BrasilAgro ‘segura’ soja para o segundo semestre de olho em guerra comercial, diz CEO

Estratégia da companhia consiste em aproveitar alta demanda do país asiático pela soja sul-americana diante de embate com os EUA, diz André Guillaumon em call com jornalistas

Maquinário de colheita de soja no campo
08 de Maio, 2025 | 10:49 AM

Bloomberg Línea — A BrasilAgro (AGRO3) alterou sua estratégia comercial neste ano e optou por não vender toda a soja no primeiro semestre. Em vez disso, a companhia estocou parte do volume, equivalente a cerca de R$ 150 milhões em receitas, para ser negociado no segundo semestre.

A decisão está diretamente relacionada à guerra comercial entre Estados Unidos e China. A expectativa é que a demanda chinesa se concentre ainda mais na América do Sul no segundo semestre, o que pode elevar os prêmios pagos pela soja brasileira exportada.

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Entre executivos do setor e analistas políticos, é consenso que o Brasil tende a ser um dos principais beneficiários desse embate tarifário, com potencial para ampliar sua presença em mercados estratégicos, sobretudo a China.

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“Não é que não tenhamos soja. É uma estratégia. Essa receita vai entrar depois”, disse André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, em entrevista coletiva de resultados com jornalistas nesta terça-feira (6).

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“Já tínhamos a leitura de que a nova gestão americana deveria trazer um benefício aos prêmios a nível de Brasil”, afirmou o executivo.

Segundo Guillaumon, os prêmios de exportação passaram por uma reversão significativa. No início do ano, os contratos de março e abril indicavam prêmios negativos, que chegaram a se tornar positivos com o atraso da colheita. No entanto voltaram a cair posteriormente com a intensificação da oferta.

Guillaumon disse acreditar em uma nova recuperação no segundo semestre, à medida que a oferta se acomode e o mercado internacional se reequilibre.

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“Se mantivermos uma diplomacia cartesiana, o Brasil pode ganhar na margem. E é isso que está acontecendo”, afirmou.

Em relação à disputa tarifária, o executivo comparou a situação a um jogo de truco, em que “o cliente é quem tem o zap” - nesse caso, a China, principal compradora global de commodities agrícolas.

Para ele, o Brasil deve manter uma postura diplomática e estratégica e assim evitar a dependência de um único comprador ou fornecedor.

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“A beleza da soja está na sua sazonalidade: é produzida em períodos distintos nos dois hemisférios, o que favorece a indústria que não precisa de grandes estoques”, observou.

Ele disse que, para países como a China, essa característica é estratégica, pois permite abastecimento contínuo sem necessidade de investimentos pesados em armazenagem.

Nesse sentido, os ganhos do Brasil nesse cenário são pontuais e de natureza conjuntural.

Segundo informações da Bloomberg News, a China já tem realizado compras consideradas atípicas de soja brasileira. Em abril, o gigante asiático comprou ao menos 40 cargas do Brasil, em torno de 2 milhões de toneladas, o equivalente a quase um terço do volume médio que a China processa em um mês.

“Na nossa leitura, EUA e China acabarão se recompondo, porque ambos estão perdendo. Mas, se o Brasil mantiver uma postura diplomática equilibrada, pode continuar sendo beneficiado”, concluiu.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.