Bloomberg Línea — O agronegócio brasileiro tem buscado soluções mais sustentáveis em momento de crescente preocupação com a forma como os alimentos são produzidos.
Uma das estratégias passa pela adoção maior de bioinsumos, que são produtos desenvolvidos a partir de microorganismos. É um segmento no qual o Brasil já se consolida como um dos principais produtores globais.
Agora, a próxima fronteira é ampliar a presença no mercado internacional. As exportações brasileiras de bioinsumos movimentam cerca de US$ 90 milhões por ano, e a expectativa é que essa fatia cresça nos próximos anos.
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Esse foi o pano de fundo para a criação do Projeto Bioinsumos do Brasil, uma iniciativa conjunta da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e da CropLife Brasil, entidade que representa 54 empresas do setor, sobretudo nas áreas de bioinsumos, biotecnologia e químicos.
Entre as associadas da entidade estão algumas das maiores empresas globais do agronegócio no segmento, como Syngenta, Basf, Bayer, Corteva, Koppert, entre outras.
“Em uma década, o Brasil passou a representar mais de um terço do mercado global de bioinsumos, crescendo em ritmo superior à média mundial nos últimos três a quatro anos”, disse o presidente da CropLife Brasil, Eduardo Leão, em evento com jornalistas e entidades do setor nesta terça-feira (27).
Ao todo, R$ 5,6 milhões foram investidos no projeto de olho nos próximos dois anos, disse Leão, com recursos igualmente divididos entre a ApexBrasil e a CropLife. O projeto também conta com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Segundo Leão, o momento atual representa um novo ciclo para a agricultura nacional. Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo detalhou o plano de ação do projeto, dividido em três etapas.
A primeira fase passa pelo mapeamento de oportunidades e desafios nos principais mercados internacionais; haverá também participações em feiras e eventos no exterior, como a AgriShow Argentina, e, por último, a formação de parcerias estratégicas com cooperativas e associações de produtores em países relevantes para o mercado de bioinsumos.
Estados Unidos, União Europeia e alguns países da América Latina, como Chile, Colômbia e México, estão no horizonte.
O projeto também mira regiões com clima parecido ao do Brasil, como o Sudeste Asiático e parte do continente africano.
Imagem internacional
Segundo Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, o lançamento do projeto de bioinsumos ocorre em um momento em que mais consumidores buscam entender a origem dos alimentos e como eles são manuseados.
“Ao mesmo tempo em que vivemos a ameaça de uma crise climática, precisamos buscar uma relação melhor na produção para atender ao consumidor. E o melhor caminho são os bioinsumos: algo em equilíbrio com a natureza, ao mesmo tempo em que oferece uma garantia ao consumidor”, disse Viana no evento.
A preocupação com a imagem do agronegócio brasileiro também foi ressaltada por executivos e entidades presentes no evento, que afirmaram que o objetivo é tornar o setor uma vitrine para o mundo também nessa frente, especialmente por meio de técnicas mais sustentáveis.
O Brasil já lidera a produção de bioinsumos no mundo e é considerado líder - a partir de entidades como a Embrapa - na descoberta de formas mais sustentáveis de produção.
Na semana passada, a pesquisadora da Embrapa e engenheira agrônoma Mariangela Hungria da Cunha recebeu o World Food Prize 2025 pelo seu trabalho com bioinsumos. Entre suas contribuições está a identificação e seleção de bactérias capazes de auxiliar a soja na fixação de nitrogênio em lavouras no Paraná.
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Para Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, o mercado de bioinsumos é relativamente “novo” e, por isso, apresenta potencial de crescimento tanto no mercado interno quanto no externo.
“Atualmente, na Embrapa, temos mais de 100 projetos relacionados a bioinsumos, e acredito que este projeto será a grande virada de chave para levá-los ao mundo”, disse.
Segundo Rua, o projeto deve estimular empresas a levar seus produtos para o exterior, o que oferecerá a elas uma oportunidade para compreender a demanda do mercado.
“Tem uma expressão de que eu gosto muito: ‘’menino parado não vende picolé”. E é essa a ideia. Por isso a necessidade de uma agenda internacional bastante intensa”, disse.
Potencial
O uso de bioinsumos no país cresceu 13% na safra 2024/2025, para 156 milhões de hectares tratados, segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira (27) da Blink encomendada pela CropLife Brasil.
O equivalente a 26% da área plantada no Brasil utiliza algum tipo de bioinsumo, um avanço sobre os 23% da safra anterior. Segmentos como bioinseticidas, biofungicidas e bionematicidas tiveram crescimento médio de 22% ao ano.
Quando comparado ao restante do mundo, o avanço é quatro vezes maior que a média global.
Mato Grosso é o estado que mais utiliza bioinsumos agrícolas no país, com 34%, segundo a pesquisa, seguido por Goiás, com 12%, São Paulo, com 10%, e Paraná e Mato Grosso do Sul, ambos com 8%. Nas últimas colocações estão Tocantins, com 4%, e Maranhão, com 3%.
Além disso, o Brasil conta com mais de 1.000 produtos registrados, sendo metade nos últimos três anos, e mais de 170 empresas produtoras, o que sinaliza que as empresas também têm se movimentado para atender a demanda.
Cerca de 90% das matérias-primas utilizadas é nacional, o que contrasta com a forte dependência externa de insumos como fertilizantes.
No ano passado, o Brasil foi considerado o maior importador de fertilizantes do mundo, segundo dados do Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert). O país adquire entre 75% e 95% dos insumos que consome, a depender do tipo: 75% dos fosfatados, 85% dos nitrogenados e 95% do potássio.
No caso dos bioinsumos, a equação é diferente: já estão presentes em todas as principais culturas agrícolas do país, com destaque para soja (62%), milho (23%), cana-de-açúcar (10%), algodão, café e citrus (6%).
“Temos uma oportunidade única de transformar o Brasil em uma plataforma exportadora líquida de bioinsumos”, disse Leão.
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