Rio Grande do Sul: mais chuvas e temperaturas frias são novas ameaças

Serviço meteorológico nacional estima que até 300 mm de chuva devem cair em partes do estado até domingo, ampliando a tragédia que já deixou mais de 100 mortos

Brazil's Worst Flooding In 80 Years Leaves Dozens Dead And Missing
Por Rachel Gamarski, Martha Beck e Simone Iglesias
11 de Maio, 2024 | 11:26 AM

Bloomberg — O sul do Brasil está se preparando para a chegada de novas chuvas e temperaturas mais frias que ameaçam aprofundar uma crise criada pelas enchentes históricas na região, que começaram na semana passada.

Até 300 milímetros de chuva são previstos para cair em partes do estado do Rio Grande do Sul até domingo, estima o Climatempo, exacerbando potencialmente as enchentes que deixaram pelo menos 116 pessoas mortas, mais de 337.000 deslocadas e aproximadamente meio milhão sem eletricidade ou água limpa.

É o mais recente grande desastre natural a atingir o país, que tem enfrentado tempestades e eventos climáticos intensos. O Rio Grande do Sul, um importante polo agrícola com 11 milhões de habitantes, enfrentou enchentes várias vezes no último ano, e estimativas preliminares da Enki Research sugerem que o impacto econômico da crise atual poderia chegar a US$ 2,5 bilhões.

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Mas autoridades alertaram que não será possível avaliar todo o alcance da tragédia até que as águas das enchentes recuem, e têm concentrado seus esforços em mitigar os danos que as chuvas adicionais estão prontas para causar.

Alguns municípios ordenaram evacuações diante de uma piora nas previsões climáticas, enquanto autoridades locais fecharam estradas e pontes que consideraram em risco de colapso. O governador do estado, Eduardo Leite, alertou os moradores na sexta-feira (10) para não retornarem às áreas de risco.

“Há uma perspectiva de que as chuvas causem o aumento dos níveis dos rios novamente”, disse Leite durante uma coletiva de imprensa. “É por isso que estamos apelando para que as pessoas não retornem às áreas de risco.”

O desastre desencadeou um esforço nacional de ajuda ao Rio Grande do Sul.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajou para a área no último domingo, divulgou um pacote de ajuda no valor de R$ 50,9 bilhões na quinta-feira (9), prometendo implementar medidas adicionais na próxima semana.

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As medidas provavelmente incluirão ajuda para trabalhadores informais – como motoristas de Uber e vendedores ambulantes – que requerem atenção especial porque não se beneficiarão das disposições do pacote original, segundo uma pessoa familiarizada com os planos que falou à Bloomberg News e pediu anonimato para discutir assuntos internos.

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Em todo o país, equipes de voluntários montaram pacotes de alimentos, água e itens essenciais para enviar à região, onde a água encanada não está chegando a muitas casas e o pouco disponível foi direcionado para hospitais.

Supermercados restringiram as vendas a 5 litros por pessoa, por dia, para evitar um colapso completo do fornecimento de água.

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Os moradores – muitos dos quais foram obrigados a deixar suas casas – também estão se esforçando para ajudar uns aos outros num momento em que o fechamento de rodovias importantes e do aeroporto internacional de Porto Alegre dificultou entregar ajuda em todo o estado.

As autoridades de defesa civil resgataram Fábio Praxedes de sua casa às margens do Lago Guaíba, que transbordou no último sábado. Desde que se mudou para a casa dos pais, ele se juntou às operações de busca pelas mais de 140 pessoas que continuam desaparecidas.

Com amigos e familiares, Praxedes disse que agora passa cada dia preparando 1.500 marmitas de almoço para entregar aos vizinhos em uma área onde os mercados e lojas estão quase todos fechados.

Danos econômicos

As enchentes consumiram o governo de Lula e cativaram a nação. Enquanto isso, os analistas estão atentos a pistas sobre como as consequências afetarão a maior economia da América Latina como um todo.

O Rio Grande do Sul, grande produtor de arroz, soja, aves e suínos, é responsável por cerca de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, e as enchentes fecharam temporariamente fábricas, plantas de processamento e grandes empresas em todo o estado.

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A XP Asset já reduziu sua estimativa de crescimento para o Brasil em 2024 para 2,1%, ante 2,4%, devido à crise, enquanto alerta que o impacto pode aumentar se o setor agrícola do estado sofrer um golpe ainda maior do que o esperado.

A maioria das colheitas de arroz e soja da região já havia sido concluída antes das chuvas torrenciais começarem, mas as enchentes reduzirão a safra de soja do país em 3 milhões de toneladas este ano, estimou a StoneX Group na sexta.

Ainda é cedo para avaliar os efeitos sobre o gado e outras culturas; o esforço de reconstrução, enquanto isso, pode eventualmente ajudar a compensar o impacto negativo de curto prazo no PIB.

O peso de Porto Alegre na inflação total do país é de 8,6%, mais alto do que todas as outras capitais dos estados, exceto três. Analistas do Itaú (ITUB4) preveem um aumento de 0,4 ponto percentual na inflação anual, em grande parte devido aos efeitos sobre o arroz e a soja, escreveram em uma nota aos clientes nesta semana.

Vanelise Chaves, que possui uma pizzaria com seu marido na cidade atingida de Canoas, já está sentindo o aperto. Normalmente, ela vende produtos em Porto Alegre, mas as enchentes tornaram os 16 quilômetros de estrada entre sua cidade e a capital do estado intransitáveis.

Chaves usou os ingredientes que tinha em mãos para manter uma pequena parte de sua produção normal, enquanto também faz sanduíches e marmitas para distribuir em sua comunidade.

Mas as vendas caíram 80%, e Chaves disse que está pagando 30% mais caro por tomates cada vez mais escassos do que antes das chuvas começarem.

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