iFood investirá até R$ 300 milhões em frota que pode chegar a 45.000 bikes elétricas

Ampliação de programa já existente em parceria com a Tembici prevê a entrega de 20.000 bicicletas elétricas até 2027 na primeira fase do novo contrato, contam Pedro Somma, diretor do iFood, e Tomás Martins, CEO da Tembici, à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Um novo acordo entre o iFood e a Tembici vai dar origem à maior frota corporativa de bicicletas elétricas do Brasil.

Segundo investimento anunciado nesta terça-feira (11), a plataforma líder em entregas no país, que atende 160 milhões de pedidos por mês, prevê investir até R$ 300 milhões para montar uma frota que pode chegar a 45.000 bikes elétricas nos próximos anos, com uso em cidades brasileiras.

O contrato firme prevê a entrega inicial de 20.000 unidades até 2027, o que levará a frota do iFood para 25.000, por valor não revelado.

Atualmente, o programa denominado iFood Pedal conta com 5.000 bicicletas elétricas para entregadores, número que ganhou escala gradualmente ao longo de 2025 a partir de resultados considerados positivos de um projeto piloto iniciado no fim do ano passado (veja mais abaixo).

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O iFood classifica o contrato como sua maior iniciativa de descarbonização já adotada, diante da entrada desse meio de transporte em alternativa a motocicletas movidas a combustão.

A estimativa é que haja redução de emissão de 7.500 toneladas de CO₂ por ano.

O anúncio foi realizado durante a COP30 em Belém. “Mostramos que é possível conciliar propósito, tecnologia e impacto positivo em escala”, disse Luana Ozemela, CSO e Vice-Presidente de Impacto e Sustentabilidade do iFood, em nota.

É uma frente que tem sido endereçada também por meio do uso de IA (Inteligência Artificial) para otimizar as rotas de entrega, com redução do percurso.

“Vamos inserir as bicicletas elétricas na frota a partir de estudos que indiquem o uso mais eficiente delas”, disse Pedro Somma, Diretor de Inovação em Sustentabilidade do iFood, em entrevista à Bloomberg Línea.

Rotas mais curtas e em terrenos planos são duas características que tornam o uso de bikes elétricas mais recomendado, por exemplo, mencionou.

Segundo ele, São Paulo e Rio de Janeiro são as duas cidades iniciais mais evidentes para uso desse modal de transporte, sendo que na capital fluminense já existem bairros em que isso já acontece de maneira mais recorrente.

A ampliação da oferta de bikes elétricas deve contribuir também para que o iFood consiga endereçar um relevante desafio operacional, reforçado pela entrada de novos players no mercado, como 99Food e Keeta, da chinesa Meituan: aumentar a base de entregadores para a sua plataforma.

“Nós temos visto a bicicleta ser um atrativo importante para novos entregadores”, disse o diretor do iFood. “Não serão 100% novos entregadores [para as 20.000 bicicletas elétricas até 2027], mas temos expectativa elevada com a oportunidade de renda para pessoas que não possuem CNH”, completou, citando a exigência da Carteira Nacional de Habilitação para quem dirige motos.

Atualmente existem cerca de 480 mil entregadores ativos na plataforma do iFood. As informações da quantidade unitária de modais de transporte e sua estratificação (moto, bicicleta comum e elétrica, carro e drone) não são divulgadas.

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“O principal modal ainda é a moto e esse programa expandido de bicicletas vai causar um impacto importante na composição da frota”, disse Somma.

iFood e Tembici possuem uma relação de parceria preexistente, que remete inicialmente ao aluguel de bicicletas comuns para entregadores em 2020, no começo da pandemia.

“Para a Tembici, a parceria foi importante lá atrás porque nos permitiu aprender como montar uma operação voltada a entregadores, algo que não sabíamos fazer naquele momento”, contou Tomás Martins, co-fundador e CEO da Tembici, na mesma entrevista.

Martins citou o entendimento de que, para a entrega, a bicicleta elétrica faz muito mais sentido do que a normal, movida apenas pelo pedal de forma mecânica; e o segundo aprendizado foi relacionado ao tempo de locação.

Em vez do modelo por horas ou diário, a Tembici passou a oferecer o aluguel da bicicleta por semana ou quinzena, diante de uma demanda direcionada dos entregadores. “O aumento da adesão foi brutal quando mudamos.”

“Para a Tembici, é de longe a maior parceria corporativa que temos não só no Brasil como na América Latina”, disse o CEO da companhia.

Atualmente a empresa, que tem o Itaú Unibanco como investidor, conta com cerca de 25.000 bicicletas em sua base, com presença em quatro países: além do Brasil, também opera na Argentina, no Chile e na Colômbia.

O citado projeto piloto iniciado permitiu o uso de bikes elétricas na plataforma do iFood de forma estruturada a partir do fim de 2024.

“Os entregadores tiveram aumento de produtividade, ou seja, conseguiram fazer mais entregas no mesmo período de tempo, e isso significou ganho de renda”, disse o executivo do iFood, que destacou ainda o impacto ambiental positivo.

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“Para o cliente que fez o pedido, não houve impacto significativo, pois o tempo de entrega ficou muito próximo do que seria com a moto. Em alguns casos, na verdade, houve até ganho de tempo, dado que em algumas regiões a bicicleta elétrica se mostrou um meio mais rápido”, completou o executivo.

A análise dos resultados do programa piloto indicou também que ele poderia ser expandido para outras cidades brasileiras.

As bicicletas elétricas são montadas em fábrica na Zona Franca de Manaus, com parte dos componentes importados, segundo Martins. Já existe capacidade instalada para atender ao aumento dos pedidos.

Segundo o CEO da Tembici, além da demanda corporativa como o caso do iFood, a empresa tem crescido diante de um aumento do interesse pela bicicleta como modal de mobilidade urbana, ou seja, de deslocamento das pessoas.

“Várias cidades possuem programas para o uso da bicicleta, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e outras”, afirmou.

O aumento tem sido ainda mais expressivo da demanda por bicicletas elétricas para mobilidade urbana, de mais de dez vezes de 2024 para 2025, segundo o executivo e empreendedor, sem abrir os números absolutos.

“Há duas tendências fortes: a de descarbonização e a de eletrificação. Isso sem contar o componente importante de geração de renda para quem usa a bicicleta elétrica para trabalhar”, disse Martins.

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