Alemanha rejeita plano para subir orçamento da UE em 60%, para € 2 tri em sete anos

Maior economia do bloco diz que aumento proposto pela Comissão Europeia é ‘inaceitável’ em momento de busca de consolidação fiscal e evidencia desafio de subir gastos em áreas como defesa e apoio às empresas diante de nova postura dos EUA

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Bloomberg — A Alemanha rejeitou a proposta orçamentária de 2 trilhões de euros (US$ 2,3 trilhões) da Comissão Europeia, horas depois de ela ter sido anunciada pela presidente Ursula von der Leyen, em Bruxelas.

“Um aumento abrangente no orçamento da UE é inaceitável em um momento em que todos os estados-membros estão fazendo esforços consideráveis para consolidar seus orçamentos nacionais”, disse o porta-voz-chefe do governo alemão em um comunicado. “Portanto, não poderemos aceitar a proposta da comissão.”

A declaração do maior estado-membro e da maior economia da UE aponta para a batalha que o braço executivo do bloco tem pela frente ao tentar obter a adesão unânime para o próximo orçamento de sete anos, que começa em 2028.

No início do dia, a comissão revelou o esboço da proposta após intensas negociações que se estenderam até a noite de terça-feira (15) e foram retomadas na manhã seguinte (16).

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O valor de 1,98 trilhão de euros representa um salto substancial de 60% em relação ao 1,2 trilhão de euros - equivalente a 1% da produção da UE - que foi alocado durante o último ciclo orçamentário aprovado, entre 2021 e 2027.

O projeto de plano inclui um fundo de competitividade, prosperidade e segurança de 590 bilhões de euros, dos quais 451 bilhões de euros são destinados a ajudar as empresas europeias a acompanhar o ritmo de seus rivais internacionais.

Para direcionar os recursos para essas áreas, o financiamento para a agricultura - tradicionalmente uma das maiores despesas do bloco - será cortado.

Os agricultores receberão pelo menos 300 bilhões de euros em pagamentos diretos, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, aos repórteres em Bruxelas.

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Isso se compara aos 387 bilhões de euros do atual orçamento agrícola, embora a combinação de metas para o financiamento sofra algumas alterações.

A comissão também propôs 100 bilhões de euros em financiamento para a Ucrânia durante o período de sete anos coberto pelo orçamento - um país estratégico em termos de defesa dada a vizinhança com a Rússia.

A Bloomberg News informou anteriormente que a comissão estava avaliando a medida. Von der Leyen disse que o dinheiro apoiaria a recuperação e a resiliência da Ucrânia, bem como o caminho do país para a adesão à UE.

A proposta de quarta-feira dá início a um processo trabalhoso, no qual o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu, que representam os Estados membros, avaliarão o processo. Os líderes da UE precisam dar seu apoio unânime. O orçamento deve ser acordado até o final de 2027.

Os debates sobre o orçamento da UE são controversos há muito tempo, pois a UE lida com demandas concorrentes, desde a agricultura até o financiamento regional para os Estados membros mais pobres.

A proposta deste ano, que regerá as prioridades de gastos do bloco entre 2028 e 2034, é ainda mais delicada, dado o objetivo da UE de reforçar suas capacidades de defesa e melhorar sua competitividade, dado que enfrenta ameaças econômicas dos EUA - e menos gastos do país - e a crescente concorrência da China.

No ano passado, um relatório do ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi alertou que a UE enfrenta um déficit de investimento de 800 bilhões de euros por ano.

O atual orçamento de longo prazo apoia cerca de 50 fundos da UE, de projetos de pesquisa a de energia. Ele é financiado principalmente com recursos dos Estados membros, sendo que as economias mais ricas são contribuintes líquidos para o fundo comum.

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse que a casa - que deve aprovar a proposta - garantirá que cada centavo do orçamento seja contabilizado. “A disciplina fiscal não é uma escolha, é nossa responsabilidade”, disse ela.

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