China retira restrições à carne da Austrália e reduz dependência do Brasil

Frigoríficos brasileiros possuem quase a metade da participação no mercado chinês e, portanto, liberação resulta em mais fornecedores aos consumidores do país, segundo consultoria

Carne australiana
Por Ben Westcott - Hallie Gu - Keira Wright
06 de Junho, 2024 | 11:08 AM

Bloomberg — Cinco grandes processadores de carne bovina australianos que haviam sido proibidos de exportar carne para a China poderão retomar o comércio com o país, na mais recente medida de Pequim para normalizar os laços econômicos com Canberra.

O governo australiano foi informado na semana passada que as restrições seriam retiradas, informou o ministro da Agricultura do país, Murray Watt, à emissora Australian Broadcasting na quinta-feira (30).

A China levantou as restrições a outros três exportadores de carne bovina do país em dezembro, enquanto as remessas de dois outros fornecedores permanecem restritas.

“Isso é uma notícia fantástica para os produtores de gado da Austrália, para a nossa indústria de processamento de carne, para os trabalhadores dessas indústrias e, claro, para as exportações australianas”, disse Watt.

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A carne bovina estava entre uma série de exportações australianas, incluindo vinho e cevada, afetadas em 2020, quando Pequim implementou restrições comerciais em retaliação ao pedido de Canberra para que investigadores independentes fossem permitidos em Wuhan para investigar as origens da covid-19.

Os laços diplomáticos melhoraram após a eleição do governo trabalhista de centro-esquerda em maio de 2022, e a maioria das tarifas foi retirada, embora as restrições sobre as exportações de lagosta ainda estejam em vigor.

A embaixada da China na Austrália não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Mercado de carne chinês

Embora a medida de Pequim não deva alterar a estrutura do mercado de carne bovina da China, que atualmente é dominado por remessas sul-americanas, principalmente do Brasil, ela dará aos consumidores mais opções, disse Alice Xuan, analista da Shanghai JC Intelligence.

A maior oferta de carne bovina australiana de alta qualidade agora pode competir com a carne bovina americana, disse ela.

O Brasil é o fornecedor dominante de carne bovina para a China, representando quase metade da participação de mercado, enquanto a Austrália e os EUA fornecem 8% e 5%, respectivamente.

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As exportações australianas de carne bovina para a China totalizaram mais de 116.000 toneladas, no valor de 832,5 milhões dólares autralianos (US$ 550 milhões) em 2017, de acordo com estatísticas do governo, após a implementação de um acordo de livre comércio entre as nações.

As importações chinesas de carne bovina aumentaram nas últimas décadas graças à demanda mais forte da crescente classe média. No entanto, a expansão diminuiu recentemente devido a uma desaceleração econômica sustentada que reduziu o poder de compra dos consumidores.

A liberação dos frigoríficos tende a acelerar as exportações de carne bovina australiana para a China, que se tornaram mais baratas em comparação com as dos EUA, disse Matt Dalgleish, cofundador da empresa de consultoria agrícola Episode 3.

Os EUA capturaram em grande parte a parcela do mercado de exportação da China que costumava pertencer à Austrália, disse ele.

Além da China, a Austrália também poderia ver uma maior demanda por sua carne bovina para outros destinos para os quais os Estados Unidos exportam, como Japão e Coreia do Sul, disse Dalgleish.

A Federação Nacional de Agricultores da Austrália disse que continuaria a trabalhar com o governo para remover os impedimentos comerciais restantes para os setores de carne e lagosta.

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