Bloomberg — Uma das diretoras (governors) do Federal Reserve, Adriana Kugler deixará seu cargo, segundo anunciou o banco central americano nesta sexta-feira (1).
A renúncia proporcionará ao presidente Donald Trump a oportunidade, mais cedo do que o previsto, de nomear um novo integrante para a diretoria do Fed que se alinhe à sua visão sobre as taxas de juros.
“Foi uma honra para toda a vida servir no Conselho de Governadores do Sistema do Federal Reserve”, disse Kugler em uma carta de demissão enviada a Trump.
“Sinto-me especialmente honrada por ter servido durante um período crítico para cumprir nosso duplo mandato de reduzir os preços e manter um mercado de trabalho forte e resiliente.”
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O mandato de Kugler como governor do Fed só terminaria em janeiro de 2026.
Trump e seus aliados têm exercido intensa pressão sobre o Fed e o presidente Jerome Powell para que reduzam as taxas de juros, o que os formuladores de política monetária têm se recusado a fazer até agora neste ano diante do entendimento consensual de que a inflação segue elevada.
Trump, ao deixar a Casa Branca na sexta-feira, disse a jornalistas que está “muito feliz” por ter uma vaga aberta no conselho do Fed e que acredita que Kugler decidiu deixar o cargo porque “ela discordou de ‘Too Late’ sobre a taxa de juros”, usando seu apelido depreciativo para Powell.
A carta de demissão de Kugler não especificava o motivo pelo qual ela decidiu deixar seu cargo.
Ela não se afastou publicamente de Powell em relação à política de taxas de juros. Em seu discurso mais recente, em 17 de julho, Kugler disse que, com o aumento da inflação de bens e a estabilidade do mercado de trabalho, o Fed deveria continuar mantendo as taxas estáveis “por algum tempo”.
Kugler não estava presente na reunião de política do Fed desta semana. Na ocasião, o Fed disse que ela não compareceu à reunião por causa de um “assunto pessoal”.
Os títulos do Tesouro, que estavam se recuperando desde a manhã de sexta-feira devido a dados mais suaves sobre empregos, ampliaram seus ganhos depois que Kugler anunciou sua demissão.
A alta fez com que os rendimentos das notas de dois anos - que são mais sensíveis a mudanças na política monetária - caíssem até 29 pontos-base, o maior valor desde dezembro de 2023.
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Traders foram rápidos em aumentar as apostas em cortes nas taxas. Eles agora estão precificando totalmente duas reduções de um quarto de ponto neste ano, com 90% de chance de que a primeira ocorra na reunião do Fed no próximo mês.
O Bloomberg Dollar Spot Index fechou em queda de quase 0,9%.
Na sexta-feira, Trump pediu aos membros da diretoria do Fed que “ASSUMAM O CONTROLE E FAÇAM O QUE TODOS SABEM QUE DEVE SER FEITO!”, em um aparente apelo para que votem a favor de taxas de juros mais baixas.
O aumento da pressão de Trump ocorre depois que as autoridades do Fed deixaram as taxas de juros inalteradas no intervalo entre 4,25% e 4,50% na quarta-feira.
Em sua habitual entrevista coletiva de imprensa após a reunião, Powell não deu nenhum sinal claro de que os formuladores de política monetária provavelmente reduziriam as taxas na próxima reunião, em setembro.
Escolha do presidente do Fed
A decisão de Kugler de renunciar ocorre no momento em que Trump e as principais autoridades do governo intensificam sua busca por quem substituirá Powell quando seu mandato à frente do banco central terminar em maio de 2026.
O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, havia sugerido que o governo poderia nomear alguém para ocupar primeiro a cadeira de Kugler e, posteriormente, elevar essa pessoa à presidência.
O diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, o ex-governador do Fed Kevin Warsh, o atual diretor do Fed Christopher Waller e Bessent foram apontados como candidatos para dirigir o banco central.
Kugler, que atua como diretora do Fed desde setembro de 2023, tornou-se a primeira de origem hispânica a fazer parte do colegiado de diretores do banco central americano.
Sua nomeação atendeu a um apelo de anos dos democratas para aumentar a diversidade no Fed, ao nomear um membro hispânico.
Antes de ingressar no Fed, a economista colombiana-americana foi representante dos EUA no Banco Mundial. Ela também atuou como economista-chefe do Departamento do Trabalho durante o governo do presidente Barack Obama.
Sua renúncia entrará em vigor em 8 de agosto, informou o Fed. Ela retornará ao seu cargo de professora na Georgetown University.
-- Com a colaboração de Jonnelle Marte, Ezra Fieser e Skylar Woodhouse.
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