Esta empresa de armazenagem fria vê espaço para crescer dez vezes com o agro em LatAm

Após a compra da Comfrio, Emergent Cold LatAm assumiu a liderança em armazenagem resfriada no Brasil. Potencial da região permite multiplicar o tamanho, disse o fundador e presidente David Palfenier em entrevista à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Um elemento fundamental para o avanço do agronegócio na América Latina e no Brasil é a armazenagem. De olho nas oportunidades, a Emergent Cold LatAm já investiu US$ 1,9 bilhão na região desde o início da operação em 2021 e alcançou a liderança em armazenagem refrigerada no Brasil com capital sustentado por equity, parte da receita em dólar e aquisições estratégicas.

A companhia passou da quinta posição para se tornar a maior empresa do setor no país com a aquisição da Comfrio, que recebeu aval do Cade em julho.

O valor do negócio, que não envolveu o “braço” de food service da Comfrio, sob o controle da gestora de private equity Aqua Capital, não foi revelado.

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A Emergent Cold LatAm nasceu em agosto de 2021 com investimento inicial de US$ 450 milhões. Depois de duas rodadas com aporte de fundos como Stonepeak, D1 Capital e Lineage Logistics, o valor chegou a US$ 1,2 bilhão.

“O futuro da empresa sempre vai ser de mãos dadas com os nossos clientes. Não especulamos, não inventamos CD [centro de distribuição] em qualquer lugar. Nós sempre vamos estar junto com alguém”, disse David Palfenier, presidente e fundador da Emergent Cold LatAm, em entrevista à Bloomberg Línea, em referência às perspectivas de crescimento nos próximos anos.

“Pretendemos focar aqui [na América Latina] porque essa empresa ainda pode ser dez vezes maior do que é hoje.”

A companhia estima que, apenas no Brasil, será necessário estar presente em pelo menos 25 cidades para atender a 80% do consumo de alimentos do país.

Atualmente, a estrutura da empresa, combinada com a da Comfrio, soma 37 instalações em 12 estados brasileiros, e totaliza 4 milhões de metros cúbicos de capacidade e 610 mil posições de pallets.

Esse mapeamento dos principais locais e portos onde a empresa escolhe atuar faz parte da estratégia batizada internamente de “mapa contextual”. No México, por exemplo, a meta é chegar a 31 cidades, e, no Chile, a oito.

“Quando anunciamos a construção de um novo CD ou uma aquisição, é porque essa decisão se conecta diretamente a esse mapa e à demanda dos clientes”, disse Palfenier.

“A América Latina já é o maior continente exportador de alimentos do planeta. E ainda há espaço para crescer, com terras aráveis e recursos naturais disponíveis. Nosso desafio é apoiar essa expansão com eficiência logística”, afirmou.

Nos Estados Unidos, mais de 85% da armazenagem refrigerada é terceirizada, enquanto na América Latina essa fatia ainda está em 35%, disse Palfenier, que apontou, a partir desses dados, o tamanho da oportunidade de crescimento na região.

O executivo disse se identifica como um “quase brasileiro”. Seus pais se mudaram para o Brasil em 1961, quando ele tinha apenas cinco anos de idade. Essa vivência o fez criar uma ligação de “coração” com o Brasil, contou. Ele também morou por muitos anos no México.

Antes da Emergent Cold LatAm, ele foi executivo em grandes multinacionais como a Conagra Foods, nos EUA. No Brasil, atuou como CEO e COO da Seara Foods entre 2012 e 2013, antes da venda da marca para a JBS.

O executivo disse que percebeu a diferença de infraestrutura entre as regiões durante os anos de atuação na cadeia do agro: enquanto nos EUA havia condições para que as empresas focassem apenas em seu negócio principal, na América Latina era preciso “carregar muito nas costas” para vencer as limitações.

Foco em LatAm

Para sustentar a expansão na região, a Emergent Cold LatAm anunciou recentemente a obtenção de um empréstimo de US$ 250 milhões, liderado pelo fundo de pensão Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB), com parte dos recursos destinados a novos investimentos no país.

Desde sua criação em 2021, a empresa investiu US$ 1,9 bilhão na região, entre capital levantado por meio de dívida e equity, e projeta manter um ritmo de US$ 300 milhões a US$ 500 milhões por ano em aportes, segundo o executivo.

“A volatilidade dificulta muito, por isso acabamos tendo um peso maior de equity do que gostaríamos. O equity tem um custo, mas, ao contrário da dívida, não é volátil e isso nos dá mais previsibilidade”, explicou.

A trajetória de crescimento da companhia na região tem sido feita a partir de uma estratégia focada em M&A: em pouco mais de quatro anos, a Emergent fez 25 aquisições e iniciou a construção de 20 centros de distribuição.

Hoje, há 10 obras em andamento e outras 11 previstas para o próximo ano, sendo algumas delas no Brasil.

“As aquisições pesam mais porque muitas vezes envolvem empresas com vários centros de distribuição, como foi o caso da Comfrio. O M&A tem sido mais relevante do que os novos desenvolvimentos [de armazéns], mas, com o tempo, veremos cada vez mais construções de armazéns e menos aquisições, já que as oportunidades futuras devem migrar para esses projetos.”

Entre os clientes atendidos pela empresa estão a BRF e a JBS em proteína animal, o Atacadão no varejo, e, com a aquisição da Comfrio, a Bayer e a Corteva na área de insumos para a produção de grãos.

Segundo Palfenier, a perspectiva é que o Brasil represente cerca de um terço da receita global até 2028/29. Hoje, a operação brasileira já tem peso superior a esse patamar.

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“Eficiência de espaço é tão importante quanto o espaço em si. Nosso papel é reduzir o capital de giro dos clientes e otimizar o uso da infraestrutura já existente”, justamente para diminuir a capacidade ociosa, apontou.

A expansão da companhia é acompanhada de uma estratégia de sustentabilidade, disse o executivo.

Atualmente, 60% da energia utilizada pela Emergent na região já é renovável, e a meta é que, até o próximo ano, cerca de 20% da matriz energética seja suprida por painéis solares.

Outro pilar da estratégia da empresa é a integração das operações adquiridas, com o “Emergent Way”, que busca oferecer o mesmo nível de serviço para clientes multinacionais em todos os países.

“Nosso diferencial é poder tratar um mesmo cliente em diferentes países com o mesmo padrão, algo que antes não existia na região”, disse Palfenier.

Receita em dólares

Para lidar com o risco da América Latina, com a volatilidade cambial e os juros altos, por exemplo, a companhia adota “amortecedores”, como projeções próprias de desvalorização cambial antes de investir, diversificação de moedas e commodities e equilíbrio entre mercados domésticos e exportações.

Nenhum cliente ou produto responde por mais de 5% da receita, contou Palfenier, o que reduz a exposição a choques específicos.

Hoje, 37% da receita já é denominada em dólares, apesar de apenas Panamá e Equador operarem nessa moeda.

“Isso nos permite competir por capital global mesmo em um ambiente volátil como a América Latina”, afirmou.

“Queremos ser o parceiro que permite ao produtor e à indústria crescer sem carregar sozinho o peso do investimento em infraestrutura. O cliente direciona seu capital ao negócio principal, e nós cuidamos da logística.”

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- Matéria corrigida às 10h10 com a informação sobre o investimento inicial de US$ 450 milhões e as duas rodadas com aporte para valor chegar a US$ 1,2 bilhão.