Bloomberg — O preço das ações do ABN Amro atingiu o nível mais alto de sua história depois que a nova CEO, Marguerite Berard, anunciou que pretende cortar 5.200 empregos e elevar a rentabilidade.
A nova estratégia — apresentada sete meses após a chegada de Berard, vinda da concorrente francesa BNP Paribas — marca um dos esforços de reestruturação mais amplos do banco holandês desde que o governo voltou a listá-lo no mercado há dez anos, depois do resgate durante o auge da crise financeira.
As ações do ABN Amro subiram até 6,5% em Amsterdã, alcançando o maior nível intradiário desde a oferta pública inicial em 2015. Os papéis acumulam alta superior a 90% neste ano, superando o índice de bancos Stoxx Europe 600.
“Hoje, apresentamos uma estratégia ousada para o próximo capítulo do ABN Amro”, afirmou Berard no comunicado. Embora gestões anteriores tenham criado “uma base sólida” para o banco holandês, “ainda é preciso fazer mais” para aumentar os retornos e a rentabilidade.
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Berard, que sucedeu Robert Swaak em abril e se tornou a primeira mulher a comandar o banco, prometeu reduzir custos e otimizar a alocação de capital para ampliar a lucratividade.
Ela já iniciou a reestruturação na instituição, sediada em Amsterdã, o que resultou na eliminação de cerca de 1.000 vagas de tempo integral neste ano. No início do mês, também anunciou a maior aquisição feita pelo ABN Amro desde que voltou à bolsa há uma década.
Segundo o comunicado, o banco holandês pretende elevar o retorno sobre o patrimônio (ROE) para pelo menos 12% em 2028, além de buscar uma relação entre despesas e receitas inferior a 55%.
A redução líquida de quase 20% no número de cargos em comparação com o total de funcionários do ano passado deve ser concluída nos próximos três anos, sendo que metade ocorrerá por meio de rotatividade natural, informou o ABN Amro em nota nesta terça-feira (25).
Berard quer reforçar as áreas de crédito imobiliário e gestão de patrimônio, ao mesmo tempo em que se desfaz de negócios que não são rentáveis.
O banco também acertou a venda da unidade de empréstimos pessoais Alfam para o Rabobank e disse que avalia terceirizar o negócio de cartões de crédito International Card Services BV.
O ABN Amro vai reduzir a participação da divisão de corporate banking no total de ativos ponderados pelo risco — medida que determina a solidez de capital do banco — para cerca de 50%.
Os ativos ponderados pelo risco da unidade serão reduzidos em € 10 bilhões, em parte por meio da melhoria na qualidade dos dados subjacentes, afirmou a instituição.
“Nosso plano tem base sólida em todas as nossas unidades de negócios”, disse Berard em entrevista, citando o potencial de aumentar a colaboração entre o banco corporativo e a área de gestão de patrimônio.
O acordo de € 960 milhões para adquirir o NIBC Bank da Blackstone, já anunciado anteriormente, ampliará a escala do ABN Amro nos Países Baixos. O banco também concluiu recentemente a compra da gestora alemã Hauck Aufhäuser Lampe.
A instituição afirmou nesta terça-feira que pretende distribuir até 100% do capital gerado entre 2026 e 2028. O banco quer manter seu índice CET1 — principal medida de força financeira — acima de 13,75%.
Os cortes de vagas partirão de uma base de 27.500 empregos, incluindo funcionários das empresas adquiridas. As áreas de prevenção à lavagem de dinheiro, atendimento ao cliente e operações terão reduções de cerca de 35% até 2028. O banco também avalia transferir parte das atividades dessas duas áreas para outros países com custos mais baixos, disse um porta-voz.
O banco afirmou que dará apoio aos funcionários que perderem seus empregos “com um pacote de assistência social robusto, oferecendo suporte financeiro e ajuda na busca de novas oportunidades”.
Segundo o comunicado, as operações do banco estão sendo simplificadas por meio da redução do número de entidades jurídicas, da digitalização de processos, da desativação de sistemas antigos e do uso de inteligência artificial.
O ABN Amro também estabeleceu como meta elevar a receita para mais de € 10 bilhões até 2028. Seus novos objetivos incluem reforçar a posição no varejo bancário holandês e se tornar um “dos cinco maiores bancos privados” da Europa.
Berard conduz o banco em um momento em que o Estado holandês continua a reduzir sua participação acionária. Em setembro, o governo afirmou que pretende diminuir sua fatia no ABN Amro para cerca de 20%, ante os 30,5% anteriores.
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