Gripe aviária eleva preocupações para os setores de carne e de leite nos EUA

Casos em vacas leiteiras no país trazem um novo desafio para produtores que já enfrentam margens reduzidas; autoridades dizem que não há risco para os alimentos

Gado nos EUA
Por Gerson Freitas Jr - Michael Hirtzer - Ilena Peng
04 de Abril, 2024 | 02:18 PM

Bloomberg — Um vírus que matou milhões de pássaros tem se espalhado entre vacas leiteiras nos Estados Unidos, elevando preocupações de que o surto possa prejudicar a demanda por laticínios e carne bovina.

Embora o Departamento de Agricultura americano tenha dito que há pouco risco à segurança dos alimentos, o surto está prejudicando a indústria, com efeito nos preços do gado e do leite. Há preocupação de que alguns consumidores evitem beber leite ou comer carne bovina.

“Os riscos para a demanda do consumidor por laticínios estão presentes nas conversas”, disse o analista da StoneX Group, Dave Kurzawski, em relatório aos clientes. Ele acrescentou que, embora haja “grandes riscos em jogo”, o impacto da doença no comportamento do comprador não está claro.

A gripe aviária foi confirmada em vacas leiteiras em vários estados. O Departamento de Agricultura afirmou na segunda-feira (1º) que a doença foi identificada no estado de Novo México e em cinco outros rebanhos no Texas. O vírus até infectou uma pessoa no Texas. O maior produtor de ovos dos EUA chegou a paralisar a operação de uma unidade após o vírus ser encontrado nas instalações.

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A infecção de vacas pelo vírus, que surgiu na Europa em 2020 e desde então tem causado um número sem precedentes de mortes em aves selvagens e aves de criação em todo o mundo, também está levantando preocupações no lado da oferta.

As vacas leiteiras infectadas no Texas tem o apetite e a lactação reduzidas, e vacas mais velhas são mais propensas a serem afetadas com mais gravidade.

Parte do gado desenvolveu pneumonia e mastite clínica — uma doença inflamatória —, disse a Comissão de Saúde Animal do Texas por e-mail. A maioria dos animais parece se recuperar em até duas semanas com cuidado, embora com redução dos níveis de produção de leite.

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Algumas vacas podem nunca recuperar sua produção de leite para os níveis pré-infecção, caso em que podem ser abatidas, de acordo com um relatório da HighGround Dairy na segunda-feira.

“O impacto de longo prazo na oferta não é totalmente claro, já que os agricultores tentam manter o rebanho em um momento de oferta apertada de gado”, disse.

Para os produtores individuais, que enfrentavam preços e margens baixas, até a perda de uma pequena quantidade de produção traz mais um desafio, de acordo com Alan Bjerga, vice-presidente executivo de comunicações e relações com a indústria na Federação Nacional de Produtores de Leite dos EUA. Mas ele acrescentou que o impacto geral na indústria deve ser leve.

“Quando se considera o pequeno número de fazendas com doenças confirmadas, o número limitado de vacas afetadas, a maios gravidade dessa doença apenas para animais mais velhos e o fato de que vacas doentes eventualmente se recuperam para produzir leite novamente”, o impacto no suprimento de leite é minúsculo, ele disse.

Embora nenhum caso tenha sido encontrado em rebanhos de carne até agora, os contratos futuros de gado caíram 2,7% na segunda-feira após a confirmação de que uma pessoa no Texas havia sido afetada. O mercado reduziu algumas perdas na terça-feira.

A pessoa no Texas provavelmente contraiu gripe aviária após ser exposta a vacas leiteiras infectadas, disseram autoridades de saúde pública. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) disse que o risco para a população em geral permanece baixo.

“O mercado deu um salto enorme aqui na ideia de que a demanda por carne bovina definitivamente será impactada pela gripe aviária”, disse Dennis Smith, analista da Archer Financial Services, em entrevista.

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Enquanto isso, os contratos futuros de leite caíram por quatro dias seguidos na Bolsa Mercantil de Chicago, mesmo depois que o Departamento de Agricultura afirmou que a contaminação de vacas não representa grandes ameaças à segurança do leite e outros produtos lácteos vendidos em supermercados, pois são esterilizados antes de entrar no mercado.

Ainda assim, o leite de animais afetados está sendo separado ou descartado para que não entre na cadeia alimentar humana, e o CDC disse que as pessoas não devem comer alimentos crus ou mal cozidos de animais que possam estar infectados.

A Food and Drug Administration (FDA), autoridade de vigilância sanitária, não tem conhecimento de que algum leite ou produto lácteo de vacas sintomáticas tenha sido enviado para comercialização.

“Continua a não haver preocupação de que essa circunstância represente um risco para a saúde do consumidor, ou que afete a segurança do suprimento comercial de leite”, disse o Departamento de Agricultura. Além disso, a perda de leite foi muito limitada para ter um impacto significativo no suprimento e nos preços, disse a agência.

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