COP30 em Belém mobiliza autoridades para ampliação de quartos e infraestrutura

Autoridades estaduais e do governo federal buscam alternativas para receber até 41.000 participantes da conferência do clima da ONU em 2025

Belém, no Pará
Por Barbara Nascimento - Simone Iglesias - Gerson Freitas Jr
29 de Maio, 2024 | 02:31 PM

Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer mostrar a realidade da Amazônia quando o Brasil sediar a cúpula climática das Nações Unidas no ano que vem. Para os participantes, isso pode significar longas viagens e condições precárias.

O Pará, que abriga cerca de um quarto da maior floresta tropical do mundo, precisa de mais do que triplicar a sua capacidade hoteleira e resolver gargalos de transporte e saneamento antes de receber a COP30 no fim de 2025.

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Belém tem hoje apenas 12.000 leitos para receber o evento. Com base no número de participantes na conferência do ano passado em Dubai, serão necessários pelo menos 41.000 no auge da COP, quando chefes de Estado estiverem presentes. Uma opção na mesa é usar navios de cruzeiro como hotéis flutuantes.

Há ainda o entrave da chegada das pessoas à cidade. O aeroporto de Belém ainda não consegue lidar com o volume de passageiros necessário. O prefeito da capital, Edmilson Rodrigues (PSOL), sugere como alternativa que os participantes voem para outras cidades próximas e, depois, completem o trajeto pelas estradas.

“O governo fez uma escolha política consciente pelo Pará, porque tem outros lugares no Brasil em que a infraestrutura está pronta, mas essas opções não dão o peso político de ter uma COP na Amazônia”, disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, em entrevista. “A gente nao viu até agora um plano concreto de entrega de infraestrutura e as pessoas estão ansiosas por ver. O governo precisa entregar o que é necessário para viabilizar a COP, porque essa escolha gerou uma expectativa muito grande.”

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Embora esteja entre as maiores economias da Amazônia Legal, que abrange os estados da floresta Amazônica, o Pará representa menos de 3% da produção econômica total do Brasil, com uma renda média mensal de R$ 2.276 no ano passado, em comparação com R$ 3.033 nacionalmente, segundo dados do IBGE.

O saneamento é um dos grandes desafios em Belém. A cidade de 1,3 milhão de habitantes coleta apenas cerca de 20% de seu esgoto e menos de 3% é tratado, segundo a ONG Trata Brasil.

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A escala dos desafios logísticos no Pará levou alguns integrantes do governo a sugerir a transferência do evento – ou pelo menos parte dele – para São Paulo ou Rio de Janeiro, com maior estrutura para grandes eventos. Tanto Lula quanto o governador do estado, Helder Barbalho (MDB), são inflexíveis para que a conferência seja realizada na Amazônia.

“Teremos a ‘COP da Floresta’”, disse Helder Barbalho em entrevista, acrescentando que a realocação da cúpula da ONU está “completamente descartada”.

Agenda ambiental

A conferência do clima no país será a primeira vez que Lula usará o Pará para promover sua agenda ambiental no cenário mundial. Lula recebeu o presidente da França, Emmanuel Macron, na região, durante visita ao país no início deste ano.

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Lula indicou Belém como sede da cúpula durante a COP27 no Egito, no fim de 2022, sua primeira viagem internacional após ser eleito e ainda antes de tomar posse.

O petista colocou a proteção da floresta no topo de sua agenda do terceiro mandato e tem trabalhado para restaurar a liderança climática do Brasil depois que o país se tornou um pária internacional sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O Pará, no entanto, há muito tempo tem problemas com o desmatamento. No ano passado, foi responsável por cerca de um terço da área desmatada na Amazônia brasileira, a pior entre os nove estados cobertos pelo bioma, segundo o Imazon.

Ainda assim, o estado conseguiu abrandar o ritmo do desmatamento e almeja usar a COP como alavanca para obter mais progressos. O plano é reflorestar 5,6 milhões de hectares até 2030 com a ajuda de investidores que tocariam a reabilitação em troca do direito de vender créditos de carbono gerados no processo.

A primeira concessão de terras públicas para reflorestamento – uma reserva de 10.000 hectares que foi ocupada e desmatada ilegalmente – deverá ser finalizada em setembro, disse Barbalho. O estado também planeja concluir no próximo mês a venda de uma primeira tranche de créditos de carbono resultante do sucesso até agora na redução dos níveis de desmatamento.

Alternativas

Para resolver os desafios de acomodação, estão em construção três novos hotéis em Belém, bem como alojamentos provisórios que depois serão transformados em um novo centro administrativo, disse o governador.

O estado também considera reformar escolas para servirem como hostel, reaproveitar vilas militares, construir unidades modulares, estimular aluguéis de temporada e estabelecer parceria com o Airbnb (ABNB).

A utilização de navios de cruzeiro, por sua vez, poderia oferecer entre 6.000 e 8.000 leitos adicionais. Fornecer energia aos navios, no entanto, é um obstáculo para o estado, que está preocupado com emissões adicionais quando estiverem ancorados no porto, como a emissão de fuligem.

A contratação é coordenada pelo governo federal, que estuda alternativas para reduzir sua pegada ambiental durante o evento climático, como o uso de biocombustíveis ou sua conexão à rede elétrica existente.

A Equatorial Pará, empresa local de distribuição e transmissão de energia, confirmou que foi sondada sobre o fornecimento de energia para navios de cruzeiro durante a COP30.

Para resolver outros problemas logísticos, o estado trabalha para melhorar os sistemas de drenagem e esgoto, pavimenta 600 estradas e tenta expandir as demais infraestruturas de transporte, incluindo o aeroporto de Belém.

O governo de Barbalho argumenta que, com essas melhorias e o fato de que o aeroporto opera atualmente com 50% da sua capacidade, deve ser capaz de satisfazer o aumento da demanda que a conferência da ONU traz.

“O Brasil tem compromisso de sediar uma COP em Belém, existe uma expectativa, uma mobilização amazônica”, disse Caetano Scannavino, coordenador da ONG Saúde e Alegria, localizada em Alter do Chão, no Pará. “Há movimentos para desidratar a COP em Belém dividindo com outros lugares, como Rio e São Paulo, o que seria muito ruim.”

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