Bloomberg Línea — Diante de uma audiência atenta de estrangeiros e brasileiros da cadeia do agronegócio, o VP de Soluções da BASF no país, Marcelo Batistela, começou a sua apresentação no World Agritech Summit na semana passada em inglês e, na sequência, passou ao português: “Como estou na América Latina, gostaria de falar na minha língua mãe”, disse o executivo em tom de brincadeira.
Batistela acumula 22 anos de atuação na empresa, em que passou por diversas áreas, entre elas Diretor de Marketing, VP Global de Comercial Excellence, baseado na Alemanha, e, nos últimos dois anos, com o cargo atual de volta ao Brasil.
Durante a sua apresentação no evento, Batistela questionou se de fato todos compreendem a cadeia do agro “como um todo” e que “descarbonizar a agricultura será necessário” para entender como o setor chegou até aqui e como tudo o que foi feito até então não vai ser responsável para “nos levar ao futuro”.
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Segundo o executivo, somente com combinações de práticas assertivas será possível elevar consideravelmente a produtividade da América Latina e, sobretudo, a do Brasil. Para ele, o país poderá atingir a marca de 5 safras em dois anos.
Atualmente, o país tem potencial para produzir duas safras no ano, ou quatro a cada dois.
O primeiro ciclo é geralmente plantado em setembro para o cultivo de soja. E a segunda, a ‘safrinha’, é plantada logo após a colheita da primeira safra: o milho é o cultivo mais predominante nessa etapa.
As declarações de Batistela, não por acaso, refletem a estratégia da empresa global de origem alemã no país, que tem reforçado a sua atuação no agro com foco no tripé formado por inovação, tecnologia integrada e sustentabilidade.
“A descarbonização da economia global é uma grande oportunidade para alavancar o consumo de soja e milho no país”, disse Ademar De Geroni Júnior, vice-presidente de marketing estratégico da BASF na América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea.
De Geroni disse enxergar espaço para expansão com base no aumento da demanda por biocombustíveis, como biodiesel e etanol de milho.
Em meio à aposta na agricultura regenerativa, tema que tem sido recorrente entre as empresas de agronegócios, o executivo disse avaliar que o mercado brasileiro de defensivos deve seguir “andando de lado” neste ano.
Esse movimento, segundo De Geroni, deve refletir a queda da rentabilidade dos produtores e o desaquecimento da expansão diária, realidade oposta à euforia vivida nos anos de alta das commodities durante e logo após a pandemia.
“Voltamos a patamares de rentabilidade pré-pandemia, e até um pouco abaixo, o que pressiona decisões de investimento do produtor”, disse.
Diante dessa expectativa, a companhia tem focado em ganhos de produtividade, redução de custos e uso mais eficiente de recursos, como a integração de genética avançada, inteligência artificial e ferramentas digitais para entregar soluções mais eficazes, segundo o executivo.
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Um dos exemplos é o uso de IA no melhoramento genético preditivo (predictive breeding), que acelera o desenvolvimento de sementes adaptadas a diferentes condições de cultivo
Além disso, a companhia tem apostado em novos produtos e soluções para impulsionar o crescimento nos próximos anos. Entre elas está uma nova tecnologia em sementes de soja resistentes a nematoides, praga considerada silenciosa que afeta o Brasil e a Argentina.
A solução, prevista para chegar ao mercado até o fim da década, promete ganhos expressivos de produtividade.
Até 2035, a empresa prevê o lançamento de 24 produtos de proteção de cultivos no Brasil entre fungicidas, inseticidas, herbicidas e tratamento de sementes químicos e biológicos.
A empresa investe € 915 milhões por ano no mundo em P&D para agricultura.
Recentemente, a companhia lançou no país um inseticida para cigarrinha do milho. O produto recebeu registro para uso no Brasil em dezembro de 2024.
A estratégia também inclui maior proximidade com o produtor. Nos últimos dois anos, a participação das vendas diretas cresceu de 20% para mais de 30% no Brasil, especialmente entre grandes produtores do Cerrado.
“Fortalecemos nossa presença na ponta para entender as dores e entregar soluções mais completas”, disse De Geroni.
Hoje, mais de 80% dos produtos da empresa consumidos no Brasil são fabricados localmente no complexo de Guaratinguetá, no interior do estado de São Paulo, um dos maiores da empresa na América Latina.
O país responde por cerca de 70% do faturamento agro da companhia na região e figura como o segundo mercado mais relevante globalmente, atrás apenas dos Estados Unidos.
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Apesar do cenário desafiador, com taxas de juros de dois dígitos desde o início de 2022, a companhia mantém uma agenda robusta de inovação.
Na parte de sementes, a companhia detém liderança em algodão, arroz e soja com marca própria, além de atuar em iniciativas voltadas à agricultura regenerativa e baixo carbono.
Com a chegada da segunda metade do ano, tradicionalmente mais concentrada na safra da América do Sul, a expectativa da BASF é a de manter o desempenho positivo observado no primeiro semestre.
“Os holofotes agora se voltam para a América do Sul, e a responsabilidade vem junto”, disse o executivo.
No último balanço financeiro divulgado pela empresa em maio deste ano, as vendas da BASF no primeiro trimestre de 2025 somaram € 17,4 bilhões, queda de 0,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo a empresa, essa queda ocorreu em razão dos volumes de vendas nos segmentos de Soluções para Agricultura, Químicos e Nutrição & Cuidados, enquanto os volumes nos segmentos de Tecnologias de Superfície, Soluções Industriais e Materiais permaneceram estáveis em relação ao ano anterior.
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