Jair Bolsonaro indica Flávio como candidato em 2026; Ibovespa cai 4% e dólar dispara

Decisão cria cenário de divisão da direita, reduz as chances de candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e pode favorecer a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva

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Bloomberg — O senador Flávio Bolsonaro disse que seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o indicou para concorrer às eleições presidenciais de 2026. O anúncio frustrou as esperanças dos investidores que tinham outro candidato em mente para concorrer com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É com grande responsabilidade que confirmo a decisão do maior líder político e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me confiar a missão de dar continuidade ao nosso projeto nacional”, disse Flávio em um post de mídia social na sexta-feira (5).

Os ativos brasileiros ampliaram as perdas depois que Flávio confirmou a decisão. O real perdeu força após a divulgação da notícia, e caiu até 3,1%. O Ibovespa caiu até 4,2% e alguns contratos de taxas de swap subiram mais de 50 pontos-base.

A decisão cria um cenário preocupante para parte dos investidores brasileiros, que temiam outro confronto entre Lula e um membro da família Bolsonaro.

Eles esperavam que o ex-presidente, que no mês passado começou a cumprir uma sentença de 27 anos de prisão por planejar um golpe após sua derrota em 2022, apoiasse o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

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O governador era visto como uma opção amigável ao mercado que daria à direita brasileira sua melhor chance de derrotar o atual presidente de esquerda.

“O mercado esperava que Tarcísio fosse o candidato de Bolsonaro, e a posição técnica refletiu esse otimismo até certo ponto”, disse Milena Landgraf, sócia da Jubarte Capital em São Paulo.

“Flávio seria um candidato menos competitivo em relação a Lula e também pior do ponto de vista das expectativas de política econômica, e isso seria negativo para os ativos do Brasil.”

Isso também pegou tanto os investidores quanto os aliados desprevenidos, dadas as indicações anteriores de que Bolsonaro provavelmente não apoiaria um possível sucessor até março.

Tarcísio não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. A esposa de Bolsonaro, Michelle, que também foi considerada uma potencial candidata de dentro da família, não quis comentar.

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Na terça-feira (2), Flavio visitou o pai na sede da Polícia Federal em Brasília, onde Bolsonaro está sob custódia desde o final de novembro, depois de usar um ferro de solda para adulterar um monitor de tornozelo que ele foi obrigado a usar enquanto estava em prisão domiciliar.

Desde o encontro, Flavio tem procurado aliados para dizer que planeja começar a viajar pelo Brasil para angariar apoio antes da eleição, de acordo com duas pessoas familiarizadas com a situação que pediram anonimato.

Ponto de inflexão

Aliados centristas e investidores viram o início da sentença de Bolsonaro como um ponto de inflexão que forçaria o ex-presidente, que insistiu que concorreria novamente no próximo ano, a passar o bastão, com muitos olhando para Tarcísio como a escolha mais provável.

Embora o governador de São Paulo tenha falado como um candidato em eventos com investidores, até agora ele insistiu que planeja concorrer à reeleição no governo de SP. Ele tem sido cauteloso em relação a uma possível candidatura presidencial, sinalizando que provavelmente só concorrerá com o apoio explícito de Bolsonaro.

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Bolsonaro nunca fechou a porta para a possibilidade de escolher um membro de sua poderosa família como sucessor.

Seu filho Eduardo, um deputado, construiu laços estreitos com movimentos conservadores no exterior, mas está morando nos EUA, depois de se mudar para lá para fazer lobby junto ao governo Trump para ajudar seu pai a se esquivar do julgamento da tentativa de golpe.

A ex-primeira-dama Michelle, que tem laços profundos com os crescentes movimentos evangélicos do Brasil, também foi considerada uma opção em potencial.

“Parece que a direita foi de fato sequestrada por Bolsonaro, o pai”, disse Olga Yangol, chefe de pesquisa e estratégia de mercados emergentes nas Américas do Credit Agricole.

A notícia deve pesar sobre o real no curto prazo, “mas espero que haja algum controle de danos, negociações de bastidores”, acrescentou ela.

Chances de Lula

Embora Flavio mantenha vínculos mais estreitos com partidos centristas, muitos legisladores e investidores consideram a candidatura de qualquer membro do polarizador clã Bolsonaro como um movimento que aumentaria as chances de reeleição de Lula.

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Mais da metade dos brasileiros, 56%, disseram ter uma imagem negativa de Flávio em novembro, em comparação com 34% que o viam de forma positiva, de acordo com a LatAm Pulse, uma pesquisa realizada pela AtlasIntel para a Bloomberg News. Tarcísio, por outro lado, é visto positivamente por 46% dos entrevistados e negativamente por 45%.

Lula, que planeja buscar um quarto mandato sem precedentes no próximo ano, liderou todos os possíveis adversários nas pesquisas eleitorais iniciais.

Mas Tarcísio ganhou terreno sobre o presidente em novembro, ficando atrás de 49% a 47% em um cenário hipotético de segundo turno, de acordo com a LatAm Pulse. A pesquisa não incluiu Flávio nos cenários eleitorais.

“O endosso de Bolsonaro jogou um pouco de água fria na empolgação do mercado com a possibilidade de Tarcísio concorrer com Lula no ano que vem”, disse Dan Pan, economista do Standard Chartered Bank.

“A divisão entre as oposições também pode ser favorável a Lula, resultando no azedamento do humor do mercado.”

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