Como Costa Rica e Panamá se tornaram novo destino global de milionários

Enquanto grandes economias de LatAm como Brasil e México perdem indivíduos com elevada fortuna, dois países da América Central consolidam sua posição como destinos, aponta novo estudo da consultoria Henley & Partners

Ciudad de Panamá
22 de Julho, 2025 | 11:56 AM

Leia esta notícia em

Espanhol

Bloomberg Línea — A Costa Rica e o Panamá estão entre as economias latino-americanas que mais atraíram fortunas até agora neste ano, um fenômeno no qual centenas de milionários da América Latina deixaram ou estão em vias de deixar seus países de origem, de acordo com a consultoria Henley & Partners.

Até o fim de 2025, ambos os países receberão cerca de 650 novos milionários em seus territórios (a Costa Rica adicionará 350, e o Panamá, 300 ricos), enquanto as maiores economias regionais terão uma grande fuga de capital.

PUBLICIDADE

O Brasil enfrentará um êxodo de cerca de 1.200 milionários; da Colômbia e do México, 150 deixarão cada um dos países, e da Argentina, 100, de acordo com os números do Relatório de Migração de Milionários, publicado em parceria com a empresa de inteligência de riqueza global New World Wealth.

“A Costa Rica e o Panamá estão entre os dez mercados de milionários que mais crescem no mundo” em termos de atração de riqueza, disse Andrew Amoils, chefe de pesquisa da empresa de inteligência patrimonial New World Wealth, à Bloomberg Linea.

Fora desses mercados, pessoas ricas e ultrarricas de LatAm enfrentam desafios em áreas que vão da infraestrutura à segurança pública, o que dificulta o surgimento de outros países como destinos atraentes à elite.

PUBLICIDADE

Leia mais: Na Europa, governos endurecem ‘imposto de saída’ diante de fuga de milionários

Os milionários que estão migrando para esses dois países da América Central não partem necessariamente da região em si, segundo o relatório.

Melizandro Quirós Araya, economista e diretor do Centro de Estudos do Negócio Financeiro e Imobiliário da Costa Rica (CENFI), disse à Bloomberg Línea que, embora não haja um registro aberto desse tipo de desembarque devido ao alto perfil desses indivíduos, ele pode ser “estimado indiretamente pelas referências da origem das empresas que chegam a esses países”.

PUBLICIDADE

“A grande maioria, mais de 60% dessas pessoas, vem dos Estados Unidos e do Canadá. O percentual restante vem de Ásia (China, Japão, entre outros), Europa e, em menor escala, América Latina”, disse ele.

A Costa Rica foi o sétimo mercado global de crescimento mais rápido na população de milionários entre 2014-2024 (73%), para um total de 8.400 milionários (fortunas de US$ 1 milhão ou mais), 42 centromilionários (US$ 100 milhões ou mais) e três bilionários (US$ 1 bilhão ou mais).

O Panamá está em décimo lugar, com 7.500 milionários, 35 centimilionários e três bilionários (US$ 1 bilhão ou mais), de acordo com a Henley & Partners.

PUBLICIDADE

A chegada dos novos ricos na Costa Rica representaria um influxo de cerca de US$ 2,8 bilhões em capital, enquanto no Panamá representaria um ingresso de cerca de US$ 2,4 bilhões.

Leia mais: Como um condomínio de bilionários em Paraty se tornou rota líder em helicópteros

Quanto ao motivo pelo qual esses dois países estão atraindo indivíduos de alto patrimônio líquido (HNWI), Andrew Amoils mencionou seis fatores em particular:

  • Nenhum desses países aplica impostos sobre herança ou sucessão, o que é muito atrativo, especialmente para HNWIs (indivíduos de alta renda) mais velhos.
  • O Panamá tem uma taxa de imposto sobre ganhos de capital muito baixa em comparação com as normas internacionais. “Esse imposto costuma ser o mais relevante para os HNWIs na hora de migrar, já que grande parte de sua riqueza geralmente está ligada a participações em empresas (listadas ou não)”, disse o chefe de pesquisa da New World Wealth.
  • Ambos os países têm zonas residenciais de luxo bem consolidadas, atrativas para os HNWIs.
  • São mais seguros que a maioria dos demais países da região.
  • Ambos possuem sistemas de gestão patrimonial bem desenvolvidos.
  • Natureza, fauna, praias e paisagens.

Veja a seguir mais detalhes sobre cada um dos dois países:

A perspectiva na Costa Rica

San José, capital da Costa Rica

A Costa Rica continua a se estabelecer como um destino atraente para investimentos estrangeiros, em grande parte devido à sua estabilidade macroeconômica e política, bem como a um ambiente institucional previsível.

O país “tem uma taxa de crescimento relativamente maior do que a média da América Latina (3,4%). Também tem a inflação (-0,12% ao ano) e as taxas de juros (3,75%) sob controle“, disse o economista Melizandro Quirós Araya.

Além disso, os recentes acordos e a aprovação de novos empréstimos com organizações multilaterais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), “podem ser interpretados como uma confiança das autoridades internacionais na gestão econômica do país no médio prazo (5 a 7 anos)”.

Em termos fiscais, ele enfatizou que “o país tem uma política fiscal responsável, que se presume não gerar grandes mudanças no modelo tributário”, o que dá segurança aos investidores nacionais e estrangeiros.

Em nível político, a percepção de solidez institucional também joga a favor da Costa Rica.

De acordo com o diretor do CENFI, “a Costa Rica apresenta um panorama político muito estável, com poucas perspectivas de mudanças ou alterações em seus programas econômicos e sociais“.

Leia mais: Catarina, aeroporto da JHSF, atrai ultrarricos de olho em ‘triângulo do luxo’

Quirós acrescentou que a relação entre o presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, e seu colega norte-americano, Donald Trump, “representa um endosso e a confiança dos Estados Unidos na gestão do atual governo, o que permitiria a continuidade dos atuais investimentos internacionais, especialmente nas zonas de livre comércio“.

Sobre a estrutura legal para investimentos estrangeiros, ele disse que, apesar dos debates sobre reformas tributárias, houve um consenso majoritário para continuar a proteger os investimentos dentro do território nacional.

O país tem acordos de livre comércio com mais de 15 países, incluindo os EUA, a União Europeia e a China.

Por fim, ele destacou as oportunidades de investimento em setores como energia, infraestrutura hídrica e gás, bem como o crescimento do centro de negócios de exportação de produtos médicos e eletrônicos.

“É um nicho de negócios que continua a crescer e, portanto, pode atrair novas empresas de todo o mundo”, concluiu.

Panorama no Panamá

.

No caso do Panamá, o país conseguiu manter seu grau de investimento para a dívida soberana apesar de uma década de “desordem fiscal”, disse Carlos Araúz, analista e consultor econômico, que tem base no Panamá.

Apesar dos desafios, o país se destaca pela força de seu sistema financeiro, que combina serviços jurídicos, consultoria em seguros e estruturas que permitem que os projetos sejam executados rapidamente e com proteção de capital.

Ele lembrou que o Panamá foi recentemente retirado das chamadas “listas cinzentas” ligadas à lavagem de dinheiro, o que fortaleceu a percepção de transparência e segurança jurídica .

Ele também enfatizou que, sem um banco central oficial e com a dolarização, a economia panamenha exige maior autorregulação por parte dos bancos, o que aumenta a confiança dos investidores.

Além disso, ele destacou a conectividade logística com a América Central, o sul dos Estados Unidos e até mesmo a Europa e um ambiente favorável que transformou o país no que define como “um paraíso natural para o capital”.

De acordo com Araúz, tanto o Panamá quanto a Costa Rica compartilham vantagens que atualmente alimentam o interesse global em colocar capital na região.

Ele enfatizou que a Costa Rica tomou decisões fiscais e monetárias bem pensadas, o que fortaleceu sua capacidade de atrair investimentos estrangeiros diretos.

“O foco no país com uma visão clara do turismo - considerando suas áreas costeiras, vulcânicas, montanhosas e outras - tem sido fundamental. Todas elas fazem parte de um grande ambiente, um ecossistema que promove a Costa Rica como um destino turístico. E esse tem sido o caso nos últimos 20 a 25 anos”, disse Araúz.

Ele também disse que o país desenvolveu clusters de produção em setores como tecnologia, produtos farmacêuticos e logística.

Além de sua estabilidade macroeconômica, ele destacou sua força institucional, com um sistema judicial que demonstrou capacidade de punir a corrupção e um ambiente seguro que não depende de uma estrutura militar.

De acordo com dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), entre as economias da América Central, a Costa Rica foi o país que mais recebeu investimentos estrangeiros diretos no ano passado (um aumento de 13%), com um total de US$ 5,298 bilhões, seguida pelo Panamá, com US$ 3,240 bilhões (um aumento de 35,7%).

Leia também

Quais são os países mais competitivos da América Latina? Brasil fica fora do ‘top 5’

Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.