As 10 empresas latino-americanas mais valiosas em Wall Street representam setores importantes para a região, desde tecnologia e serviços financeiros, como Mercado Livre (MELI) e Nubank (NU), até energia e mineração, com gigantes como Petrobras (PETR4), Vale (VALE3) e Grupo Mexico (GMEXICO).
Em telecomunicações, destaca-se a América Móvil (AMX), enquanto em consumo de massa e varejo, destacam-se o Walmart do México (WMMVY), a Ambev (ABEV) e a Femsa (FMX). Além disso, o Itaú Unibanco (ITUB) reflete a força do setor bancário tradicional no Brasil.
Os resultados dessas empresas em Wall Street “não apenas refletem a saúde dos mercados, mas também antecipam tendências globais e, acima de tudo, revelam tensões mais profundas sobre o papel que a região desempenha no mundo“, disse PaulaChaves, analista de mercado da HFM, à Bloomberg Línea.
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Com base nas recomendações dos analistas consultados pela Bloomberg News, a maioria dos analistas favorece a compra das principais empresas latino-americanas em Wall Street, com porcentagens de “compra” superiores a 60% na maioria dos casos.
Apenas algumas empresas mostram uma participação significativa de “manter” ou “vender”, como a Ambev ou o Walmart do México, refletindo alguma cautela.
De modo geral, as recomendações sugerem uma perspectiva positiva para investimentos nesses gigantes regionais, especialmente em setores estratégicos como tecnologia financeira, energia, mineração e telecomunicações.
A realidade da região
Para o economista Jonathan Fortun, do Institute of International Finance (IIF), as grandes empresas latino-americanas listadas em Wall Street refletem o dilema atual da região.
“Eles são as portas de entrada para o capital internacional e concentram a liquidez, mas seu desempenho não pode mais ser interpretado sem o pano de fundo macro“, disse Fortun à Bloomberg Linea.
“A narrativa do nearshoring, que durante algum tempo alimentou as expectativas, agora é menos convincente em um ambiente dominado pela nova estratégia comercial dos EUA e pelas tarifas que perturbam a integração produtiva."
Soma-se a isso a desaceleração no Brasil e o menor dinamismo na China, dois polos que definem a demanda por consumo e investimento na região .
O resultado é um quadro em que a atratividade dessas empresas depende não apenas do que elas fazem internamente, mas também de como os choques globais remodelam o fluxo de capital que entra e sai dos mercados emergentes, disse o analista.
Visão geral das empresas latinas em Wall Street
A analista Paula Chaves destaca que, no setor digital, o Mercado Livre mantém sua posição de liderança, apoiado pelo comércio eletrônico e pelos serviços financeiros, embora enfrente uma concorrência cada vez maior de participantes globais e locais.
O Nubank, por sua vez, está avançando no Brasil, México e Colômbia com uma estratégia de inclusão financeira que desafia os bancos tradicionais. O banco brasileiro recentemente solicitou uma licença bancária nos Estados Unidos em meio a preocupações de que poderia perder o foco nos mercados prioritários da América Latina.
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O Itaú Unibanco, o maior banco privado do Brasil, enfrenta o desafio de acelerar sua transformação digital sob uma estrutura regulatória rigorosa, diz ele. Além disso, a moderação da economia brasileira em direção a taxas de crescimento de cerca de 2% reduz a expansão do crédito e aumenta o risco de empréstimos inadimplentes.

Em energia e mineração, destaca-se o papel da Petrobras, com forte exposição ao preço do petróleo bruto e à produção em águas profundas, enquanto a Vale depende do ciclo de minerais como ferro, níquel e cobre.
O Grupo Mexico, por sua vez, concentra seu valor no cobre, um insumo fundamental para a transição energética.
Para essas empresas, a desaceleração da economia chinesa pode limitar a demanda estrutural.
“A oportunidade para essas empresas é que a região é indispensável para eletrificar o planeta; o risco é que ela se torne uma zona de sacrifício, exportando riqueza mineral à custa de tensões sociais e degradação ambiental“, disse Chaves.
O consumo em massa se reflete em empresas como Walmart de México y Centroamérica, Ambev e Femsa, que capitalizam o dinamismo interno e a diversificação de negócios, desde alimentos e bebidas até farmácias e soluções digitais.
Para o analista, a oportunidade está em sua capacidade de ser onipresente na vida cotidiana: “Essas empresas acumulam soft power sobre os hábitos, preços e cultura de consumo de milhões de pessoas, o que as torna atores sociais tanto quanto atores comerciais”.
No setor de telecomunicações, a América Móvil continua sendo a principal referência regional, impulsionada por serviços móveis, dados e a implantação de 5G e fibra óptica, embora sob constante supervisão regulatória.
Riscos e oportunidades em Wall Street

Paula Chaves, analista da HFM, explica que os setores estratégicos da América Latina combinam “oportunidades de crescimento com riscos que vão além dos negócios e se tornam dilemas sociais e políticos“.
Na fintech, a principal oportunidade está na “bancarização maciça e na expansão dos pagamentos digitais”, enquanto os riscos incluem o superendividamento e a concentração de poder.
Em petróleo e mineração, a região possui recursos essenciais, como petróleo, cobre e níquel, com enorme potencial de receita, embora enfrente riscos ligados a “ciclos internacionais voláteis, intervenção política e pressões ambientais e sociais”.
O consumo de massa permanece resiliente graças ao dinamismo dos gastos cotidianos e da digitalização, mas Chaves adverte que “a inflação, os impostos e a concorrência forçam uma reinvenção constante”.
Nas telecomunicações, a expansão do 5G e da fibra óptica representa uma oportunidade para conectar milhões de pessoas, embora os desafios incluam “altos custos de investimento, pressão regulatória e o surgimento de novos serviços digitais”.
De modo geral, o economista Jonathan Fortun explica que essas empresas são relevantes porque são elas que estão canalizando o apetite global para a América Latina.
“Não devemos considerá-las apenas como ações individuais, mas como ativos que são avaliados de acordo com os grandes ciclos: fluxos de portfólio para a região, a direção do dólar, trajetórias de consumo interno e a evolução dos preços das commodities“, explicou Fortun.
Em sua opinião, essas empresas continuarão sendo veículos de acesso privilegiado, mas o preço de suas ações estará muito mais vinculado à política macroeconômica internacional de seus países do que a histórias de negócios individuais.
Nesse sentido, ele indicou que “a atratividade ainda está presente, embora enquadrada em um cenário de maior vulnerabilidade e um mercado global que não concede mais múltiplos generosos sem um claro suporte macro“.