Rubio e do secretário de Defesa Pete Hegseth. O presidente disse que o chefe do Pentágono daria uma coletiva de imprensa no domingo (22) para comentar os ataques com mais detalhes.

Os ataques representam uma das decisões mais significativas do segundo mandato de Trump na Casa Branca.

Eles elevam drasticamente as tensões em um conflito que ameaça desestabilizar ainda mais a região e se expandir para uma guerra maior no Oriente Médio, já que o Irã havia ameaçado retaliar caso os EUA se unissem ao ataque de Israel.

Para Trump, a decisão representa uma reviravolta para um presidente que voltou à Casa Branca com a promessa de manter os EUA fora de conflitos no exterior e que sempre criticou o envolvimento americano em intervenções na região, como as guerras no Iraque e no Afeganistão.

Trump argumentou que sua política de longa data tem sido impedir que o Irã obtenha uma arma nuclear. Ele apresentou a ofensiva militar como o desfecho de seu esforço contínuo para pôr fim ao programa nuclear iraniano, conter as ameaças a Israel e os ataques contra interesses dos EUA no Oriente Médio.

“Durante 40 anos, o Irã vem dizendo ‘morte à América, morte a Israel’. Eles vêm matando nosso povo, arrancando seus braços e pernas com bombas nas estradas”, disse Trump. “Decidi há muito tempo que não deixaria isso continuar, e não continuará.”

Israel vinha pressionando os EUA a se juntar à sua ofensiva militar para impedir que o Irã adquirisse uma arma nuclear e usar suas bombas capazes de destruir bunkers — que Israel não possui — contra instalações nucleares subterrâneas. Desde o início dos ataques israelenses, os EUA tinham limitado sua participação ao apoio na defesa de Israel contra mísseis e drones iranianos.

Membros do Partido Republicano que têm uma postura dura em relação à segurança nacional, como o senador Lindsey Graham, reforçaram esse apelo, dizendo que era o momento certo para atacar o Irã em seu estado enfraquecido.

Os ataques ao Irã também expuseram divisões no Partido Republicano, já que alguns membros da ala mais radical do movimento “Make America Great Again” condenaram a possibilidade de os EUA se envolverem em mais um conflito estrangeiro.

Aliados de Trump, Steve Bannon, o ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson e a deputada Marjorie Taylor Greene se posicionaram contra os ataques, alertando sobre o risco de os EUA se enredarem em outra guerra no Oriente Médio.

“Essa não é a nossa luta”, escreveu Greene no X.

Trump vinha mantendo o mundo em suspense sobre se levaria os EUA para a guerra. Na quinta-feira, disse que tomaria uma decisão final em até duas semanas — um prazo que pareceu longo, dado o ritmo acelerado dos acontecimentos no conflito.

Na sexta-feira, ele sinalizou que poderia agir antes disso, afirmando a repórteres que “duas semanas seria o máximo”. Também indicou que os EUA não enviariam tropas terrestres, dizendo que essa era “a última coisa que você quer fazer”.

Essas declarações foram feitas após uma rodada de negociações nucleares entre os ministros das Relações Exteriores do Irã, Alemanha, França e Reino Unido — uma última tentativa de oferecer ao Irã uma saída diplomática para o conflito. Mas as conversas em Genebra terminaram sem avanços, e o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que só consideraria continuar as negociações se os ataques israelenses cessassem.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, alertou na quarta-feira que ataques dos EUA contra a República Islâmica “trariam danos irreparáveis para eles”.

Antes do primeiro ataque israelense na semana passada, Trump havia repetidamente dito que preferia uma solução diplomática e que queria chegar a um novo acordo nuclear com o Irã.

Os EUA e o Irã estavam programados para realizar uma sexta rodada de negociações nucleares durante o fim de semana, mas os encontros foram cancelados após o primeiro ataque israelense. No entanto, ao final da semana, Trump afirmou que sua paciência com o Irã havia se esgotado e que já era “tarde” para Teerã mudar de postura.

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-- Reportagem atualizada para incluir mais detalhes

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