Bloomberg — O relatório anual de direitos humanos do Departamento de Estado dos EUA criticou o Brasil e a África do Sul, ao mesmo tempo em que reduziu as críticas a Israel e El Salvador. O documento muda a abordagem sobre o que apontado como abusos de outras nações para se alinhar com as prioridades do presidente Donald Trump.
O relatório, que tem o objetivo de servir como um registro das violações de direitos de outras nações, afirma que a situação dos direitos humanos no Brasil “piorou durante o ano”. O Brasil “minou o debate democrático” ao limitar o acesso a conteúdo on-line que considerou “‘minar a democracia’, suprimindo desproporcionalmente o discurso de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro”, diz o texto.
O texto também criticou a África do Sul pelo que disse ser uma situação “significativamente piorada” em 2024 e citou medidas para a “expropriação de terras dos afrikaners e outros abusos contra minorias raciais no país”.
Essas mudanças destacaram como o departamento do Secretário de Estado Marco Rubio mudou a ênfase da abordagem do governo americano de acordo com as disputas e alianças mutáveis de Trump com outras nações.
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Trump recentemente determinou tarifas de 50% sobre produtos do Brasil e impôs sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes, que está supervisionando casos legais contra Bolsonaro. Trump chamou o julgamento de seu aliado por uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2023 de “caça às bruxas”.
Em relação à África do Sul, Trump e Rubio alegaram que as leis fundiárias do país são injustas com os agricultores brancos, uma alegação estimulada pelo ex-conselheiro bilionário de Trump, Elon Musk. Ele espalhou a teoria da conspiração sobre um “genocídio” contra os afrikaners.
Da mesma forma, o Departamento de Estado suavizou as críticas anteriores aos aliados de Trump. Para El Salvador, o relatório não encontrou “nenhum relato confiável de abusos significativos de direitos humanos”, ao mesmo tempo em que afirma que “o governo tomou medidas confiáveis para identificar e punir funcionários que cometeram abusos de direitos humanos”.
O relatório anterior de El Salvador destacou a preocupação com as condições das prisões do país depois que o presidente Nayib Bukele declarou estado de emergência para reprimir o crime. Em 2022, a Anistia Internacional disse que as autoridades salvadorenhas “cometeram violações maciças dos direitos humanos, incluindo milhares de detenções arbitrárias e violações do devido processo legal, bem como tortura e maus-tratos”.
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Bukele surgiu como um importante aliado de Trump neste ano, abrindo suas prisões para manter supostos membros da gangue venezuelana Tren de Aragua deportados dos EUA. Bukele também se ofereceu para abrigar criminosos americanos, uma oferta que Rubio chamou de “extraordinária”, e foi recebido por Trump na Casa Branca para a primeira visita de um líder do Hemisfério Ocidental, em abril.
O relatório do ano passado forneceu mais detalhes sobre o número de palestinos mortos e feridos na guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza. O novo relatório também removeu referências ao julgamento por corrupção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
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