Bloomberg — Grandes aquisições acertadas nos setores de ferrovias, drogarias, estúdios de cinema, fabricantes de videogames, entre outros, fizeram com que o volume de negócios fechados por assessores financeiros em 2025 chegasse a cerca de US$ 4,5 trilhões — o segundo maior total já registrado.
Já há bastante otimismo em Wall Street de que 2026 pode estabelecer um novo recorde, mesmo com as tensões comerciais persistentes e o aumento dos temores de uma correção no mercado acionário.
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A Bloomberg News conversou com mais de uma dúzia de assessores seniores para reunir suas previsões sobre fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) em diversos setores e regiões nos próximos 12 meses e além.
A seguir, uma seleção das respostas:
Ben Wallace, co-chefe de M&A nas Américas, Goldman Sachs
Sobre um 2026 ainda melhor:
“O mercado parece tão bom quanto já esteve. CEOs e conselhos estão confiantes em relação ao cenário macro — crescimento do PIB, desemprego, inflação... Se isso continuar, eu apostaria que 2026 pode ser potencialmente um ano muito melhor do que este.”
Maggie Flores, sócia, Kirkland & Ellis
Sobre megaoperações:
“O boom de megadeals não é específico de um setor — vimos pontos positivos em várias indústrias. Acho que isso vai continuar porque as pessoas veem o mercado como aberto. Elas entendem para onde os juros estão indo, precificam qualquer tipo de incerteza e sabem que o ambiente regulatório é favorável a negócios.”
Steve Baronoff, presidente global de M&A, Bank of America
Sobre operações transfronteiriças:
“A atividade transfronteiriça tende a ganhar força em 2026. Os Estados Unidos continuam sendo um destino atraente para investimentos e há vantagens estratégicas nisso. Empresas americanas buscam expansão geográfica em países-chave e diversificação de suas cadeias de suprimentos.”
Thomas Koehrer, co-chefe de investment banking de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações para Europa, Oriente Médio e África, Bank of America
Sobre subsetores de tecnologia:
“Vimos o retorno de grandes operações de M&A em tecnologia em 2025 e esperamos a continuidade dessa tendência em 2026. Além da inteligência artificial, onde houve atividade significativa, os subsetores mais ativos incluem cibersegurança, software industrial, foodtech e games.”
Di Yu, sócio, White & Case
Sobre negócios em Tecnologia, Mídia e Telecomunicações:
“A queda das receitas de publicidade e a necessidade de engajar tecnologias de IA vão impulsionar a demanda por novo capital, resultando em maior atividade de M&A voltada à consolidação para sobrevivência, especialmente entre empresas de publicidade e mídia tradicional. Além disso, a disputa por direitos de transmissão esportiva tende a se intensificar com a entrada de novos competidores. No setor de games, espera-se que a IA aumente a eficiência na criação de conteúdo, o que tem atraído cada vez mais investimentos de private equity.”
Patrik Czornik, chefe de telecomunicações para Europa, Oriente Médio e Áfric, JPMorgan Chase
Sobre telecomunicações:
“Houve um aumento no nível de diálogos e atividades de M&A no setor de telecomunicações em 2025, e muitos deles podem se converter em transações no próximo ano. Em vários mercados europeus com quatro players, agentes estratégicos avaliam cenários de consolidação, que oferecem oportunidades de criação de valor e podem estimular investimentos em infraestrutura.”
Alexander Thomas, chefe de infraestrutura de comunicações para Europa, RBC Capital Markets
Sobre infraestrutura digital:
“As necessidades de capital das grandes plataformas de data centers são sem precedentes, e esperamos que isso volte a impulsionar captações relevantes de capital próprio e dívida em 2026, testando a profundidade da liquidez em alguns mercados. Os investidores terão um amplo leque de opções para alocar capital, e as plataformas de data centers precisarão se diferenciar pela gestão da cadeia de suprimentos, execução da construção, acesso à energia, mix de clientes e disciplina de preços. Esperamos um 2026 muito movimentado.”
Jake Henry, co-líder global da prática de M&A, McKinsey
Sobre setores em consolidação:
“Energia e materiais, globalmente, devem continuar a registrar muita consolidação. Na parte de serviços de tecnologia, haverá bastante dinamismo. Também espero continuidade no volume de negócios no setor bancário, tanto na consolidação regional nos EUA quanto na Europa. A consolidação entre as 20 maiores farmacêuticas pode entrar na pauta em 2026. Podemos ver algumas operações de grande porte em dispositivos médicos.”
Ed Wittig, co-chefe de M&A na Ásia-Pacífico, Goldman Sachs
Sobre negócios na Ásia:
“Esperamos que 2026 seja um ano forte para a atividade de M&A na região Ásia-Pacífico, liderada por mercados como Japão e China. Um número crescente de empresas e fundos de private equity está se preparando ativamente para negociar. Embora o sentimento tenha melhorado claramente, a questão central será quanto dessa confiança se traduzirá, de fato, em negócios concluídos.”
S. Sundareswaran, chefe de M&A na Índia, Morgan Stanley
Sobre o mercado indiano:
“Empresas domésticas, apoiadas por posições de capital sólidas e maior confiança, estão se consolidando no mercado interno e buscando oportunidades transfronteiriças para destravar sinergias. O interesse estratégico de investidores estrangeiros cresce à medida que a Índia continua se destacando entre os mercados globais de crescimento, atraindo grandes players internacionais. O private equity segue como um forte motor, com fundos líderes, veículos soberanos e investidores previdenciários aumentando gradualmente a participação da Índia em seus ativos sob gestão. O acesso a financiamento, tanto em capital próprio quanto em dívida, nos mercados indiano e offshore, reforça ainda mais esse movimento.”
Jan Olsson, CEO da região nórdica, Deutsche Bank
Sobre M&A nos países nórdicos:
“Em 2025, vimos várias empresas dos EUA adquirirem ou comprarem participações em companhias nórdicas, mas menos movimentos no sentido inverso. Esperamos ver mais empresas nórdicas aproveitando seus balanços robustos para fazer aquisições no exterior no próximo ano. Empresas, especialmente nos setores de saúde, industrial e tecnologia, também buscam aquisições complementares, com valores típicos entre € 1 bilhão e € 5 bilhões.”
Conrad Gibbins, co-chefe de upstream nas Américas, Jefferies Financial Group
Sobre petróleo e gás:
“Espero que possamos ver uma ou duas megafusões sob esta administração, rivalizando com algumas das maiores já realizadas no setor. O sentimento dos investidores é amplamente favorável, o ambiente regulatório é positivo e a escala nunca foi tão crítica. A exploração é cara em um mundo de disciplina de capital, e o M&A é relativamente direto.”
Dirk Lievens, copresidente do grupo global de instituições financeiras, Goldman Sachs
Sobre o setor financeiro:
“A consolidação é esperada, especialmente entre gestores de ativos alternativos e negócios tradicionais, à medida que os alternativos buscam comprar ou se associar para ganhar acesso à distribuição. A reprecificação das ações de bancos e a maturação das fintechs reduziram os diferenciais de valuation, o que pode tornar viáveis negócios em wealthtech ou plataformas de negociação. Espera-se continuidade da consolidação entre seguradoras de médio porte, e o M&A entre bancos e seguradoras deve persistir apesar dos desafios regulatórios.”
Saba Nazar, presidente global de financial sponsors, Bank of America
Sobre saídas do private equity:
“Ao olharmos para 2026, há grande foco na retomada do mercado de IPOs. Os mercados acionários e de ofertas iniciais nos EUA tiveram desempenho forte em 2025, o que levou ao retorno efetivo de processos de dupla trilha, após uma longa pausa em que as aberturas de capital não eram realmente viáveis.”
Luca Destito, co-chefe de private equity na Europa, Lone Star Funds
Sobre devolução de capital:
“Muitos fundos levantados há cinco anos ou mais já estão amplamente investidos, o que aumenta a necessidade de devolver capital aos investidores para que possam reciclá-lo em novas safras. Esses fatores, em conjunto, sustentam maior atividade nos próximos dois a três anos.”
Ivano Sessa, co-chefe de private equity na Europa, Bain Capital
Sobre as condições na Europa:
“Está bastante claro para mim que existem condições para uma atividade robusta e sustentada de M&A na Europa em 2026, por alguns motivos. O primeiro é a força do mercado de financiamento, com uma política monetária favorável à medida que os juros caem. Além disso, há um bom nível de apoio fiscal na Europa, em especial de alguns governos, em gastos com infraestrutura e defesa.”
-- Com a colaboração de Stefani Reynolds.
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