Vale investe em carbono zero e transição energética para se manter relevante

Em cenário global de descarbonização, companhia aposta não só em minerais críticos para novas tecnologias mas também no minério de ferro para sustentar a infraestrutura global, dizem executivos à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Em um cenário de transição energética, a Vale (VALE3) acredita que a mineração seguirá como uma atividade crucial para a economia global.

“O mundo vai continuar precisando muito da mineração nos próximos anos e décadas”, disse o diretor de mudanças climáticas e carbono da Vale, Rodrigo Lauria, em entrevista à Bloomberg Línea.

O executivo citou como exemplo de essencialidade da atividade os minerais críticos, apontados como fundamentais na transição energética, uma vez que são usados como base para a produção de tecnologias de energia limpa como turbinas eólicas, painéis solares e baterias de veículos elétricos.

“O minério de ferro é também o principal componente do aço, que está em quase tudo, incluindo infraestrutura e bens duráveis”, acrescentou.

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Segundo o executivo, o minério de ferro de alto teor produzido pela Vale tem papel fundamental na descarbonização da siderurgia.

“Reconhecemos que produzir minérios gera impactos positivos e negativos. O que diferencia uma atuação responsável é, justamente, o modo como se atua”, ressaltou.

“Na Vale, nossa estratégia é a da mineração do futuro, que engloba conceitos como ter uma operação carbono zero.”

Desde 2020, a Vale investiu R$ 7,4 bilhões em iniciativas de descarbonização, segundo seu primeiro relatório de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, divulgado nesta segunda-feira (2).

Somente em 2024, o valor investido na área foi de R$ 1,38 bilhão.

A empresa tem como metas reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de escopo 1 e 2 (diretas e indiretas) em 33% até 2030 (com ano-base de 2017) e zerar as emissões líquidas até 2050.

A empresa busca ainda reduzir em 15% as emissões de escopo 3 (da cadeia de valor) até 2035 (em relação ao ano-base de 2018).

De acordo com o vice-presidente de finanças e relações com investidores da Vale, Marcelo Bacci, a companhia está bem posicionada e alinhada às principais mineradoras globais.

Ele disse que a Vale foi pioneira ao adotar em 2020 uma meta quantitativa para redução das emissões de escopo 3, que representam cerca de 98% das emissões globais da empresa.

“Isso torna a mitigação dessas emissões crucial para a estratégia de descarbonização da Vale”, destacou o executivo.

“Consideramos que a descarbonização é o negócio da companhia e temos uma estratégia bastante consistente nesse sentido”, acrescentou.

O relatório aponta que, entre as oportunidades significativas para a empresa no contexto atual, destaca-se o aumento da busca por produtos de minério de ferro com potencial de reduzir as emissões de carbono da indústria siderúrgica.

Há também a perspectiva de demanda crescente por metais utilizados para a transição energética, como níquel e cobre.

“Nossa prioridade é atender às metas de descarbonização. Estamos avançando com pesquisa, desenvolvimento e testes para a implementação dessas iniciativas, com a compreensão dos possíveis impactos no negócio e a busca da melhor alocação de capital para a empresa”, disse Lauria.

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Segundo a Vale, com a divulgação do relatório, a companhia se torna a primeira do setor de mineração global e a primeira brasileira a elaborar esse tipo de documento conforme as normas do International Sustainability Standards Board (ISSB). Isso significa adotar o novo padrão global para que as empresas reportem riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade.

O ISSB é uma entidade internacional que estabelece critérios para que empresas possam divulgar ao mercado, de forma padronizada, informações relacionadas à sustentabilidade. É financiado de forma mista, tanto por agências governamentais quanto pela iniciativa privada.

“A Vale adotou de forma voluntária o padrão, que será de apresentação obrigatória pelas empresas de capital aberto no Brasil somente a partir de 2027”, disse a mineradora em comunicado.

A Vale informou ainda que a elaboração do relatório foi realizada pela companhia com o apoio de consultores externos para orientações técnicas. O auditor externo da mineradora é a PwC.

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