Lula deve ter ganho de popularidade passageiro com reação a Trump, diz Maílson

Em entrevista à Bloomberg News, ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega avalia que o impacto das tarifas na economia pode reverter a recuperação de Lula em pesquisas de opinião

Maílson da Nóbrega
Por Josue Leonel
24 de Julho, 2025 | 01:21 PM

Bloomberg — A popularidade inicial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a reação às tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve se esvair com o esperado impacto das medidas sobre a atividade econômica e a inflação, o que torna uma negociação técnica o melhor caminho ao governo, disse o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, em entrevista à Bloomberg News.

Ainda que as últimas pesquisas tenham mostrado uma melhora de popularidade do governo, diante da postura oficial de defesa da soberania nacional, os efeitos negativos prejudicarão Lula se a tensão com os EUA escalar.

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“Se o confronto e as tarifas persistirem, deve ter saída de capitais, dólar mais alto e aumento de inflação, levando à queda da renda da população”, afirmou o ex-ministro, que é sócio-fundador da consultoria Tendências.

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Ele cita como exemplos de retórica dura, mas indevida, o fato de Lula ter dito, durante entrevista no encontro dos Brics, que não acha responsável o presidente dos EUA “ficar ameaçando o mundo”, além de ter comentado que, se Trump fosse brasileiro e a invasão do Capitólio tivesse ocorrido no Brasil, o presidente americano também poderia ser preso, em referência ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à CNN.

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O presidente dos EUA anunciou em 9 de julho que vai impor uma tarifa de 50% aos produtos exportados pelo Brasil e citou entre os motivos o tratamento dado pela Justiça a Bolsonaro.

Na carta em que anunciou as medidas, Trump pediu às autoridades que retirem as acusações contra o ex-presidente por uma suposta tentativa de golpe.

O presidente Lula rebateu em um post nas redes sociais ao dizer que o país não será “tutelado” por ninguém e qualquer aumento de tarifa será respondido por medidas recíprocas.

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As previsões de impacto das tarifas na economia brasileira indicam efeito moderado porque deixam de considerar o fato de que as sanções, diante de um ambiente de confronto entre os dois países, provavelmente vão piorar o ambiente de negócios e provocar saídas de capital.

“A tese de efeito pequeno se baseia no impacto sobre os exportadores, mas as tarifas podem impactar toda a economia pelo canal das expectativas”, afirmou o ex-ministro.

“A história mostra que a inflação derrota governos”, disse Maílson, que atribuiu ao impacto da alta dos preços as últimas derrotas de Jair Bolsonaro e Joe Biden em eleições brasileiras e americanas, além da influência da pressão inflacionária na queda da popularidade e subsequente impeachment de Dilma Rousseff.

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Negociação

Para ele, o melhor caminho é “baixar o tom” da retórica recente, considerada pelo ex-ministro como equivocada, e “deixar a negociação para os profissionais”.

As conversas entre o Brasil e EUA deveriam ser lideradas pelos ministérios, com busca da ajuda dos empresários brasileiros e também dos americanos. O prazo final de negociações é em 1º de agosto.

O Brasil não tem como vencer essa guerra comercial com uma retórica de confronto, afirma. “Seria suicida o governo achar que vai dobrar o Trump com uma mobilização nacionalista.”

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