Colecionar canetas volta à moda e ganha impulso com nova geração digital

As vendas globais de tinteiros devem totalizar US$ 1,2 bilhão este ano, segundo a Euromonitor International; redes sociais ajudam a atrair uma nova geração de entusiastas para feiras de colecionadores

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Bloomberg — “Estamos em Nova York! Primeira vez na história!”, exclama Crazy Alan. “Eu estou aqui para vender, vocês estão aqui para comprar!”

São 10h14 de sábado e o Empire State Pen Show inaugural acaba de começar. Dezenas de pessoas que chegaram cedo já entraram no salão Rhinelander, no segundo andar do New York Hilton Midtown, e estão curvadas sobre mesas cheias de canetas tinteiro, frascos de tinta, cadernos e outros itens de papelaria.

Alan Cohen — ou Crazy Alan, como está escrito em seus cartões de visita e no cartaz feito à mão sobre sua mesa — já está negociando com os clientes. À mostra, de forma bem destacada, está a Pilot Emperor, uma caneta tinteiro laqueada com urushi, que tem um preço sugerido de cerca de US$ 2.500.

Feiras anuais de canetas, onde entusiastas podem comprar, vender e trocar instrumentos de escrita de luxo, acontecem em todas as grandes cidades dos Estados Unidos, além de muitas menores. Exceto Nova York — pelo menos até este último fim de semana. O Empire State Pen Show substitui um evento mais modesto que antes era realizado na Universidade Hofstra, em Long Island.

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A nova feira não é apenas uma adição bem-vinda para colecionadores de canetas em Nova York, 1.200 dos quais pagaram de US$ 20 a US$ 25 antecipadamente para participar do evento, que teve pouca divulgação, por um dia. Também representa uma passagem de bastão para uma nova geração, em um momento em que o hobby passa por mudanças dramáticas.

Em todo o mundo, as vendas de canetas tinteiro devem totalizar US$ 1,2 bilhão este ano, uma queda de 1% em relação a 2024 e de 17% em comparação com uma década atrás, de acordo com a empresa de pesquisas de mercado Euromonitor International.

Os colecionadores mais velhos, que têm gostos diferentes e não são tão influenciados pelas tendências da internet, representam um mercado em declínio. Com essa nova base de consumidores cada vez mais conectados, os vendedores esperam revitalizar o hobby.

As feiras de canetas costumavam ser dominadas por aposentados cujo passatempo era restaurar instrumentos de escrita antigos das marcas Parker, Sheaffer, Waterman e outras empresas americanas que eram nomes conhecidos nos anos 1920, 1930 e 1940 – antes que a invenção da caneta esferográfica ameaçasse tornar as tinteiros obsoletas.

Entre os frequentadores, era comum fazer piadas sobre os senhores mais velhos que usavam coletes de pesca, cheios de bolsos que facilitavam o acesso a canetas, ferramentas e lupas de joalheiro.

Um membro dessa geração de entusiastas, Michael Bloom, de 78 anos, professor aposentado, organizava a feira na Hofstra junto com sua esposa, mas problemas de saúde acabaram afastando-a. Administrar o evento sozinho tornou-se difícil demais, ele explica. “Então, eu passei para o Frank.”

Ele é Frank Zhang, de 26 anos, um prodígio no mundo das canetas. (Quando alguém na feira pergunta onde está Zhang, um funcionário sugere procurar pelo homem de terno preto que tem “aquela energia do Frank”).

Zhang começou sua primeira empresa de canetas aos 19 anos e está em seu terceiro ano à frente do California Pen Show, realizado próximo a Los Angeles todo mês de fevereiro. Nascido em Xangai, ele está mais próximo, em idade e interesses, dos novos entusiastas do hobby e vende canetas chamativas feitas com materiais como ebonite (um tipo de borracha) e resinas coloridas (a partir de US$ 89), além de modelos com enchimento por pistão.

“Novas pessoas estão entrando nisso”, diz ele, apontando para dois jovens na faixa dos 20 anos que examinavam uma mesa próxima.

Enquanto a feira de Manhattan ainda oferece muitas canetas vintage, a maioria das mesas está repleta de planners e cadernos, fitas adesivas japonesas conhecidas como “washi tape”, usadas para decorar cadernos, canetas personalizadas feitas de resinas multicoloridas que brilham sob a luz, e adesivos com desenhos de gatos, cupcakes e xícaras de café.

E as tradicionais tintas azuis, pretas e azul-pretas da Parker, Sheaffer e Waterman deram lugar a marcas como Ferris Wheel Press, que oferece cores (a partir de US$ 22 por 20 mililitros) com nomes como Currant Crumble Pie, Gossiping Grapevine e Lost in the Leaves.

“Essa feira é completamente diferente – eu nem conheço metade das pessoas aqui”, diz Paul Erano, de 76 anos, um vendedor com décadas de experiência que participa de cerca de 12 feiras de canetas por ano.

Dezesseis anos atrás, ele fundou a Black Pen Society, um clube nada secreto com um único requisito para ser membro: uma paixão por canetas simples e pretas, do tipo usado por banqueiros, advogados e praticamente todo mundo antes de os gostos se voltarem para modelos mais coloridos.

Erano aprova as mudanças que o Empire State Pen Show e eventos igualmente dinâmicos nas regiões de Los Angeles e São Francisco trouxeram ao hobby. A feira de Los Angeles vendeu cerca de 3.500 ingressos este ano, segundo Zhang.

“Vamos chamar de uma nova geração. Eles gostam de tintas, papel, diários, papelaria. Há poucos vendedores de itens vintage”, afirma, indicando mesas parecidas com a dele próximas dali.

Mas até mesmo o “Grande Poobah” da Black Pen Society — título oficial de Erano — não consegue resistir às resinas multicoloridas e vibrantes feitas pela empresa Carolina Pen, de Jonathon Brooks, expostas na mesa ao lado. “Ele é bom.”

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Brooks, de 43 anos, fabrica bastões de resina, usados nos corpos e tampas das canetas, para grandes marcas como Esterbrook, Delta, Visconti e Stipula, além de pequenas oficinas e suas próprias canetas personalizadas, que são vendidas por mais de US$ 200. Ele testemunhou mudanças significativas no hobby desde que entrou no circuito de feiras de canetas, há 11 anos.

“Naquela época, era muito difícil explicar o que era uma caneta personalizada”, diz Brooks. “Hoje em dia, isso é o que atrai boa parte das pessoas.”

Embora os novos itens de papelaria continuem sendo produtos analógicos, sua popularidade é impulsionada pela tecnologia. No Instagram e em outras redes sociais, colecionadores exibem seus Bullet Journals e planners Hobonichi, com páginas cheias de um arco-íris de tintas, adesivos e washi tape, ao lado de canetas tinteiro chamativas — e frequentemente caras.

Foi no Reddit que a irmã de Nneka Edwards, Naomi, descobriu sobre o Empire State Pen Show, mas, como mora em Pittsburgh e não pode participar, enviou a jovem de 20 anos do Bronx para buscar amostras de tinta.

Enquanto estava na feira, Edwards participou de um seminário básico sobre canetas tinteiro e saiu de lá com duas canetas de entrada, de custo mais baixo.

Embora já tivesse usado canetas tinteiro durante o ensino fundamental, enquanto crescia em Trinidad, Edwards receia que sua maneira de escrever seja muito agressiva para as pontas delicadas dessas canetas.

“Eu faço muita pressão”, diz ela. “Acho que não deveria maltratar uma caneta de novo.”

Uma segunda sessão do seminário atraiu Curtis McDowald, que já havia visto o instrutor no YouTube. O ex-esgrimista olímpico, de 29 anos, é novo no hobby e tinha comprado apenas algumas canetas tinteiro básicas. O kit de presente da Goldspot Pens, oferecido na aula, dobrou o tamanho de sua coleção.

Assim como muitos entusiastas de canetas, McDowald também gosta de relógios vintage – ele usa um Movado recém-adquirido no pulso – e está preocupado em adicionar mais um hobby potencialmente caro à lista.

“Estou tentando evitar, porque tenho esse perfil de colecionador”, diz McDowald. Foi recomendado aos participantes do seminário que evitem a “esteira hedônica” de se focar mais em comprar canetas do que em usá-las.

Considerando quão rapidamente o Empire State Pen Show foi organizado – o hotel só foi reservado em abril, poucos meses após um executivo da UnitedHealth Group ser assassinado na frente do edifício – alguns vendedores estavam céticos.

Crazy Alan vendeu canetas na feira de Hofstra por vários anos e odiava o evento porque era “difícil demais de chegar”, conta ele durante uma breve pausa na tarde de sábado. Ele não tinha certeza se a edição em Manhattan seria melhor.

“Honestamente, achei que seria um fracasso”, diz ele. “Mas as primeiras três horas foram uma loucura.”

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