Bloomberg Línea — Pioneira nos fundos evergreen para private equity, a gestora global Partners Group acredita que esse é o tipo de fundo que mais deve crescer na indústria nos próximos anos.
A estrutura de fundos abertos no mercado privado foi iniciada há 20 anos na asset e atualmente representa um terço dos US$ 174 bilhões de ativos sob gestão (AUM) da casa.
O produto permite acesso ao mercado de private equity de forma mais dinâmica, semelhante ao que se observa no ambiente listado.
Diferentemente de veículos tradicionais para mercados privados, em fundos evergreen o investidor tem janelas de entrada e saída flexíveis, nas quais é possível aplicar e retirar recursos de forma contínua.
“O grande impulsionador do crescimento futuro [da gestora] virá dos fundos evergreen”, afirmou Adam Howarth, sócio e co-head de portfólios na gestora global Partners Group, em entrevista à Bloomberg Línea, em passagem por São Paulo.
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De acordo com o gestor, o formato proporciona diversificação por setor, geografia, tamanho de posição e ano de investimento — o que o mercado chama de vintage year. Howarth defende que a diversificação por vintage year dilui o risco de entrada no ciclo de investimento em um mau momento.
“O período médio de retenção em private equity é de cerca de cinco anos. Portanto, um fundo evergreen bem diversificado deve ter quase 20% de renovação ao ano. Isso é saudável e importante nesse formato, pois nos ajuda a otimizar o desempenho, na construção do portfólio e na gestão de liquidez”, avaliou.
São condições que atraem tanto investidores institucionais, que estão acostumados a investir em private equity, quanto aqueles do segmento wealth, englobando clientes individuais de alta renda e family offices.
Embora o Partners Group já operasse com esse formato há duas décadas, foi apenas nos últimos anos que o mercado mais amplo começou a reconhecer seus benefícios.
A demora, segundo Howarth, ocorreu porque o setor estava “apegado” ao modelo tradicional, em uma indústria não acostumada a inovações.
“O fundo evergreen na verdade ajuda o private equity a se comportar mais como o mercado aberto – é por isso que ele ressoa muito no canal de wealth. Mas acredito que cada vez mais investidores institucionais estão agora olhando ao redor para as possibilidades e encontrando alternativas para seus portfólios.”
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Outro ponto que favorece o mercado é o cenário macroeconômico.
O executivo afirmou que o segundo semestre de 2024 marcou o início de uma normalização global, após dois anos de contração no mercado de private equity. A melhora veio após o Federal Reserve (o banco central americano) sinalizar que não aumentaria mais as taxas de juros.
A tendência de queda nos juros dos EUA trouxe maior clareza sobre o custo de financiamento das empresas, que já caiu cerca de 200 pontos-base em um ano, segundo estimativas do gestor. Junto à estabilização da inflação, o cenário para os juros abriu espaço para a retomada de negócios e para novas captações.
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Oportunidade no Brasil
Embora o Partners Group tenha escritório no Brasil há quase 15 anos, historicamente seus mercados mais fortes na América Latina foram Chile, Peru, Colômbia e México, onde fundos de pensão e seguradoras investem com a gestora desde 2008. Nos últimos anos, porém, houve um esforço deliberado de expansão no segmento de wealth.
A expansão no mercado brasileiro de wealth foi viabilizada pela Resolução CVM 175, publicada em dezembro de 2022, que flexibilizou condições de alocação offshore e permitiu a investidores qualificados a possibilidade de aplicar em fundos com 100% do patrimônio no exterior.
Isso permitiu que o Partners Group lançasse um FIM capaz de investir no Partners Group Global Value, fundo evergreen da gestora. A parceria inicial para distribuição foi estabelecida com o Bradesco, com exclusividade até o final de outubro de 2025, com abertura para outros players no início de novembro.
O produto brasileiro oferece acesso a um portfólio que o Partners Group vem construindo desde 2007, com quase US$ 9 bilhões de dólares em ativos. “O fundo proporciona [ao investidor brasileiro] acesso a retornos que investidores ao redor do mundo já têm conseguido desfrutar”, disse.
Apesar do otimismo com o mercado de wealth, há uma limitação para o Partners Group no que representa sua principal fatia de clientes, os investidores institucionais. Isso porque os fundos de pensão brasileiros ainda não podem investir em FIPs de private equity que tenham 100% do patrimônio alocado no exterior.
“Se essa mudança acontecer, acreditamos que o veículo evergreen que temos em vigor será adequado para que também os fundos de pensão construam seus portfólios”, afirmou.
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