Bloomberg Línea — Nesta semana, completaram-se seis meses desde que os mercados globais, e o americano em particular, sofreram o impacto da DeepSeek, o modelo de IA desenvolvido pela China que causou um choque nas ações de tecnologia.
Em 27 de janeiro, no dia em que a existência da DeepSeek se tornou de conhecimento público, a ação da Nvidia (NVDA) despencou 17% e a empresa perdeu US$ 593 bilhões em valor de mercado em um único dia, a maior redução diária em capitalização de mercado da história.
Esse dia marcou o início de um período de grande volatilidade para os mercados globais. Após uma breve estabilização, os principais índices em Nova York - incluindo o S&P 500 - recuaram novamente até o início de março, em um episódio que alguns analistas apelidaram de “Liberation Day”.
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Nesse período, por exemplo, as ações da Nvidia acumularam uma perda de quase 34% em relação ao valor anterior ao anúncio.
Recuperação desigual
Um relatório recente do Deutsche Bank analisou o desempenho do mercado desde então.
De acordo com o banco alemão, o índice Mag 7 ponderado por igual - ou seja, com peso igual a cada uma das sete gigantes da tecnologia - Meta, Apple, Amazon, Alphabet, Microsoft, Nvidia e Tesla - ficou atrás do S&P 500 em performance após o choque inicial, mas agora está perto de igualá-lo.
Em outras palavras, as Sete Magníficas parecem estar deixando para trás o impacto inicial da IA chinesa que se temia que abalasse as suas perspectivas de ganhos.
Dentro do grupo, a Tesla foi a mais atingida, prejudicada não apenas pelo contexto geopolítico - incluindo os atritos entre Donald Trump e Elon Musk - mas também por dúvidas sobre a sustentabilidade de suas margens.
Em contrapartida, a Microsoft, a Meta e a Nvidia conseguiram superar o desempenho do S&P 500 desde 27 de janeiro.
Mais concentração, mais fragilidade
O Deutsche Bank também destacou um fenômeno estrutural: o aumento da concentração no mercado de ações dos EUA.
As Mag 7 agora representam 31,1% do S&P 500, acima dos 30,7% antes do anúncio do DeepSeek, e se aproximam do recorde histórico de 31,8%.
Fora dos EUA, o banco chamou a atenção para a recente queda da Novo Nordisk, que até poucos dias atrás era a segunda empresa mais valiosa da Europa.
Em uma única sessão nesta semana, a farmacêutica do Ozempic e do Wegovy perdeu 23,1% de seu valor.
Antes do colapso, a Novo tinha apenas um duodécimo do tamanho da Microsoft; após o colapso, passou a ter um décimo quinto e caiu para o sexto lugar na classificação das mais valiosas da Europa.
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Para o Deutsche Bank, essa diferença ilustra uma lacuna estrutural: nos EUA, a alta concentração significa que quedas individuais podem abalar todo o mercado.
Na Europa, a menor dependência de algumas empresas reduz o risco de contágio em casos negativos. A grande força de Wall Street - o avanço tecnológico e a mania da IA - é também sua principal vulnerabilidade.
7 Magníficas impulsionam S&P 500
De acordo com um relatório da corretora argentina Allaria, as Magnificent 7 contribuíram com 50% dos ganhos do S&P 500 no segundo trimestre.
A Allaria estimou que essas empresas registraram um crescimento de lucros líquidos de 14,6%, em comparação com 0,6% esperado para o restante do índice (o chamado S&P 493, que exclui as Mag 7).
No primeiro trimestre, essas empresas já haviam ampliado o desempenho medido pelo lucro líquido em 31,8% em relação ao ano anterior, em comparação com 9,6% para o restante do mercado.
Embora a diferença de crescimento - atualmente de 14 pontos percentuais - tenha diminuído em relação a um pico de quase 30 pontos no segundo trimestre de 2024, Allaria advertiu que, em sua avaliação, analistas têm superestimado repetidamente a capacidade do restante do mercado de igualar o desempenho dos gigantes da tecnologia.
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