Como a inflação ainda se faz presente nos preços de iates para super-ricos

Estaleiros brasileiros reajustam os preços de embarcações na ordem de 7% no novo ano náutico que se inicia, de iates que custam na casa de R$ 10 milhões ou mais

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Bloomberg Línea — Comprar seu próximo iate vai ficar mais caro. Os estaleiros brasileiros estão aplicando um reajuste da ordem de 7% neste segundo semestre nos preços das embarcações para recreação, como iates, lanchas, veleiros e jet ski, segundo levantamento realizado pela TCP Partners, boutique de investimento e gestão, a pedido de Bloomberg Línea.

É uma inflação que ainda se faz presente nesse nicho de mercado e que destoa da desaceleração vista ao longo dos últimos meses para a maior parte dos preços da economia e que permitiu ao Banco Central iniciar o ciclo de afrouxamento monetário mais amplo.

O aumento no chamado novo ano náutico acontece depois de o mercado ter experimentado um crescimento robusto entre 2020 e 2022, o maior da história do setor e com relação direta com a pandemia de Covid-19, que pressionou a demanda.

Nesses anos, em que clientes de alta renda fugiram das metrópoles em refúgios no litoral, o reajuste dos preço foi de 20% a 30%, dependendo do tipo da embarcação, segundo Ricardo Jacomassi, sócio e economista da TCP Partners, que apurou os dados com seus clientes.

Entre os motivo para a estabilização dos preços, ele apontou a queda do dólar de 2,03% nos primeiros oito meses de 2023 em relação ao mesmo período de 2022; e a estabilização dos preços das principais matérias-primas da indústria náutica, como aço, alumínio e polímeros utilizados na produção.

Quem cuida da gestão de iates para super-ricos confirma que o reajuste brasileiro segue um movimento internacional. “O aumento de preços pode ser observado em praticamente todos os estaleiros do mundo. Alguns estão deixando em aberto os preços dos motores, inclusive”, disse João Kossmann, fundador da BYS International, que presta serviços de manutenção, administração, locação e venda de embarcações no Brasil, na América Central, nos Estados Unidos e na Europa

Kossmann disse identificar um fenômeno inflacionário nos mercados desenvolvidos com a grande maioria dos fabricantes de componentes de maior valor agregado ainda expostos à inflação.

“Alguns [fabricantes] conseguiram segurar seus preços em 2021 e 2022, mas, ao programar as compras e o forecasting [previsão] de máquinas, peças, eletrônicos e demais equipamentos, estão se deparando com o aumento de custos e acabam repassando para o preço final de tabela dos barcos”, disse Kossmann, descartando um cenário de redução dos preços de iates no curto e médio prazo.

Frota quase dobra de tamanho

Apesar dos sucessivos reajustes, o mercado náutico deve seguir com forte crescimento para o Brasil nos próximos anos, segundo especialistas. A produção de embarcações recreativas no país, que conta com um litoral com extensão de 7.367 km, deve dobrar de tamanho entre 2019 e 2025, passando de 4.500 para 8.600 unidades, respectivamente, considerando uma CAGR (Taxa de Crescimento Anual Composta) de 13,7%.

Esse indicador mede a taxa de retorno durante o período do investimento, considerando que os lucros foram constantes e reaplicados a cada ciclo. A projeção foi feita pela TCP Partners com base ainda nos dados da Acobar (Associação Brasileira de Construtores de Barcos e seus Implementos) e do Icomia (Conselho Internacional de Associações da Indústria Marinha).

Fila de espera

O interesse pela navegação pode ser atestada pelos eventos promovidos pelo setor. Há um mês, o São Paulo Boat Show reuniu cerca de 120 embarcações em um dos maiores centros de exposições do país, o São Paulo Expo, com oito pavilhões em 100 mil m².

Em um dos maiores espaços estava o estaleiro italiano Azimut Yachts, que produz iates em Itajaí, em Santa Catarina. A operação no país anunciou um faturamento de R$ 500 milhões no último ano náutico (do início de setembro de 2022 ao final de agosto de 2023). A companhia projetou fabricar 47 barcos no país e atingir a marca de R$ 550 milhões (alta anual de 10%) em faturamento no novo ano náutico (2023/2024).

Atualmente, a fila de espera para um barco da marca é de 12 a 24 meses, informou o estaleiro, que planeja ampliar em 20% o quadro de funcionários nos próximos três anos para atender à crescente demanda.

Um das estrelas do portfólio é a lancha Atlantis51, que foi reajustada em 7%, com preço a partir de R$ 8,9 milhões. Na tabela anterior, o valor era a partir de R$ 8,3 milhões.

Já o iate Azimut 62 subiu de a partir de R$ 15,9 milhões para a partir de R$ 16,9 milhões, um reajuste de 6%. O modelo mais caro do estaleiro, o Azimut 26 Metri, custava na tabela anterior a partir de R$ 55,8 milhões. Agora, na nova tabela, o estaleiro não fixa um novo preço, indicando apenas “sob consulta”.

Segundo o fundador da BYS International, a definição dos preços de embarcações mais luxuosas depende do custo dos motores mais potentes, produzidos por poucos fornecedores, e que a produção artesanal desses superiates é bem menor do que a de outros barcos, de menor valor, como lanchas.

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