IPCA-15 de março indica obstáculos para a queda da Selic, dizem economistas

Em março, a prévia da inflação subiu 0,36%, número acima das estimativas; para economistas, inflação de serviços impede corte mais acelerado dos juros

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Bloomberg Línea — Para economistas e analistas do mercado financeiro, os dados divulgados nesta terça-feira (26) sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), conhecido como uma prévia da inflação oficial, podem indicar que a taxa de juros do Brasil não deve chegar a 9% neste ano — ficando em um patamar mais alto do que o anteriormente esperado.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, ressalta que a inflação de serviços subjacentes, categoria que exclui os itens mais voláteis, é a mais olhada pelo Banco Central e continua a ser um obstáculo para a convergência da inflação para a meta.

“Na última reunião de decisão de juros, o Copom demonstrou certo grau de desconforto com a dinâmica da inflação subjacente e não se comprometeu com cortes de 0,5 ponto percentual para além da próxima reunião. Na nossa visão, a inflação de serviços elevada aumenta o risco de o Banco Central não chegar a uma taxa terminal de juros de 9% neste ano”, afirma.

A projeção do banco é a de que a Selic ficará em 9,25% ao final de 2024 e em 8,5% ao final de 2025. Para o IPCA, a projeção é de 4,7% ao final do ano.

Mais cedo, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou a ata da última reunião do Banco Central (BC). No documento, os economistas reforçaram a visão sobre a “necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Isso significa que o Copom pode manter a redução de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, acredita que o IPCA-15 reforça as afirmações feitas na ata do Copom.

“A inflação segue desacelerando em diversas métricas, mas ainda tem alguns componentes que requerem mais cuidado, sobretudo aqueles que são persistentes. A inflação de serviços ainda não opera em valores condizentes com os objetivos do BC e os núcleos caminham no sentido da meta de forma bastante lenta”, diz.

“Até que esse processo se consolide, os dados justificam a necessidade do BC ser cauteloso, que lida também com uma economia ainda aquecida, com dados de atividade resilientes e um forte mercado de trabalho.”

Para o Goldman Sachs (GS), a dinâmica da inflação apoia a continuação de um ciclo de flexibilização gradual, mas os índices subjacentes de serviços principais merecem atenção.

“Um cenário de mercado de trabalho restrito, crescimento robusto da renda do mercado de trabalho, políticas fiscal e quase fiscal expansionistas, falta de credibilidade das metas fiscais para 2024-26, expectativas de inflação ainda não ancoradas para 2024 e médio prazo, e fundamentos de inflação de serviços restritos (cenário do mercado de trabalho e transferências fiscais) exigem cautela na calibração de curto prazo da política monetária”, afirmam os economistas do banco.

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, projeta uma inflação de 0,26% em março, acelerando de 0,21%. Para abril, a alta prevista é de 0,32% e, para o ano, de 3,95%.

“Acreditávamos que as próximas duas leituras de IPCA (março e abril) iriam mostrar sinal de desaceleração dos grupos subjacentes e intensivo em trabalho e, depois reverteriam este sinal e voltariam a reacelerar. O número de hoje trouxe dúvidas quanto a este movimento momentâneo de ‘falsa’ continuidade de desinflação. Mas o que não muda é a leitura de que a dinâmica de reaceleração, em relação a 2023, segue em curso e está compatível com alta de 6% ao final de 2024″, diz.

O Itaú BBA, por sua vez, projeta uma inflação de 3,6% ao final do ano. “Na abertura do dado de hoje, destacamos especialmente a surpresa altista em passagem aérea. Em relação aos núcleos, serviços subjacentes vieram acima das expectativas puxados por alimentação fora do domicílio e condomínio, mas foram compensados por industriais subjacentes vieram abaixo do esperado, puxados por aparelho telefônico e alguns itens de vestuário”, afirmam os economistas do banco.

Em março, a prévia da inflação ficou a 0,36%, uma queda em relação aos 0,78% em fevereiro, influenciada pelo setor de alimentação. A

pesar de ter caído, o número ficou acima das estimativas. Analistas do mercado estimavam alta de 0,30% na comparação mensal e de 4,09% no acumulado em 12 meses, segundo a mediana de projeções compiladas pela Bloomberg.

O Boletim Focus do Banco Central, também divulgado nesta manhã, projeta a inflação de 3,75% ao final do ano, ante previsão anterior de 3,79%. Para os economistas do BC, a previsão da Selic segue a 9% em 2024. Atualmente, a taxa de juros básica está a 10,75%.