Bloomberg Línea — A BrasilAgro (AGRO3) alterou sua estratégia comercial neste ano e optou por não vender toda a soja no primeiro semestre. Em vez disso, a companhia estocou parte do volume, equivalente a cerca de R$ 150 milhões em receitas, para ser negociado no segundo semestre.
A decisão está diretamente relacionada à guerra comercial entre Estados Unidos e China. A expectativa é que a demanda chinesa se concentre ainda mais na América do Sul no segundo semestre, o que pode elevar os prêmios pagos pela soja brasileira exportada.
Entre executivos do setor e analistas políticos, é consenso que o Brasil tende a ser um dos principais beneficiários desse embate tarifário, com potencial para ampliar sua presença em mercados estratégicos, sobretudo a China.
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“Não é que não tenhamos soja. É uma estratégia. Essa receita vai entrar depois”, disse André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, em entrevista coletiva de resultados com jornalistas nesta terça-feira (6).
“Já tínhamos a leitura de que a nova gestão americana deveria trazer um benefício aos prêmios a nível de Brasil”, afirmou o executivo.
Segundo Guillaumon, os prêmios de exportação passaram por uma reversão significativa. No início do ano, os contratos de março e abril indicavam prêmios negativos, que chegaram a se tornar positivos com o atraso da colheita. No entanto voltaram a cair posteriormente com a intensificação da oferta.
Guillaumon disse acreditar em uma nova recuperação no segundo semestre, à medida que a oferta se acomode e o mercado internacional se reequilibre.
“Se mantivermos uma diplomacia cartesiana, o Brasil pode ganhar na margem. E é isso que está acontecendo”, afirmou.
Em relação à disputa tarifária, o executivo comparou a situação a um jogo de truco, em que “o cliente é quem tem o zap” - nesse caso, a China, principal compradora global de commodities agrícolas.
Para ele, o Brasil deve manter uma postura diplomática e estratégica e assim evitar a dependência de um único comprador ou fornecedor.
“A beleza da soja está na sua sazonalidade: é produzida em períodos distintos nos dois hemisférios, o que favorece a indústria que não precisa de grandes estoques”, observou.
Ele disse que, para países como a China, essa característica é estratégica, pois permite abastecimento contínuo sem necessidade de investimentos pesados em armazenagem.
Nesse sentido, os ganhos do Brasil nesse cenário são pontuais e de natureza conjuntural.
Segundo informações da Bloomberg News, a China já tem realizado compras consideradas atípicas de soja brasileira. Em abril, o gigante asiático comprou ao menos 40 cargas do Brasil, em torno de 2 milhões de toneladas, o equivalente a quase um terço do volume médio que a China processa em um mês.
“Na nossa leitura, EUA e China acabarão se recompondo, porque ambos estão perdendo. Mas, se o Brasil mantiver uma postura diplomática equilibrada, pode continuar sendo beneficiado”, concluiu.
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