Bloomberg — Um início de outono semelhante ao do verão no interior dos EUA significa que os campos de cultivo tem secado rapidamente, o que força os agricultores a colher as safras antes que as plantas caiam.
Mas a China, normalmente o maior comprador de soja dos EUA, ainda não reservou um único carregamento da safra deste ano.
Portanto, agora há uma questão que paira no ar: Para onde os agricultores enviarão todos esses grãos?
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Os especialistas alertam que os produtores enfrentam uma inevitável crise de armazenamento.
Muitos provavelmente ficarão sem espaço para estocar a safra até que a demanda volte a crescer.
Isso deixa poucas opções: Recorrer ao empilhamento de montanhas no chão sob lonas, onde ficam vulneráveis à deterioração - ou levá-los ao terminal mais próximo para vendê-los por preços mais baixos.
“Vamos armazenar tudo o que pudermos, o que nossos silos comportarem”, disse Andrew Philips, que cultiva milho e soja em Nebraska.
Mas, depois disso, é “tentar lutar para sobreviver este ano”, disse ele, ao citar o aumento dos custos de sementes, fertilizantes, equipamentos e seguros, à medida que os preços das commodities se arrastam.
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A soja é normalmente a exportação agrícola mais valorizada dos Estados Unidos. No ano passado, os embarques dos EUA para a China renderam cerca de US$ 5 bilhões até julho.
Para o mesmo período deste ano, esse valor caiu pela metade, para US$ 2,5 bilhões, sem embarques previstos para a temporada 2025/26, de acordo com os últimos dados disponíveis do Departamento de Agricultura dos EUA.
As coisas não pareciam tão terríveis desde a última vez em que os EUA e a China se envolveram em uma disputa comercial.
Desta vez, os mercados já refletem condições ainda piores do que na disputa anterior.
Em Dakota do Norte, a base da soja - a diferença entre o preço local que os agricultores recebem e os futuros de referência - atingiu uma baixa recorde de US$ 1,50 abaixo do mercado de Chicago, de acordo com um relatório da Universidade Estadual de Dakota do Norte.
Os agricultores recebem menos de US$ 9 por um bushel, embora os futuros estejam sendo negociados acima de US$ 10.
“Quando há excesso de oferta, a base fica mais fraca”, disse Shawn Arita, diretor associado do centro de política de risco agrícola da NDSU e ex-economista sênior do escritório do economista-chefe do USDA (o Departamento de Agricultura dos EUA).
De acordo com a Terrain Ag, as colheitas em Dakota do Norte podem ser 33% maiores do que a capacidade de armazenamento, com o número de Dakota do Sul sendo 26% maior e Nebraska com 15%.
Devido à paralisação do governo, os dados do Departamento de Agricultura dos EUA que detalham as exportações americanas e a quantidade que os agricultores estão colhendo estão atrasados.
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Analistas consultados pela Bloomberg estimaram que a colheita de soja estava 38% concluída na semana que terminou em 5 de outubro.
As preocupações com o excesso de oferta têm pesado sobre os futuros da soja em Chicago.
Os preços caíram 5% em setembro, a quarta perda em cinco meses. Na quarta-feira, os futuros avançaram um pouco, e chegaram a subir 0,7% em negociações tranquilas.
Philips, de Nebraska, disse que terá de vender tudo o que não puder armazenar, mesmo que o preço não seja o ideal.
“Temos que levar para a cidade - então eles terão que abrir espaço para isso”, disse ele.
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