Bloomberg — Um retrato de Gustav Klimt de uma jovem vienense estabeleceu um preço recorde de leilão para o artista nesta terça-feira (18), ao ser vendido por US$ 236,4 milhões na Sotheby’s, em Nova York.
O retrato também se tornou a obra de arte moderna mais cara já vendida em leilão e a segunda mais cara de todos os tempos. O martelo caiu para um comprador não revelado após 20 minutos de lances presenciais e por telefone, conduzidos pelo leiloeiro Oliver Barker, vestido de smoking.
O recorde de todos os tempos pertence à obra Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci, vendida em um leilão da Christie’s em 2017 por US$ 450,3 milhões.
“Isso mostra que os compradores competirão por uma obra única na vida, vinda de um dos maiores colecionadores de nosso tempo”, disse Lisa Dennison, presidente da Sotheby’s para as Américas, em entrevista à Bloomberg News.
“O mercado reconheceu isso com muita clareza, como vimos pela intensidade dos lances.”
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A venda do retrato de Elisabeth Lederer, de Klimt, juntamente com outros 23 lotes nesta terça-feira, fez parte da liquidação da coleção de arte reunida pelo ex-executivo do setor de cosméticos e bilionário Leonard Lauder, que morreu em junho aos 92 anos.
No total, a venda arrecadou US$ 527,5 milhões, com o público vendo bronzes de Henri Matisse e um desenho de Vincent Van Gogh serem arrematados em apenas alguns minutos.
Muitos lotes ultrapassaram suas estimativas máximas, como o Clothespin de Claes Oldenburg, estimado em US$ 800 mil e vendido por US$ 2,1 milhões.
O retrato de Klimt ultrapassou completamente o valor de “mais de US$ 150 milhões” que a Sotheby’s havia estimado.
Seu preço de US$ 236,4 milhões superou os US$ 108,8 milhões alcançados em Londres por Lady with a Fan, de Klimt, em 2023.
Também excedeu os US$ 195 milhões pagos em 2022 por Shot Sage Blue Marilyn, de Andy Warhol, o recorde anterior para uma obra de arte moderna em leilão.
O comprador vencedor superou outros cinco concorrentes e também estabeleceu o recorde de obra mais cara já vendida na Sotheby’s.
A venda ajudou a iniciar uma semana de leilões em Nova York que as casas esperam que traga de volta o entusiasmo após alguns anos fracos.
“O mercado está muito mais forte do que há seis meses”, disse Philip Hoffman, do Fine Art Group, uma consultoria de arte dos EUA. Na noite de segunda-feira (17), a Christie’s conseguiu “números respeitáveis”, afirmou.
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A venda da coleção Lauder estava em uma categoria própria, acrescentou. “O que vimos é que itens icônicos atraem todos os colecionadores bilionários. Esse Klimt é tão icônico e tão importante.”
A Sotheby’s contou com a reputação de Lauder como conhecedor, filantropo e executivo para impulsionar o interesse e os lances.
De Henry Kravis a Leon Black
Os bilionários Henry Kravis, da KKR, e Leon Black, da Apollo Global Management, compareceram a um evento da Sotheby’s na sexta-feira à noite (14), que oferecia caviar, uma mesa de doces instalada dentro de um hipopótamo de cobre Lalanne e uma banda ao vivo tocando Cole Porter.
Cerca de 25.000 pessoas fizeram fila para ver as obras quando foram exibidas gratuitamente ao público.
O retrato de Elisabeth Lederer fazia parte de um conjunto de obras de Klimt que os nazistas roubaram de sua rica família judia em Viena.
Muitas das pinturas foram destruídas em um incêndio durante a Segunda Guerra Mundial, mas o retrato de Elisabeth, que havia sido guardado em outro local, retornou a seu irmão Erich em 1948.
Ele o vendeu ao negociante de arte Serge Sabarsky em 1983, e Lauder o comprou dois anos depois para pendurá-lo em seu apartamento na Quinta Avenida em Nova York.
Elisabeth, que tinha 20 anos e era solteira quando começou a posar para o retrato em 1914, aparece com grandes olhos amendoados, em um vestido branco com uma forma afunilada e arredondada — uma moda da época — enquadrada por figuras do Leste Asiático e um xale quase flutuante que evoca um manto imperial chinês.
Os pais de Elisabeth, o magnata das destilarias August Lederer e sua esposa, Serena, eram grandes patronos de Klimt e encomendaram o retrato, que tem quase 1,80 metro de altura.
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A obra captura um momento vibrante que logo seria perdido.
Klimt morreu em 1918, enquanto Elisabeth faleceu em 1944 aos 50 anos, após perder um filho e se divorciar de um barão. Durante a ocupação nazista, ela buscou proteção alegando que Klimt — que não era judeu — era seu pai, com sua mãe assinando uma declaração nesse sentido.
O leilão de terça-feira foi o primeiro realizado pela Sotheby’s em sua nova sede no icônico Breuer Building, comprado do Whitney Museum of American Art.
Lauder, nova-iorquino por toda a vida que comandou e expandiu enormemente a Estée Lauder, presidiu o conselho do Whitney e ajudou o museu a adquirir mais de 1.000 obras. Ele também doou mais de 100 peças cubistas ao Metropolitan Museum of Art.
Lauder tinha um patrimônio líquido estimado em US$ 15,6 bilhões ao morrer, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
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