Agrotools chegou a R$ 200 mi em receitas com dados ‘made in Brazil’. O CEO quer mais

Sérgio Rocha, também fundador, contou à Bloomberg Línea como a agtech que atua com soluções que conectam dados espaciais, climáticos e comerciais tem acelerado a capacidade de análise

Agtech atua com soluções que conectam dados espaciais, climáticos e comerciais, com intuito de contribuir com grandes corporações
01 de Maio, 2025 | 12:30 PM

Bloomberg Línea — O que parecia um sonho impossível há 18 anos se transformou na Agrotools. É assim que o CEO e fundador da empresa, Sérgio Rocha, descreve como pensou, em 2007, na possibilidade de monitorar a evolução de uma área rural com o apoio de dados espaciais e inteligência artificial.

“Naquela época, você olhava para um talhão de cana, de soja ou de milho e torcia para que desse certo e se materializasse ao final da colheita. Hoje, acompanhamos de maneira dinâmica e ajudamos os elos da cadeia”, disse Rocha em entrevista à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

O agronegócio que Rocha ajuda a construir atualmente é muito diferente do imaginário há quase duas décadas e dos estereótipos.

“Estamos falando de um agro de algoritmos, de geotecnologia e de inteligência artificial, muito diferente do agro de raiz do interior paulista”, disse Rocha.

A empresa atua com soluções que conectam dados espaciais, climáticos e comerciais, com intuito de contribuir com grandes corporações a tomarem decisões estratégicas sobre suas cadeias de fornecimento.

PUBLICIDADE

A agtech cresceu ao longo dos anos de forma bootstrap, com o reinvestimento de receitas e ganhos. Somente entre 2021 e 2022, a empresa foi ao mercado e levantou R$ 100 milhões em uma primeira rodada com investidores.

Em 2021, a empresa atingiu R$ 130 milhões em receita.

A companhia opera com contratos recorrentes de médio a longo prazo, em média com duração de três anos, e eles somados apontam para um Life Time Value (LTV) estimado em R$ 200 milhões.

PUBLICIDADE

A empresa não divulga dados mais recentes de faturamento. Rocha disse apenas que a receita cresceu 36% entre 2023 e 2024.

A agtech ganhou escala na sua base de clientes. Apenas no ano passado, processou mais de 24 milhões de análises de dados.

Em 2023, a Agrotools iniciou uma expansão para a América do Norte, mercado que Rocha acreditava ter soluções tecnológicas bem desenvolvidas. Mas não foi o caso.

PUBLICIDADE

Leia mais: De equinos a pets: Boehringer cresce em saúde animal e mira expansão no Brasil

“Achamos que encontraríamos uma sofisticação tecnológica maior, mas o setor agro nesses países ainda é muito básico digitalmente”, afirmou Rocha.

Embora 90% do faturamento da agtech ainda venha de operações focadas no Brasil e na América do Sul, a empresa já atende grandes clientes internacionais, como McDonald’s, tradings e bancos globais.

Para diminuir o tempo de análise, a empresa pretende lançar ainda neste ano uma nova geração de sua plataforma, diz Rocha. A expectativa é que o tempo de análise, que antes era de 15 dias para um milhão de casos, caia para um dia.

“Isso representa uma revolução na eficiência e na entrega de valor para nossos clientes”, afirmou o executivo, que espera que a atualização seja um dos vetores de crescimento da agtech para o ano.

Pilares de atuação

A atuação da Agrotools é dividida em três grandes pilares.

O primeiro é o setor financeiro, para o qual a empresa desenvolve ferramentas capazes de avaliar riscos com mais precisão do que os modelos tradicionais.

“O agro é complexo. Um produtor pode ter feito tudo certo, mas ser afetado por uma adversidade climática. Isso exige um novo tipo de leitura de risco, e é isso que entregamos ao setor financeiro”, explica Rocha.

A agtech atende bancos, cooperativas de crédito e seguradoras, e oferece insights via APIs integradas aos sistemas dos clientes e aplicativos móveis.

CEO da Agrotools

O segundo pilar envolve a inteligência de dados aplicada ao comércio de commodities, tanto na compra de matéria-prima como na venda de insumos e equipamentos agrícolas.

“A base de tudo é o território. Entendemos onde estão os clientes, quais as condições logísticas e como otimizar essas operações com dados”, afirma.

Já o terceiro pilar é a sustentabilidade.

Atualmente, cerca de 60% das operações de carne e até 40% das de grãos no país passam pelas plataformas da empresa, diz Rocha.

A rastreabilidade e a conformidade ambiental, uma vez vistas como custos, tornaram-se diferenciais competitivos para acesso a mercados exigentes e linhas de crédito sustentáveis.

Armazenar mais dados

Um dos maiores ativos da empresa são os dados. E também esse é um dos maiores desafios. A Agrotools é considerada uma das maiores consumidoras de dados espaciais e territoriais do mundo, afirmou Rocha.

Para lidar com esse volume, a empresa opera com nuvens (multi-cloud) e firmou uma parceria com a Microsoft, o que possibilitou acesso ao laboratório do computador planetário da big tech.

“A troca foi excelente: fornecemos dados em larga escala e, em contrapartida, testamos tecnologias que ainda nem chegaram ao mercado”, diz.

Mas armazenar dados custa caro. E esse é um problema ainda sem solução definitiva para a empresa.

“Estamos constantemente buscando formas criativas de reduzir custos, sem comprometer a qualidade e a precisão das análises. Dados são nosso combustível, e inteligência é o que os transforma em valor”.

“Hoje, quem não usa dados e tecnologia está em desvantagem. E nós somos o atalho para quem quer otimizar operações em escala gigante.”

Mesmo com o crescimento do setor como um todo, Rocha disse acreditar que o mercado brasileiro ainda está apenas no começo da digitalização.

Segundo ele, soluções como as da Agrotools ainda representam menos de 9% do potencial de penetração no país, o que revela um horizonte promissor para o futuro.

O time da agtech é composto por desenvolvedores e cientistas de dados.

Recentemente, a Agrotools foi escolhida como empresa âncora do Agropolo, iniciativa do Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (PIT).

Inspirado no sucesso do polo aeroespacial liderado pela Embraer, o Agropolo quer transformar a cidade em um Vale do Silício do agro de alta tecnologia.

“Hoje são mais de cem empresas que fazem parte desse ecossistema. Tentamos repetir o que a Embraer fez para a indústria aeroespacial, mas agora no agro digital”, afirmou Rocha, que não descartou o mercado de aquisições para a agtech.

“Estamos sempre em busca de oportunidades de M&A que complementam nossas competências em ciência de dados. Até agora, crescemos de forma orgânica, mas estamos prontos para acelerar com novas parcerias”, disse.

Leia também

XP se une à Procer, da Kepler Weber, para oferecer soluções ao produtor rural

Termômetro da economia global, Caterpillar prevê vendas menores com guerra comercial

Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.