Bloomberg — O BBVA (BBVA) acredita que a América Latina tem o potencial de atrair mais investimentos destinados a atender às necessidades da classe média, além de considerar que a região tem mais oportunidades em metais estratégicos para a transição energética e o hidrogênio verde.
Em um ambiente de mudança no ciclo econômico global, a América Latina oferece oportunidades de investimento que vão além dos mercados financeiros tradicionais, disse o economista-chefe do BBVA Research, Juan Ruiz, à Bloomberg Línea.
De acordo com os números da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina e no Caribe totalizou US$ 188,962 bilhões no ano passado, um aumento de 7,1% em relação ao ano anterior.
Os países que receberam a maior parte dos fluxos de IED no ano passado foram o Brasil (responsável por 38% do total) e o México (24%), seguidos pela Colômbia, Chile e Argentina.
“A região ainda precisa melhorar suas políticas de atração de IED e articulá-las com suas políticas de desenvolvimento produtivo, de modo a aumentar o nível de IED que chega à região, mas também seu impacto nas economias anfitriãs”, concluiu a Cepal.
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Ao analisar o interesse em investimentos reais - além do setor financeiro - o economista do BBVA identificou três vetores com claras vantagens comparativas para a América Latina:
Demanda doméstica
“Estamos em um contexto em que estamos recuperando esses níveis de renda per capita, estamos recuperando um pouco mais do poder de compra da classe média que foi muito afetada depois de 2015”, disse Ruiz. Nesse sentido, ele diz acreditar que há espaço para o crescimento dos investimentos destinados a atender à população local, especialmente com foco na crescente classe média.
Commodities estratégicas
Ruiz enfatizou que os metais ligados à transição energética e aos alimentos continuarão sendo setores-chave. “Continuará a ser um setor muito competitivo na região”, disse ele.
De acordo com o relatório da Cepal, a América Latina e o Caribe constituem “regiões líderes” no mercado global de minerais críticos.
Prova disso é que, entre 2005 e 2024, foram registrados 1.152 anúncios de projetos de investimento estrangeiro direto nos setores de minerais e metais da região, no valor de US$ 230 bilhões.
Os minerais críticos foram responsáveis por 24% do número total de projetos.
Além disso, 84% do valor total desses anúncios estavam concentrados no Chile, Peru, Brasil e Argentina.
Energia limpa
A América Latina, disse o economista, tem uma “matriz energética muito limpa” devido ao peso da geração hidrelétrica, o que lhe dá uma vantagem para projetos de exportação de energia verde.
“A geração de energia limpa, energia verde para exportação pode ser outro elemento em que a região tem uma vantagem comparativa”, acrescentou, citando como exemplo projetos de hidrogênio verde destinados a mercados como o europeu.
Riscos para o investimento

“Se formos falar de riscos, eu os dividiria, no curto prazo, entre riscos internos e externos”, disse o economista-chefe do BBVA Research para a América Latina.
Entre os riscos externos mais claros para a região, ele mencionou a incerteza sobre a política econômica dos Estados Unidos, especialmente sobre o comércio.
Essa incerteza tem dois efeitos: por um lado, o impacto direto - considerando o México como o país mais exposto - e, por outro, o impacto indireto por meio da volatilidade nos mercados financeiros, que acaba afetando toda a região.
Além disso, em um ambiente de incerteza como esse, é muito difícil para as empresas serem incentivadas a fazer grandes investimentos, de acordo com Juan Ruiz.
Esse adiamento do investimento não está sendo observado apenas nos Estados Unidos, mas também em países que poderiam ser afetados por essa política.
O outro risco externo relevante é a possibilidade de um ressurgimento da inflação nos Estados Unidos como resultado das tarifas.
Nesse caso, eu esperaria que o Federal Reserve reagisse com um aperto das condições financeiras internacionais.
Moeda local
“Acho que haverá uma certa tendência de fortalecimento dos ativos em moeda local nos países latino-americanos em relação ao dólar”, disse Ruiz em uma entrevista.
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Essa abordagem ocorre em meio à fraqueza global do dólar, que levou a seu pior semestre desde 1973 no período que terminou em junho.
O índice do dólar americano DXY caiu 9,45% no acumulado do ano.
Entretanto, o analista Juan Ruiz advertiu que a atratividade desses ativos depende do tipo de investidor.
“Um investidor europeu, dada a força do euro em relação ao dólar, provavelmente não será totalmente compensado por essa valorização das moedas latino-americanas”, explicou.
Em contrapartida, “um investidor norte-americano provavelmente vê algum valor nos ativos em moeda local da região”.