Brasil não teme retaliação dos EUA ao reforçar laços com a China, diz Lula

Presidente assinou mais de 30 acordos com o governo chinês durante uma visita ao país em aposta em estratégia de desenvolvimento destinada a elevar o país na cadeia de valor global

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Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou se preocupar que o governo de Donald Trump possa punir seu país por estreitar os laços com a China. A declaração foi dada durante uma visita de Estado a Pequim em que o presidente assinou mais de 30 acordos.

Falando a repórteres na quarta-feira (14), Lula disse que o Brasil não tem medo de qualquer retaliação, e acrescentou que sempre quis melhorar as relações com a China, bem como com outros países e blocos. “Não há nenhuma preocupação por parte do Brasil com a postura dos EUA”, disse ele em Pequim.

Lula encerrou a viagem dizendo que a China e o Brasil estão unidos na defesa do multinacionalismo e no combate ao protecionismo. O presidente tem buscado expandir ainda mais os laços, apostando nos investimentos chineses e no apoio a uma estratégia de desenvolvimento destinada a elevar o país na cadeia de valor global.

O aprofundamento das relações foi demonstrado na terça-feira, quando o líder chinês Xi Jinping e Lula assinaram acordos para investimentos chineses em mineração, infraestrutura de transporte e portos, bem como a compra de jatos fabricados pela Embraer.

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Os pactos assinados em Pequim marcaram o mais recente passo nos esforços de Lula para transformar a economia brasileira, que é rica em commodities, com a ajuda da China, ao mesmo tempo em que enviaram um dos sinais mais fortes de que as ameaças protecionistas de Trump pouco fizeram para dissuadir o líder da maior economia da América Latina de apostar ainda mais em Pequim.

A China e o Brasil também decidiram cooperar em inteligência artificial e tomar medidas conjuntas em relação ao clima, enquanto seus bancos centrais firmaram um acordo de troca de moeda para fornecer liquidez aos mercados um do outro em um período de cinco anos.

A questão agora é se o possível acordo tarifário de Pequim com os EUA pode colocar em risco o comércio da China com o Brasil. Os EUA reduziram as tarifas sobre os produtos chineses de 145% para 30% por um período de 90 dias, enquanto Pequim reduziu sua taxa sobre a maioria dos produtos americanos para 10%.

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O Brasil se beneficiou nos últimos anos, pois a China procurou reduzir sua dependência dos produtos agrícolas dos EUA. No que diz respeito à soja, por exemplo, os exportadores americanos já dominaram o mercado chinês, mas viram sua participação cair para apenas 20% no ano passado - contra um terço em 2017 - à medida que a China aumentou as compras do Brasil.

Os recentes desenvolvimentos entre a China e os EUA significam que a questão poderá em breve assumir um perfil mais elevado para o Brasil.

Mauricio Claver-Carone, enviado de Trump para a América Latina, já alertou que o Brasil poderia sofrer se a China concordasse em aumentar suas importações de produtos agrícolas dos EUA como parte de um possível acordo futuro, segundo o Valor. No início deste mês, ele pediu que o Brasil priorizasse seus laços comerciais e de investimento com os EUA, informou o jornal.

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Mas ao falar em Pequim, Lula pareceu despreocupado. Em um ataque velado a Trump, ele também questionou como uma potência poderia ameaçar o resto do mundo com tarifas.

“O Brasil não tem medo de competir com os EUA na quantidade e na qualidade de nossos produtos”, disse ele. “Quanto mais produtos, quanto mais comércio, melhor para todos.”

--Com a ajuda de Travis Waldron e James Mayger.

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