Efeito Trump: Índice Big Mac reflete pressão sobre poder de compra do americano

Americanos começam a ser atingidos por combinação de tarifas mais altas e moeda mais fraca, o que se traduz em perda do poder de compra, segundo dados do índice da ‘Economist’ sobre preço do famoso hambúrguer em diferentes países

A McDonald's Corp. Big Mac hamburger is arranged for a photograph in Tiskilwa, Illinois, U.S., on Friday, April 15, 2016. McDonald's Corp. is expected to report quarterly earnings on April 22. Photographer: Daniel Acker/Bloomberg
Por Daniel Buarque
16 de Julho, 2025 | 06:56 PM

Bloomberg Línea — A retórica protecionista e as tarifas impostas por Donald Trump têm exercido um efeito contrário ao esperado pelo governo americano em relação à força do dólar.

Segundo o mais recente Índice Big Mac, da revista The Economist, divulgado nesta quarta-feira (16), a moeda americana tem se desvalorizado à medida que os investidores internacionais perdem confiança nas políticas da Casa Branca.

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O índice, criado há quase quatro décadas como uma maneira de avaliar distorções cambiais, mostra que os cidadãos americanos começam a ser atingidos por uma combinação de tarifas mais altas e moeda mais fraca ao comprar produtos importados - ou seja, o seu poder de compra tem sido “corroído”.

“Amantes de hambúrguer ou não, os americanos estão sendo pressionados, enquanto sua moeda não se torna mais competitiva”, diz a Economist.

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O resultado vai contra as expectativas de Trump e da sua equipe, que alegam que agem em defesa do povo americano e contra a alta dos preços.

O presidente tem falado publicamente sobre a necessidade de fortalecer o dólar e chegou recentemente a ameaçar os países dos Brics de forma veemente por defenderem o comércio internacional em outras moedas - essa, aliás, é apontada como uma das razões verdadeiras para as tarifas de 50% sobre o Brasil.

Para Trump, países com superávit comercial com os EUA manipulam suas moedas para manter os preços de seus produtos artificialmente baixos. Seu governo impôs tarifas como forma de combater o que considera práticas desleais.

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Segundo o Índice Big Mac, o preço do sanduíche nos EUA aumentou de US$ 5,79 para US$ 6,01 no período de seis meses desde que Trump voltou ao poder, enquanto os preços do hambúrguer se mantiveram estáveis em países asiáticos como China, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Vietnã.

“Para aqueles, como o sr. Trump, que talvez tenham esperado que essa queda tornasse as exportações americanas mais competitivas, o fato de o dólar continuar caro (em termos de poder de compra de hambúrgueres) é desanimador”, aponta a Economist.

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O Big Mac mais caro é encontrado na Suíça, onde custa US$ 8,99. Na zona do euro, o preço é de US$ 6,92, e, no Reino Unido, de US$ 6,82.

Por outro lado, em Taiwan, o Big Mac custa US$ 2,66, no Vietnã, US$ 2,91, no Japão US$ 3,23, e, na China US$ 3,55.

“Suas moedas [certos de países asiáticos] podem agora comprar mais dólares do que antes, mas esses dólares compram menos coisas. Em termos de poder de compra, isso anula a mudança nas taxas de câmbio", diz a revista.

A Economist não apresenta dados sobre o Brasil, mas o McDonald’s vende o sanduíche (fora de combos ou promoções do dia) no país por R$ 17,90, o equivalente a US$ 3,22.

Criado em 1986, o Índice Big Mac se baseia na teoria da paridade do poder de compra (PPC), segundo a qual taxas de câmbio entre moedas deveriam se ajustar para que o mesmo sanduíche custe o mesmo em qualquer lugar do mundo. Se uma moeda está além ou aquém do que seria um “índice correto”, isso mostra que ela está sobrevalorizada ou subvalorizada.

O hambúrguer serve como referência justamente por ser um produto padronizado, presente em dezenas de países, embora com variações locais (como a versão de frango na Índia e o sanduíche sem queijo em Israel).

Embora o índice tenha caráter econômico informal, suas conclusões têm implicações econômicas e políticas. Desta vez, revela que a ofensiva tarifária de Trump tem encarecido a vida dos consumidores americanos.

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Daniel Buarque

Daniel Buarque

É doutor em relações internacionais pelo King’s College London. Tem mais de 20 anos de experiência em veículos como Folha de S.Paulo e G1 e é autor de oito livros, incluindo 'Brazil’s international status and recognition as an emerging power', 'Brazil, um país do presente', 'O Brazil é um país sério?' e 'O Brasil voltou?'