Para Lamborghini, mercado não está pronto para superesportivo 100% elétrico, diz CEO

‘Modelos híbridos têm desempenho superior aos da geração anterior, com menor consumo. É a combinação perfeita’, diz Stephan Winkelmann em entrevista à Bloomberg Línea. Marca lança o Temerario, com 920 cv, por R$ 5,8 mi no Brasil

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Bloomberg Línea — O tamanho do mercado para carros elétricos, especialmente no segmento de superesportivos de luxo, ainda é motivo de questionamentos.

Para a italiana Lamborghini, trata-se de uma questão com duas respostas evidentes: para modelos híbridos, não há mais discussão sobre suas vantagens.

Tanto que a marca mítica italiana anunciou nesta quinta-feira (4) em evento no Brasil o lançamento do superesportivo híbrido Temerario: o modelo vai de 0 a 100 km/h em 2,7 segundos e deve chegar ao país ao preço de tabela de R$ 5,8 milhões.

“Os novos modelos têm um desempenho superior ao da geração anterior, com menor consumo de combustível. Essa é a combinação perfeita, não se trata apenas de autonomia mas também de potência”, disse o chairman e CEO global da Lamborghini, Stephan Winkelmann, em entrevista à Bloomberg Línea.

O Temerario tem um novo sistema de propulsão híbrido, com um motor V8 biturbo e três elétricos, o que entrega potência combinada de 920 cv.

Winkelmann disse que a aposta em híbridos não significa que a marca não tenha capacidade de desenvolver e oferecer um esportivo puramente elétrico.

“Sempre deixamos claro que poderíamos fazer um carro totalmente elétrico, mas não estamos fazendo isso agora porque o mercado não está pronto. Não se trata apenas do que podemos fazer tecnicamente mas também do que os clientes esperam e desejam. Temos que analisar isso com muita atenção”, disse o executivo em referência à questão mais ampla do mercado.

No carro elétrico, a “força” vem do torque imediato, ou seja, a potência máxima desde a velocidade zero. Também há entrega contínua sem trocas de marcha, segundo explicou o diretor da Bright Consultoria Automotiva, Murilo Briganti.

Nos modelos a combustão, o mesmo nível de potência tende a ser muito mais caro, o que acaba sendo uma vantagem dos veículos com propulsão elétrica.

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O barulho do motor, uma das características mais marcantes dos superesportivos, é uma questão relevante no segmento de eletrificados, dado que os modelos podem ser totalmente silenciosos. No desenvolvimento do Temerario, essa foi uma preocupação dos engenheiros.

“Nosso produto não é como outros itens de luxo, como acessórios e relógios. O aspecto emocional é ainda mais fundamental na decisão de compra e faz toda a diferença. E, para a criação nesse aspecto, é preciso não só tecnologia mas também estar na vanguarda”, disse o CEO da Lamborghini.

A montadora italiana afirma ter se dedicado a um rigoroso trabalho técnico para entregar uma experiência sonora “única” para o sistema de propulsão, com um som “emocional e um retorno sensorial inconfundível”.

Segundo a Lamborghini, com o V8 biturbo, a amplitude e a frequência do som aumentam conforme as rotações sobem, com vibrações sutis que ressaltam a força do conjunto de acordo com a rotação do motor.

O executivo disse que a marca continua a conquistar fãs entre as gerações mais jovens, a despeito do consenso na indústria de que principalmente a Geração Z tem privilegiado o uso em vez da posse, o que impulsiona serviços como os de aplicativo de transporte individual, em detrimento da compra.

“Posso dizer que, aonde quer que eu vá, em lojas e em todas as oportunidades que exibimos nossos carros, há muitos jovens entusiasmados com superesportivos”, disse Winkelmann. “Estamos em um bom momento.”

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O executivo reforçou que, no segmento de superesportivos de luxo, a marca vende produtos que são potencialmente um sonho de infância de seus clientes.

“Não vendemos mobilidade, vendemos sonhos. Queremos superar as expectativas, o que é ainda mais importante do que a tecnologia. Nós temos que ser o sonho de muitos mas a realidade de poucos.”

‘Precisamos oferecer mais’

Winkelmann contou que, logo depois do fim da pandemia, a demanda do mercado de superesportivos registrou um avanço expressivo da demanda.

“Houve um fenômeno de acúmulo de riqueza durante o período de confinamento, com um efeito ‘só se vive uma vez’. É algo que ninguém previa”, disse.

Segundo o executivo, houve um pico de demanda em 2023 e, desde então, uma queda gradual. “Esse é um mercado em transformação, mais relacionado ao que a marca pode oferecer além do produto”, esclarece.

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O CEO contou que a Lamborghini tem promovido eventos, atividades de automobilismo e todas aquelas coisas que “o dinheiro não pode comprar”.

“Os clientes estão muito mais exigentes, então precisamos oferecer mais.”

Nesse contexto, a marca tem crescido de forma sustentável, ressaltou, com vendas globais de aproximadamente 11 mil unidades no consolidado de 2024. Os mercados dos Estados Unidos, Alemanha e Japão lideram as vendas, respectivamente.

Para a Lamborghini, a América Latina é um mercado importante, ainda que os volumes sejam reduzidos. O Brasil emplacou cerca de 40 unidades da marca em 2025.

“Existem muitos fatores que influenciam a compra desse tipo de veículo no país, não só a economia mas também a tributação dos nossos carros. Mas temos um mercado estável e em crescimento no Brasil, e isso é muito positivo”, disse Winkelmann.

Globalmente, ele apontou que o principal risco para o negócio é o câmbio, em meio à guerra tarifária promovida pela administração de Donald Trump.

“Os Estados Unidos são nosso mercado mais importante, mas não podemos repassar aos nossos clientes todo o custo adicional das tarifas que surgirem. Nesse sentido, cada carro que vendemos lá [nos EUA] tem uma margem menor.”

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