Bloomberg — Os frigoríficos americanos estão sob ameaça conforme o número de cabeças de gado permanece muito abaixo dos níveis históricos, refletindo o menor rebanho em mais de meio século.
As cabeças de gado colocadas em confinamento nos Estados Unidos, onde os animais são engordados até o abate, devem ter caído em novembro para os menores níveis para o mês desde 2015, de acordo com uma enquete da Bloomberg News com analistas.
Os dados, que serão divulgados ainda nesta sexta-feira pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês), vêm após as entradas de gado em confinamentos em outubro — normalmente o mês mais forte — terem atingido o nível mais baixo já registrado para o período.
A situação, agravada pela interrupção em curso dos embarques de gado mexicano para impedir a disseminação da praga mortal da mosca-da-bicheira, ou mosca-varejeira, representa um grande estresse para os frigoríficos, que já operam com prejuízos. Além disso, está criando um cenário de bifes mais caros nos EUA por mais tempo, o que complica os esforços do presidente Donald Trump para reduzir os preços recordes da carne bovina.
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A Tyson Foods, maior empresa de processamento de carne dos EUA, destacou as dificuldades enfrentadas pelo setor no mês passado, ao anunciar que iria fechar uma planta de carne bovina no Nebraska e reduzir as operações para um turno em uma unidade no Texas, a aproximadamente 724 quilômetros da fronteira com o México.
Pelo menos mais uma grande fábrica e várias outras regionais podem fechar nos próximos 18 meses devido às atuais pressões sobre a oferta, afirmou Hyrum Egbert, especialista que trabalha na indústria da carne bovina há quase duas décadas. É provável que as pressões sejam mais acentuadas no Sul, onde as plantas normalmente obtêm parte do gado vivo do México, mas “não acho que alguém esteja imune a isso agora”, disse.
O governo Trump tem enfrentado preços recordes da carne bovina com uma série de medidas, incluindo a recente suspensão das tarifas elevadas sobre os embarques brasileiros.
No entanto, mesmo com as importações de carne bovina projetadas para saltarem 15% neste ano para atender ao apetite dos americanos pela proteína, elas ainda representam apenas cerca de 17% do suprimento do país, segundo o USDA. E a maior parte dessa oferta consiste em aparas magras que são misturadas à carne produzida nos EUA para a fabricação de carne moída.
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Por isso, muitos veem a fronteira sul como fundamental para reduzir o preço do bife, já que os carregamentos do México envolveriam gado vivo.
Ao falar sobre cortes de carne que não sejam carne moída, “isso exigirá a abertura da fronteira sul”, disse Darin Parker, presidente da distribuidora de carnes PMI Foods. Remover a proibição é “uma medida importante que o governo poderia tomar”, acrescentou.
Os embarques de gado provenientes do México, onde a mosca-varejeira foi detectada pela primeira vez há um ano, foram bloqueados desde julho após interrupções intermitentes que começaram em novembro de 2024.
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Isso impediu a disseminação desta praga que pode matar o gado em poucos dias e que devastou a indústria pecuária dos EUA antes de ser erradicada décadas atrás. Três casos de mosca-varejeira foram detectados no estado de Nuevo León, no norte do México, desde setembro, de acordo com o USDA.
A agência continua liderando uma resposta agressiva à mosca-da-bicheira em ambos os lados da fronteira, disse um porta-voz do USDA. “Embora estejamos fazendo progressos consideráveis, ainda há trabalho a ser feito.”
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