Bloomberg Línea — O mercado brasileiro de bebidas destiladas de alta gama tem encontrado no mês de agosto uma de suas principais alavancas de crescimento.
Impulsionado pela celebração do Dia dos Pais, o consumo de uísques super premium tem registrado saltos expressivos em momentos em que a categoria como um todo enfrenta retração.
É o que revelam dados da Brown-Forman, multinacional norte-americana que detém algumas das marcas de bourbon mais famosas do mundo, como Jack Daniel’s e Woodford Reserve, aos quais a Bloomberg Línea obteve acesso.
Os dados mostram que as vendas de uísques super premium têm registrado aumento médio de 20% em volume durante os meses de agosto.
Em 2024, o crescimento chegou a 23% em relação à média dos 12 meses anteriores, enquanto o volume total de uísques vendidos recuou 2% no mesmo período.
O movimento é consistente nos últimos três anos e reflete, segundo a empresa, um padrão claro de comportamento: filhos dispostos a gastar mais em um presente de valor simbólico e emocional para a data.
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“O Dia dos Pais ainda é uma ocasião muito relevante para a categoria de uísque”, disse Bruno de Ranieri, coordenador de marketing de “emerging brands” da Brown-Forman no Brasil, durante recente evento do Woodford Reserve em São Paulo.
“O uísque ainda é um presente atrelado à figura paterna”, disse.
A busca por sofisticação se encaixa nesse movimento e tem levado consumidores a subir de patamar no momento de compra do presente, no que é conhecido como efeito trade-up.
“É o momento em que o consumidor testa e em que ele vai dar um presente melhor. Se ele é consumidor de super premium, ele vai para o ultra premium”, disse Ranieri.
Em algumas regiões do Brasil, o crescimento é ainda mais acentuado, de acordo com os dados de consumo acessados pela empresa.
Na região Sul do país, as vendas da categoria super premium cresceram 56% em agosto de 2023 em comparação com a média anual.
No interior paulista, o avanço foi de 40% nos dois últimos meses de agosto.
Já na Grande São Paulo, houve alta de 35% em 2023 e de 28% em 2024, sempre em relação à média dos 12 meses anteriores.
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“Isso reforça que o consumidor associa a data a um presente de maior valor. É um momento de experimentação e de valorização do produto”, disse Ranieri.
Os preços de entrada do Woodford Reserve giram perto de R$ 180 a R$ 250 a garrafa na versão de entrada da bebida.
Mercado em formação
Segundo o executivo, toda a indústria de bebidas sente o movimento e tenta capitalizar em cima disso.
No caso da Brown-Forman, a aposta é promover o Woodford Reserve como presente especial para apresentar os pais a essa categoria superior de bourbon.
Lançado nos Estados Unidos em 1996, o Woodford Reserve se tornou o bourbon super premium número 1 em valor global, de acordo com o IWSR, plataforma global de dados e insights para a indústria de bebidas.
Apesar de se tratar de uma marca relativamente nova, a história da destilaria remonta a 1812 no Kentucky, localidade que mais tarde seria reconhecida como um dos berços do bourbon nos EUA.
Relançada pela Brown-Forman, a destilaria aposta em métodos tradicionais, controle artesanal e rigor técnico para entregar um produto de alta complexidade.
A produção utiliza limestone water, fermentação prolongada de seis dias, tripla destilação em alambiques de cobre e maturação entre sete e dez anos em barris de carvalho virgem americano.
“Nós desenvolvemos cinco fontes de sabores que definem nosso perfil: a água, os grãos, a fermentação, a destilação e a maturação”, explicou Júnior Oliveira, embaixador da marca no Brasil. “É por causa desses processos que conseguimos atingir mais de 200 notas palatáveis em nosso bourbon”, disse.
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O controle de qualidade é considerado minucioso. A destilaria fabrica seus próprios barris e avalia lote a lote o momento ideal para engarrafar o produto.
“Cada lote tem um número, e cada garrafa vem assinada por nossa mestre destiladora, Elizabeth McCall”, disse Oliveira.
A destilaria também é responsável por rótulos como Double Oak e Rye, embora algumas dessas versões ainda não estejam disponíveis ao consumidor final no Brasil.
A presença da marca no Brasil ainda é recente.
A operação local foi iniciada em 2010, com vendas oficiais a partir de 2013. Desde então, o Woodford Reserve vem ganhando espaço, mas ainda enfrenta desafios, como a distribuição limitada de edições especiais e a necessidade de educar o consumidor sobre o valor agregado do super premium.
“Existe uma avaliação sensorial que define essa categoria. É uma classificação baseada no equilíbrio, nas notas e na forma de produção quase artesanal”, disse Oliveira. “É um movimento que exige tempo, mas o mercado brasileiro já demonstra sinais claros de maturação.”
Parte da estratégia da marca inclui ações de aproximação com o consumidor para apresentar a complexidade sensorial do produto.
Em eventos e masterclasses conduzidos por Oliveira, participantes são guiados por uma jornada gustativa que envolve combinações com queijos, castanhas, frutas secas, rapadura e chocolate.
“Essas harmonizações ajudam o consumidor a perceber nuances, cortar o impacto do álcool e explorar novos sabores. O uísque vai ficando mais entendível”, disse. “É como com vinho ou cerveja: à medida que o paladar evolui, cresce o interesse por produtos mais equilibrados e sofisticados.”
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