Onde investir na América Latina no segundo semestre, segundo analistas

Depois de rali no primeiro semestre, bolsas latino-americanas oferecem oportunidades para investidores que buscam diversificar seus portfólios, de acordo com analistas

Mexico Peso Slides More Than 2% Leading Emerging  Market Losses On Tariffs
03 de Julho, 2025 | 10:46 AM

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Bloomberg Línea — As bolsas da América Latina registraram um desempenho superior ao esperado durante a primeira metade de 2025. A combinação de um ambiente mais favorável para ativos de risco, uma mudança de fluxos para fora dos Estados Unidos e avaliações relativamente baixas das ações latino-americanas devolveram atratividade à região frente a outros mercados emergentes.

O fortalecimento das moedas locais, a moderação da inflação em países como Brasil e Chile, e a resiliência de setores exportadores, como os de mineração e de agroindústria, também foram pilares do rali na região.

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“O sólido desempenho das ações latino-americanas em 2025 responde a uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que reposicionaram a região como um destino atrativo para os fluxos de investimento global”, disse Emanoelle Santos, analista de mercados na XTB Latam.

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Além disso, os ganhos na região estão ligados ao crescente interesse de fundos globais em diversificar sua exposição em um contexto de menor crescimento nas economias desenvolvidas.

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Onde investir no Brasil e no México?

A bolsa do Brasil, a principal economia da região, mostrou um desempenho em dólar de 31,8% no decorrer do ano. Em reais, o aumento do Ibovespa (IBOV) foi de 10,49%.

Segundo os analistas do JPMorgan, o mercado brasileiro tem sido beneficiado por uma combinação de “momentum e fluxos”. “Quando isso ocorre, as empresas de maior capitalização são as que tendem a superar”.

O banco sublinha que o setor financeiro é uma preferência para eles dado que “as taxas de juros devem mover se para baixo, há um potencial de crescimento dos lucros do setor e este costuma ser um ponto de entrada quando os mercados melhoram”.

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Além disso, analistas do banco antecipam que a combinação de um ciclo de cortes de juros e as eleições de 2026 poderia gerar altas substanciais na renda variável local, especialmente nas empresas com alta exposição doméstica e financeira.

Os analistas do JPMorgan têm entre seus top picks de ações a Embraer (EMBR3), a Hypera (HYPE3), o Nubank (NU), a Prio (PRIO3), entre outras.

No caso do México, seu principal índice da bolsa, o S&P BMV/IPC (MEXBOL), mostra uma alta de mais de 30% em dólares.

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Gabriela Siller, diretora de Análise Econômica do Banco Base, indica que “desde a perspectiva macroeconômica, o setor exportador continua sendo um pilar chave para o México e tem potencial de crescimento na segunda metade do ano”.

Para a analista, esse potencial se justifica à medida que “se dissipam algumas tensões comerciais globais ou se moderam as políticas tarifárias, o que reduziria a incerteza para as cadeias produtivas”.

O JPMorgan mantém uma visão neutra sobre o México com um potencial moderado de ganho de 7% no S&P BMV/IPC até o final do ano, mas destaca que as ações com maior resiliência se localizam no setor de consumo básico.

Sua top pick é Coca-Cola FEMSA (KOFUBL), respaldada por seu sólido poder de preços no México e a expectativa de recuperação de volumes no segundo semestre de 2025. O banco mantém em sua carteira a Fibra Prologis (FIBRAPL) e GCC (GCC*).

Além disso, embora o crescimento econômico projetado para 2025 seja próximo a zero, Siller identifica o setor automotivo como um dos possíveis ganhadores, enquanto em renda fixa observa oportunidades.

“Continuam existindo oportunidades, dado que as taxas de juros permanecem em níveis elevados, apesar do início do ciclo de cortes por parte do Banco do México. Esta tendência descendente gera oportunidades de ganho no mercado secundário”

Gabriela Siller, diretora de Análise Econômica do Banco Base

Colômbia, Chile e Peru

Valeria Álvarez, chefe de estratégia na Itaú Comissionista de Bolsa, corretora colombiana ligada ao Itaú, destacou que na Colômbia existem oportunidades claras tanto em renda variável como em renda fixa, especialmente alavancadas em eventos corporativos relevantes e valorizações atrativas nos títulos do Tesouro, conhecidos como TES .

Dentro da renda variável, o Itaú destaca a importância de focar-se em empresas vinculadas aos negócios esperados para este ano, pois esses processos costumam gerar altas adicionais.

Casos como a consolidação da holding do Bancolombia, agora Cibest (CIB), e a possível integração dos negócios do Davivienda (PFDAVVND) e Scotiabank são exemplos de movimentos estratégicos que agregam valor aos acionistas.

Além disso, o spin-off do Empresarial Antioqueño, previsto para o final do ano, impulsionou ações como Grupo Sura Preferencial (GRUPOSUR), que figura entre as mais valorizadas em 2025.

O Davivienda avança em sua possível integração com o Scotiabank na Colômbia, um movimento estratégico que geraria valorizações adicionais para seus acionistas

Por outro lado, a entidade ressalta o papel do ouro como ativo refúgio em momentos de incerteza. Na Colômbia, a Mineros (MINEROS) é a empresa mais exposta a esta commodity e mostrou resultados financeiros sólidos no primeiro trimestre, respaldados pelos preços internacionais.

No mercado de dívida, o Itaú observa oportunidades relevantes em títulos do Tesouro de longo prazo, com taxas próximas a 12%.

“Hoje, quando pensamos nos títulos do governo, sobretudo de longo prazo, que estão cotando a níveis de 12%, e além disso pensamos na inflação até o fechamento de 2026 em níveis de 3,5% aproximadamente, estamos falando de uma rentabilidade real bastante alta, quase de 7%, quando historicamente essas rentabilidades reais altas não se evidenciavam”.

Valeria Álvarez, chefe de estratégia na Itaú Comissionista de Bolsa

No caso do Chile, para Gonzalo Muñoz, analista de mercados da XTB Latam, “os setores ligados a recursos naturais continuam se destacando. Especificamente, o setor mineiro segue sendo atrativo, com um enfoque especial no cobre”.

Muñoz acrescenta que “também os metais preciosos, como o ouro, a prata e a platina, se consolidaram como opções válidas para cobertura, especialmente o ouro, dada a constante acumulação por parte dos bancos centrais”.

O JPMorgan reduziu sua recomendação a neutro no final de maio, embora mantenha uma visão construtiva de médio prazo. Para o segundo semestre, a firma destaca como catalisadores principais as eleições presidenciais e legislativas, que poderiam aumentar a confiança econômica e na bolsa se a direita triunfar.

O banco recomenda a Falabella (FALAB) como sua ação no Chile para capturar a potencial melhoria política e econômica. Mall Plaza (MALLPLAZ) também faz parte de suas preferências para o segundo semestre.

A mineradora Southern Copper mantém sua posição como produtora eficiente de cobre, com expectativas de crescimento ante um possível déficit global do meta

O setor mineiro também se destaca no Peru, impulsionado pelo ouro como refúgio e o cobre ante expectativas de déficit global.

Julio Torres, head de research, e José Silva, senior strategy associate da Intéligo, consideram que entre as ações chave figuram Southern Copper (SCCO), Buenaventura (BVN), Minsur (MINSURI1) e Ferreycorp (FERREYC1), esta última com 80% de receitas vinculadas à mineração e construção.

“A Ferreycorp se beneficia do alto nível de utilização de capacidade instalada nas operações mineiras, já que 55% de suas vendas provêm de peças de reposição e serviços para essas operações, além de que a grande mineração e os projetos de infraestrutura impulsionam a demanda de maquinário pesado”.

Julio Torres e José Silva da Intéligo

Em renda fixa, os títulos bancários BCP 35 e BBVASM 33 oferecem rendimentos atrativos próximos a 6%, enquanto em renda fixa global se valorizam os títulos de grau de investimento ante taxas reais ainda elevadas, o que permitiria apreciações se o Fed retomar cortes este semestre.

Também se observa valor em renda variável internacional ex-EUA por sua diversificação geográfica e avaliações mais razoáveis.

Os ativos na Argentina

A Argentina é o único dos principais mercados da América Latina que registra perdas no decorrer do ano, depois do rali que produziu no ano passado o triunfo de Javier Milei. O Merval, o principal índice do mercado de ações, mostra uma queda de -31,91% medido em dólares.

Nesse contexto, Agustín Turri, analista da Rava Bursátil, destacou que para o segundo semestre há que considerar dois fatores chave: o processo eleitoral e os resultados recentes dos balanços corporativos.

“Se tomamos como guia o primeiro fator, nos encontramos frente a um clássico trade eleitoral, onde os movimentos do mercado respondem mais a expectativas políticas que a fundamentos financeiros”, afirmou.

Por isso, considera que o setor financeiro, apesar de mostrar resultados fracos nos últimos balanços, costuma concentrar a maior volatilidade e especulação.

Segundo Turri, Banco de Valores (VALO) se posiciona como uma das melhores oportunidades dentro do setor, enquanto Grupo Financeiro Galicia (GGAL) mantém seu papel protagonista por liquidez e volume negociado.

O Grupo Financiero Galicia continua sendo referência no setor financeiro argentino por sua liquidez e volume negociado, chave no trade eleitoral 2025

Também sublinhou a YPF (YPF) em energia, que considera oferece uma zona técnica e fundamental atrativa “para quem aposte numa recuperação na segunda metade do ano se se considera o risco apresentado”.

Em renda fixa, Turri ressaltou que a “queda do Merval não se transferiu à dívida soberana argentina, que começou a mostrar um comportamento mais alinhado com os títulos tradicionais, se afasta da volatilidade típica da renda variável”, mencionando ao AL35, AL38 e BPOC7 como instrumentos atrativos.

“Dadas as condições atuais, uma alocação inferior a 50% da carteira em ativos argentinos poderia ser considerada prudente, especialmente para perfis conservadores ou moderados”

Agustín Turri, analista da Rava Bursátil

Finalmente, Álvarez, do Itaú, recomenda aos investidores que, para mitigar a volatilidade do mercado, priorizem a diversificação de seus portfólios não só em termos de instrumentos, combinando renda fixa e renda variável segundo seu perfil de risco, mas também em moedas.

A especialista destaca a importância de manter exposição parcial ao dólar e sugere incluir recursos em instrumentos de alta liquidez e baixo risco, como os fundos de investimento.

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Carlos Rodríguez Salcedo (BR)

Jornalista colombiano, especializado em economia. Fui jornalista e editor do jornal La República, com experiência em questões macroeconômicas, comerciais e financeiras. Eu também trabalhei para a agência de notícias Colprensa.